Misterioso

Felipe saiu do escritório de seu pai com desgosto. Ele havia relatado tudo o que tinha observado na mansão de Santiago e o que foi reportado por outros vigias, no entanto, seu pai estava evitando confrontar Santiago.

Durante os dias em que vigiava a casa de Santiago, Felipe percebeu a presença de um estranho no local. Esse indivíduo ocasionalmente passeava pelo jardim ou tomava sol na sacada. Felipe não podia se aproximar muito, pois poderia ser detectado por algum vampiro. Apesar da excelente visão dos lobos, ele ainda não conseguia ver claramente o rosto daquele homem.

O sol já estava se pondo, e naquele dia era a vez de Virgínia assumir o posto de vigia durante a noite. Felipe decidiu que também daria uma olhada à noite. Ele se encontrou com sua irmã e mais um amigo, e juntos se dirigiram à casa de Santiago.

Eles se posicionaram em uma árvore que tinha vista para a janela onde o homem misterioso costumava aparecer. A mata estava a uma distância segura, evitando serem notados. A única coisa que Felipe não gostou foi o local que sua irmã escolheu, pois havia uma árvore que obstruía parcialmente a visão da sacada.

Virgínia retirou dois binóculos de sua mochila e entregou um a Felipe, que a olhou intrigado.

— O quê? O fato de termos visão noturna e uma visão de longo alcance, não significa que não podemos usar equipamentos de apoio! — disse Virgínia.

Felipe sacudiu a cabeça com um sorriso.

— Só você mesmo para pensar nisso, maninha.

A ideia de Virgínia não foi ruim, pois puderam observar melhor o local. Logo perceberam uma movimentação em uma sala no andar de baixo. Estavam presentes na sala, Santiago, Penélope e outra pessoa que ficou próxima à porta, e não puderam ver o rosto dela, pois estava em um ponto cego.

Depois de algum tempo de conversa, a pessoa na porta entrou e se sentou de costas para a visão deles. Eles conseguiram perceber a movimentação de Penélope enquanto Santiago estava encostado na mesa, observando-os. Penélope pegou uma seringa e começou a tirar sangue daquele homem na cadeira.

— Está coletando sangue — sussurrou Virgínia baixinho.

Felipe não disse nada e apenas observou a cena. Depois de todo o processo concluído, o homem saiu da sala, deixando Penélope e Santiago sozinhos. Felipe percebeu a empolgação da bruxa e teve um pressentimento em seu coração.

Logo depois, no andar de cima, as luzes de um dos quartos foram acesas; era o quarto daquele homem que estava no escritório antes. Felipe também notou uma movimentação maior de vampiros na área externa e decidiu que seria melhor se comunicarem por meio de telepatia, o que era comum entre os lobos.

Felipe continuou observando o homem, que se deitou e logo se levantou, parecendo inquieto. Algumas imagens podiam ser vistas, mas não com clareza, devido a alguns galhos que obstruíam a visão de Felipe. O homem parecia desconfortável e tirou sua camisa, chamando a atenção não apenas de Felipe, mas também das outras duas pessoas que estavam ali.

Ele separou os lábios, admirando o corpo do homem na varanda. Sentiu seus batimentos cardíacos acelerarem, algo que jamais havia acontecido antes. Ele estava acostumado a nadar no rio com seus amigos, até mesmo, nus e nunca havia sentido nada ao ver o corpo de outro homem. No entanto, naquele momento, estava realmente admirando aquele homem.

Felipe foi tirado de seus devaneios quando sua irmã logo exclamou eufórica:

— Maninho, encontrei seu cunhado! Que barriguinha é aquela, nossa!

Felipe olhou para sua irmã com desgosto e não entendia por que ficou tão rabugento com o comentário dela. Afinal, ele não tinha ciúmes de sua irmã e não tinha nada com aquele cara. Mais uma vez, Felipe se sentiu irritado por não reconhecer seus próprios sentimentos.

— Não, não entre. Quero continuar observando você, meu futuro marido — provocou Virgínia.

Felipe revirou os olhos com o exagero de sua irmã e se concentrou novamente no homem. Ele viu o homem entrando e trancando a porta da sacada, e nesse momento, era como se ele estivesse olhando diretamente para Felipe, o que o fez engolir em seco. Outra luz se acendeu, e Felipe tentou não deixar sua imaginação fluir ao deduzir que o homem tomaria banho.

Pouco tempo depois, Felipe percebeu um cheiro diferente. Ele olhou ao redor na mata e perguntou telepaticamente:

— Vocês também estão sentindo esse cheiro?

As duas pessoas que estavam com ele, o olharam sem entender.

— Não estou sentindo nada. Que cheiro você está sentindo?

— Cheiro de um lobo. Nunca senti esse cheiro antes. É... é diferente dos outros cheiros de Alfa que já senti. Esse é muito agradável — confessou Felipe, sentindo-se constrangido com o olhar que recebeu dos dois ao seu lado, que estavam até mesmo de boca aberta.

Ele então se virou, mas manteve um pensamento para si:

“O cheiro está vindo dele? Ele pode ser um lobo? É isso que Santiago vem escondendo? Se for isso, por que o cheiro dele não me irritou como os outros Alfas?”

Felipe sacudiu a cabeça para dissipar seus pensamentos e viu que o homem havia saído do banheiro envolto em uma toalha e se dirigia à porta, mas segurava seu abdômen como se estivesse com dor.

Ele desistiu de abrir a porta e se sentou na cama, como se estivesse esperando a dor passar. Depois de um tempo, o homem parecia mais calmo e se levantou, dirigindo-se novamente ao banheiro. Mil perguntas passavam pela cabeça de Felipe: quem era aquele homem? Por que seu corpo reagia ao seu cheiro dele e por que Santiago o estava escondendo? Ele precisava de respostas, e o fato de não poder investigar estava o deixando irritado.

“Eu preciso descobrir quem você é, desconhecido, e por que você mexe tanto comigo” pensou Felipe, determinado a encontrar respostas para os mistérios que cercavam aquele homem.

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