Aquela noite

Clary, se deixando ficar com a chave, e caindo na cama às duas da manhã,

comportamento que não tinha levantado muitos comentários de sua mãe.

As coisas eram diferentes agora. Ele tinha estado em Idris, o lar dos

Caçadores de Sombras, por quase duas semanas. Ele tinha desaparecido de casa,

sem chance de oferecer uma desculpa ou explicação. O bruxo Magnus Bane

tinha entrado em cena e executado um feitiço de memória na mãe de Simon, que

com isso ela não teria nenhuma lembrança de que ele tinha estado faltando. Ou

pelo menos, não uma lembrança consciente. Entretanto, o comportamento dela

tinha mudado. Ela estava suspeita agora, ao redor, sempre o observando,

insistindo que ele estivesse em casa em certas horas. A última vez ele tinha vindo

para casa de um encontro com Maia, ele tinha encontrado Elaine no saguão,

sentada em uma cadeira encarando a porta, seus braços cruzados sobre seu peito

e um olhar de mau disfarçando a raiva em seu rosto.

Aquela noite, ele tinha sido capaz de escutá-la respirando antes que ele

tivesse a visto. Agora ele podia ouvir o leve som da televisão vindo da sala de

estar. Ela devia estar esperando por ele, provavelmente assistindo a maratona de

uma daqueles dramas de hospital que ela amava. Simon fechou a porta atrás dele

e se inclinou contra ela, tentando encontrar energia para mentir.

Era difícil o suficiente não comer ao redor de sua família. Felizmente sua

mãe ia trabalhar cedo e voltava tarde, e Rebecca que ia para faculdade em Nova

Jersey e só vinha para casa ocasionalmente para fazer sua lavagem de roupas, não

estava ao redor frequentemente o suficiente para notar nada estranho. Sua mãe

estava geralmente fora de manhã na hora que ele se levantava, o café e o almoço

que ela adorava preparar para ele, deixado sobre o balcão da cozinha. Ele o

despejava em uma lixeira a caminho da escola. O jantar era pior. Nas noites que

ela estava lá, ele tinha que empurrar a comida ao redor de seu prato, fingir que

ele não estava com fome ou que ele queria levar sua comida para seu quarto,

então ele podia comer enquanto estudava.

Uma ou duas vezes ele tinha forçado a comida para baixo, só para fazê-la

feliz, e depois passava horas no banheiro, suando e vomitando até que ela

estivesse fora de seu sistema.

Ele odiava ter que mentir para ela. Ele sempre tinha se sentido um pouco

triste por Clary, com seu relacionamento atormentado com Jocelyn, a maissuperprotetora mãe que ele tinha conhecido. Agora, o sapato estava calçado em

outro pé. Desde a morte de Valentine, a contenção de Jocelyn sobre Clary tinha

relaxado ao ponto onde ela era praticamente uma mãe normal. Entretanto,

sempre que Simon estava em casa, ele podia sentir o peso do olhar de sua mãe

sobre ele, como uma acusação onde quer que ele fosse.

Endireitando seus ombros, ele largou sua mochila na porta e seguiu para a

sala de estar para enfrentar a ladainha. A Tv estava ligada, as notícias

proclamando. O anunciante local estava reportando uma interessante história

humana — um bebê descoberto abandonado em um beco atrás de um hospital.

Simon estava surpreso; sua mãe odiava o noticiário. Ela o achava depressivo. Ele

olhou em direção ao sofá, e sua surpresa diminuiu. Sua mãe estava dormindo,

seus óculos sobre a mesa ao lado dela, um copo meio vazio no chão. Simon podia

sentir o cheiro dali — provavelmente whisky. Simon sentiu angústia. Sua mãe

dificilmente bebia.

Simon foi para o quarto de sua mãe e voltou com um cobertor de crochê.

Sua mãe ainda estava dormindo, sua respiração lenta e contínua. Elaine Lewis

era uma mulher pequena, com um halo de cabelo escuro cacheado, listrado de

cinza que ela se recusava a tingir. Ela trabalhava durante o dia para uma ONG

ambiental, e a maioria de suas roupas tinham motivos animal nelas. Agora

mesmo ela estava vestindo um vestido tingido com golfinhos e ondas, e um

broche que havia sido uma vez um peixe vivo, embebido em resina. Seu olho

envernizado parecia encarar Simon acusadoramente enquanto ele se inclinava

para enfiar o cobertor ao redor dos ombros dela.

Ela se moveu, em um espasmo, virando sua cabeça para longe dele.

“Simon”, ela sussurrou. “Simon, onde você está?”

Ferido, Simon soltou o cobertor e ficou em pé. Talvez ele devesse acordá-

la, deixá-la saber que ele estava bem. Mas então haveria perguntas que ele não

queria responder e aquele olhar no rosto dela que ela não podia suportar. Ele se

virou e foi para seu quarto.

Ele tinha se jogado sobre as cobertas e agarrado o telefone em sua mesa ao

lado da cama, prestes a ligar o número de Clary, antes que ele até mesmo

pensasse sobre isso. Ele hesitou por um momento, escutando o tom de discagem.

Ele não podia falar sobre Camille; ele tinha prometido manter a oferta da

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