Intervenção

David se levantou e Felipe o ajudou, segurando suas mãos e conduzindo David para fora da água. David não conseguia tirar da cabeça o beijo, o toque e a incerteza sobre seus sentimentos persistiam, mas ele sabia que algo tinha mudado entre eles naquele momento à beira da cachoeira.

         Depois de se vestirem, Felipe se aproximou de David, tirou uma mecha de cabelo de sua testa, se abaixou e deu outro selinho nele.

— Que tal me deixar te levar? Suba nas minhas costas, eu te levo.

David achou a ideia divertida e saltou nas costas de Felipe.

No entanto, mesmo percebendo que Felipe estava carinhoso e descontraído, a ideia de que ele não continuou as carícias, mesmo estando claramente excitado, ainda pairava na mente de David. Ao chegarem em casa, Felipe não aparentava estar cansado. Ele ajudou David a descer e sugeriu que ele tomasse banho primeiro.

Dentro do banheiro, David começou a tomar banho e, ao passar a mão em sua cintura, lembrou da mão de Felipe ali e de como a sensação foi boa. David moveu os lábios em um sorriso ao relembrar de tudo e se perguntou se Felipe tivesse continuado, ele teria conseguido? E porque as sensações com Felipe eram diferentes das que teve quando Santiago o beijou, mesmo quando perdeu o controle, ainda não era a mesma sensação de quando Felipe aprofundou seu beijo.

David terminou o banho e percebeu que não havia levado sua roupa para o banheiro. Ele se enxugou, enrolou-se na toalha e saiu. Ao sair do banheiro, deu de cara com Felipe, que o olhou de cima a baixo. David se apressou e entrou no quarto. Felipe ficou no corredor, olhando para a porta do quarto de David. Mordeu os lábios, olhou para cima e respirou fundo.

Felipe pegou suas coisas e foi para o banho. Ao entrar, ele ainda podia sentir o cheiro de David no ambiente. Ligou o chuveiro, passou a mão pelos lábios sorrindo e pensou:

“Justo você, que resistia à ideia de ter um relacionamento com um homem, está todo bobo assim por um. Mas tudo nele mexe comigo. Eu achei que iria enlouquecer quando ele me beijou, achei que não conseguiria resistir quando senti seu corpo colado no meu. Mas não posso apressar as coisas com ele. Depois de tudo que ouvi ele contar, imagino que seja difícil para ele ir além de beijos e carinhos. Calma, Felipe, espere até ele estar pronto. Você nem sabe se ele sente o mesmo. Talvez tenha sido apenas um impulso. Não estrague tudo.”

Depois de todos aqueles pensamentos, Felipe terminou seu banho e saiu, secando o cabelo. Ele estava apenas de bermuda e sem camisa. David já estava na sala, esperando. Felipe o viu todo arrumado e elogiou:

— Uau, você está lindo. Assim, minha irmã também vai se apaixonar.

Felipe sorriu enquanto continuava a secar o cabelo. David levantou uma sobrancelha ao perceber o que ele havia falado e questionou:

— Também?

Felipe percebeu que tinha falado demais e apontou para o quarto, dizendo que ia trocar de roupa e não demoraria. David sorriu, balançando a cabeça e foi em direção ao sofá para pegar seu celular. Ele viu que havia mensagens de Santiago e Penélope. Respondeu a todas; a maioria delas era de Santiago, perguntando se estava tudo bem. David suspirou e explicou que estava treinando durante a tarde, por isso não pôde responder.

Felipe saiu do quarto com outra jaqueta nas mãos e a entregou a David, dizendo que poderia fazer frio quando voltassem. David pegou a jaqueta e olhou para o pulso de Felipe, lembrando do sonho em que via uma tatuagem no pulso da pessoa do sonho. Sua expressão mudou e Felipe percebeu.

— Alguma coisa errada? — perguntou Felipe.

David tentou disfarçar, mas Felipe percebeu que algo o entristeceu.

— Não, está tudo bem — respondeu David, tentando esconder seus pensamentos.

Eles subiram na moto e David colocou as mãos nos ombros de Felipe para segurar. Felipe retirou as mãos dele de seu ombro e as colocou em volta de sua cintura.

— Segure bem, gatinho, ou você pode cair — alertou Felipe.

David apertou um pouco as mãos e sorriu. Felipe ligou a moto e saiu. Sabendo que David nunca tinha andado de moto antes, ele dirigiu um pouco mais devagar do que o habitual e, de vez em quando, colocava a mão sobre as mãos de David. Ele sentia seu coração aquecer com esses gestos de carinho de Felipe. Quando o conheceu pela primeira vez, com aquele ar arrogante e impulsivo, nunca imaginou que Felipe pudesse ser tão doce e fofo.

Em meio a todos aqueles pensamentos, havia um que estava incomodando David.

“Será que estou me apaixonando por ele? Será que consigo ter um relacionamento depois de tudo? E quanto ao homem do sonho, o que devo fazer? Não pense nisso, David, viva o momento, quando chegar a hora, você decide o que fazer”, pensava David enquanto estava agarrado a Felipe.

Chegando próximo às casas, as pessoas cumprimentavam Felipe e olhavam para o rapaz bonito em sua garupa. Alguns comentavam se era alguém novo na alcateia, outros se perguntavam se era o namorado de Felipe, entre outros comentários. Felipe ouvia tudo e se divertia com as observações.

Ao chegarem na casa dos pais de Felipe, foram recebidos por Ana, que já começou dando bronca em Felipe e o chamando de filho ingrato. As brincadeiras e conversas fluíam durante o jantar e David se sentou ao lado de Felipe. Enquanto jantavam, Ana lançava olhares discretos para os dois, observando a forma como Felipe olhava para David. Ela até acenou disfarçadamente para Rômulo, que também passou a observar.

David compartilhou com todos a história de quando chegou à casa de Felipe e todos sorriram, fazendo brincadeiras com Felipe. Era um momento de descontração e alegria que David nunca tinha experimentado antes, o que o deixava verdadeiramente feliz. Ana percebeu que Felipe e David estavam se dando bem e agindo com seu instinto de mãe Alfa, resolveu testar os dois.

— Então, Felipe, alguma novidade sobre o seu predestinado?

Todos olharam para Ana, sem entender a razão por trás daquela pergunta. David parecia ter ficado triste e Felipe olhou para ele de lado antes de voltar sua atenção para sua mãe.

— Não e sinceramente, não estou procurando. Há outra pessoa à qual estou dedicando minha atenção no momento — respondeu Felipe.

O clima esfriou de repente após aquela pergunta. Todos já haviam terminado de comer e Ana pediu a ajuda de Felipe para retirar a mesa. Felipe começou a ajudar a limpar a mesa, enquanto Rômulo chamou David para sentar-se na sala com ele e Virgínia. Felipe estava de mau humor na cozinha e David podia perceber, viu até que Ana o chamou para conversar lá fora.

— Você está apaixonado pelo David, não está? — Ana foi direta.

— Sim. Não sei, mas a senhora estragou o clima perguntando sobre o meu predestinado. Por que fez isso? — Felipe estava bravo.

— O que garante a você que ele não seja o seu predestinado? Pense um pouco, Felipe. Você nunca se apaixonou por um rapaz antes e está mais do que óbvio que você está totalmente atraído por ele. Pelo que você me contou, a única pista que você tem é que ele é um Alfa e do nosso clã, e isso se encaixa com a descrição do David também. Você se esqueceu que ele é um Twinke? Isso pode ser o motivo de você não ter visto o rosto no sonho, lembra-se disso? — explicou Ana.

Felipe ficou atordoado com o que sua mãe havia acabado de dizer.

— Como posso confirmar se é ele? — Felipe questionou.

Ana, vendo a inquietação do filho, respondeu:

— Bem, ou você pergunta diretamente se ele já sonhou com o seu predestinado, ou você espera. Pode acontecer que, quando você conhece a sua alma gêmea, seu sonho deixe de ser borrado. Mas o mais importante é que você não deve deixar de viver o que está sentindo agora pelo David. Se vocês não forem almas gêmeas um do outro, em algum momento vocês se separarão, mas se forem e não viverem o momento presente, podem se arrepender mais tarde. Quanto ao que fiz hoje, vai ajudar a dar um empurrãozinho, acredite.

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