Através Dos Tempos
Anos antes em algum lugar de Londres...
Caminho pelo corredor, meus pensamentos me levam até anos atrás quando eu era jovem...
Tempos idos de momentos maravilhosos.
Ainda consigo recordar claramente dela saindo de seu quarto e correndo por estes mesmos corredores.
Me pego sorrindo. Balanço a cabeça para afastar tal lembrança e volto a caminhar em direção a porta por onde a iluminação invade o corredor.
Assim que alcanço meu destino posso ver duas crianças no tapete roto em frente à lareira com seus brinquedos espalhados. Me permito encostar no batente da porta e observá-los por algum tempo.
Quem percebe minha presença é a pequena menina de cabelos escuros e luminosos olhos verdes.
– Papai! Já viestes ler nossa história?
O menino me recebe com um sorriso e corre para recolher seus pertences. Juntos terminam rapidamente e já correm para suas camas e se jogam nelas.
Vou até a estante e pego um livro de capa vermelha já muito gasto, caminho até a poltrona que fica no vão das camas, me sento e olho para seus pequenos semblantes iluminados pela curiosidade.
A leitura perdura por um tempo e quando ergo meus olhos, vejo os dois já derrubados em seus travesseiros de pena. Ergo meu corpo cansado e depois de beijar suas faces, guardo o livro e deixo um dos abajures aceso.
Caminho para fora do quarto e paro em frente à outra porta, entro neste aposento olhando tudo ao redor. Sobre a penteadeira ainda tem o vidro de perfume e as maquiagens que usava.
Ainda tem como sentir seu perfume no ar.
Tudo está em seu lugar como se a qualquer momento ela fosse romper casa adentro e brigar por eu estar em seu quarto.
Vejo seus vestidos dispostos nas araras e estendo meus dedos para tocar o tecido num gesto de carinho.
Apesar de todas as mudanças que ocorreram, não permiti que nada fosse mexido, minha mãe gostava de sentar aqui e conversar com as paredes numa eterna saudade. Quando ela se foi, proibi qualquer um de entrar e apenas uma empregada realizava a limpeza.
Pela janela avisto o jardim cuidado com esmero e fico recordando do dia que escalei sua janela e vim visitar seu quarto sem meus pais saberem.
Como senti sua falta por todos esses anos. Meu maior arrependimento foi ceder à pressão de meus pais.
Minha vida foi recheada de "se". Vivo o que chamo de meia vida depois que ela se foi. Vi meus amigos me abandonarem, até que fui me desculpar por todas as besteiras que fiz.
Minha mãe se foi rodeada por uma dor absurda e meu pai não suportou vê-la sofrendo. Dois anos depois a seguiu em seu descanso.
Fiquei casado com uma mulher que não suportava, vivíamos como quase todos os casais da época: de aparência.
O que salvou minha vida foi o nascimento de meus filhos e o tempo que fiquei fora na guerra.
Meus pés me levam até a penteadeira, vejo a escova que ela usava ainda com alguns fios de cabelo grudados. Ainda posso recordar vividamente do seu longo cabelo castanho solto ao vento, adornado por laços e fitas.
Deixo-me levar no tempo e permito que uma lembrança doce invada meu coração. Ela sentada ao piano com minha mãe ao seu lado conseguindo tocar as primeiras notas de alguma canção, seu sorriso de felicidade ao executar sem erros o trecho.
Meu pai com seu cachimbo, sentado a mesa da biblioteca, recostado, de olhos fechados apreciando as notas que saiam de suas adoráveis mãos.
Minha mãe e seu sorriso jovial, apreciando a melodia e ajudando-a a terminar a primeira parte.
Recordo do seu grito de alegria ao correr ao meu encontro e se jogar em meus braços. Mesmo com o ar de reprovação de meus pais consegui deixar seu riso me contagiar e sentei próximo ao piano para que ela tocasse novamente.
Deixo aquele quarto para trás e caminho para a parte de baixo do grande casarão. Vou até a biblioteca e meus olhos percorrem as paredes até encontrar o retrato da bela mulher sentada na estufa da casa, de costas, os cabelos soltos, aparecendo apenas o delicado perfil.
Não preciso de uma imagem do seu rosto para recordar suas feições. Elas ficaram gravadas em minhas retinas.
Escuto um barulho e ao me virar me deparo com a minha amiga Alicia ajoelhada em frente ao grande espelho. Seu pranto silencioso é sofrido, mas não posso fazer nada.
Ela se foi como uma brisa que acariciou meu rosto durante o verão.
Vejo minha amiga ali a estender sua mão num pedido mudo, mas o espelho não reage de forma nenhuma. Todos na casa falam que Alicia perdeu a sanidade quando tudo aconteceu. A perda e desilusão fez com que ela não pudesse mais fazer nada além de esperar a volta de sua grande amiga.
Me aproximo e seus grandes olhos castanhos se voltam para meu rosto, perdidos e acusadores.
Ajudo-a se erguer e com paciência caminho em direção ao seu quarto. Ela se joga em sua cama e quando estou fechando a porta sua voz surge num murmúrio baixo:
– O que será de mim sem a minha amiga? O que acontecerá comigo se ela não voltar? Porque a mandastes embora?
No mesmo instante ela se encolhe virando de costas no leito me deixando ali sem saber o que lhe responder.
Ela se foi. Esta é a única verdade que me sustenta. Ela voltou para seu lugar e deixou para trás pessoas que a amavam verdadeiramente.
Deixo o quarto e quando estou fechando a porta escuto seu suspiro triste:
– Porque não voltastes para me buscar? Porque não viestes Melissa?
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Atualizado até capítulo 51
Comments
Monica De Meireles
vamos esperar esclarecimento e fotos
2024-04-17
0
Rosiglei Muniz
Não entendi, quase nada...vamos ver que. se desenrola...
2022-08-15
6
Marceli Nascimento
difícil de entender🤔🤔🤔 ,mas vamos em frente
2022-08-04
1