Capítulo 6

Acordo com a Alicia me chamando. Já me oferece uma bacia com uma jarra de água e fico olhando em seu rosto sem entender. Ela pacientemente explica:

– Deves lavar seu rosto e se refrescar. Escovar seus dentes e depois irei ajudá-la a vestir-se para o café da manhã.

Pego a jarra e vejo que ao lado da bacia tem um pano branco e uma barra de sabonete, improviso minha higiene e assim que termino vejo que ela já estendeu um vestido de pêssego com babados sobre a cama.

Coloco a combinação, meias e espartilho e quando ela o aperta demais não consigo ficar quieta.

– Alicia não aperte demais, por favor. Ontem quase vomitei o jantar.

– Certo senhorita, mas deve se acostumar com ele. Irei apertá-lo aos poucos. – ela fala e sinto que o ar circula em meus pulmões.

– Obrigado. – falo e ela me ajuda a colocar o vestido.

Ela me observa por alguns segundos e logo começa a arrumar meu cabelo num coque elaborado e deixa pequenos cachos soltos em volta do meu rosto.

Adorna minha orelha com brincos e quando vai colocar um colar nota o que sempre uso e não acrescenta mais nada.

Ela faz uma maquiagem leve, apenas um leve rosado nos lábios.

– Já está pronta e pode descer senhorita. – fala

Sigo para a sala de jantar e vejo o aparador cheio de travessas e o Sr. Joseph sentado à cabeceira da mesa.

– Bom dia tio Joseph. – falo assim que entro na sala.

– Bom dia Melissa, espero que tenha dormido bem. – ele fala levando sua xícara aos lábios – Sirva-se do que quiser.

Vou até o aparador e vejo que tem ovos de vários tipos, pães, queijo, presunto, frutas, café, leite e chá. Uma variedade enorme de comida. Pego ovos, pão e presunto, me sirvo de leite e café.

Sento no mesmo lugar do dia anterior e me permito comer e ainda me servir de mais um pouco de café. Assim que termino tio Joseph me fala:

– Terminastes? Então me acompanhe até a biblioteca, precisamos conversar.

– Tudo bem. – levanto da mesa e o sigo.

Assim que abre as portas sinto o mesmo esplendor de quando a vi pela primeira vez.

Ele me leva até a mesa e indica uma das cadeiras a frente da mesma. Sinto a formalidade da situação e espero ele começar a falar:

– Bem, pensei muito ontem antes de dormir e percebi que preciso lhe deixar ciente de algumas coisas. No inicio podes sentir dificuldade, mas sei que conseguirás se sair bem. Tente não falar que estudou e que lê. Não utilize diminutivos nos nomes, a não ser que a pessoa lhe peça para chamá-la assim. Cuidado com as damas mais velhas elas são sugestivas e nem sempre para coisas boas. Se algum cavaleiro pedir para lhe falar lembre-se de chamar sua tia para acompanhá-la, não é correto conversares a sós com homens. – ele respira fundo – Se após a festa de hoje receberes algum convite para baile ou passeios converse com Yone antes de aceita-los. E mais importante: cuidado, não os deixe desconfiar que não pertence a este lugar e mantenha-se atenta a tudo ao seu redor.

Eu apenas absorvo todas as suas palavras e concordo com um aceno de cabeça.

– Quero que saiba que hoje vocês irão à casa da Duquesa de Williams. Ela é uma mulher influente, que gosta de dar festas e conhecer pessoas. Sua filha é a debutante mais cotada nesta temporada. Eu estou tentando arranjar um casamento entre Benjamim e Abigail Williams. Ele irá vê-la hoje e espero que se entendam. Bem, vá para seu quarto e assim que minha Yone estiver pronta mandarei chamá-la.

Estou saindo da sala quando ele me chama:

– Melissa não quero exigir demais de você neste momento, mas espero que não crie expectativas com relação a Benjamim. Perante todos vocês serão primos e você não possui dote. Preciso que meu filho se sacrifique pelo bem da família. Dependemos dele.

Concordo com um aceno e subo as escadas como uma sonâmbula. Sobre a minha cama encontro uma sombrinha e um leque, todos da cor do meu vestido.

Sento na poltrona com o livro nas mãos e me permito esquecer de tudo neste momento. Sinto meu coração apertado, mas não posso fazer nada. Tio Joseph percebeu o clima que surgiu e está defendendo seu território.

As páginas a minha frente não são lidas. E fico pensando o que fazer quando o encontrar, como agir. O que me tira desse estado é uma leve batida na porta.

Abro uma fresta e me vejo frente a frente com os olhos que me trazem lembranças apavorantes, mas que me transmitem deleite neste momento.

– Oi Melissa, bom dia. Minha mãe pediu para avisá-la que iremos sair em alguns minutos. Estás pronta?

– Sim, vou pegar meu leque e sombrinha e já desço.

Deixo a porta aberta e quando me viro para sair vejo que ele adentrou o quarto e está segurando o livro em suas mãos.

– Eu realmente gosto deste livro. Ele me faz acreditar em amores impossíveis.

Ele lê um trecho. Seu caminhar é lento e sua voz faz meu coração disparar. Respiro pela boca e quando termina não consigo desviar meus olhos dos seus. Ele estende seus dedos, mas antes de tocar meu rosto Alicia entra correndo.

– Senhor Benjamim! A senhora sua mãe está a ponto de subir as escadas a sua procura. Por favor, desça logo. – ele devolve o livro a seu lugar e sai do quarto, tento seguir seus passos, mas minhas pernas estão moles – Senhorita se apresse e, por favor, lembre-se o Senhor Benjamim é seu primo, não se apaixones.

– Não se preocupe Alicia. – saio do quarto e quando estou descendo as escadas o vejo ao final dela me esperando – Já é tarde demais para evitar. – falo num sussurro.

Meu coração está saltando em meu peito. Quando termino de descer a escada vejo seu sorriso de canto e dou um suspiro audível o suficiente para tia Yone questionar.

– Por que suspiras querida?

Benjamim me olha curioso, querendo saber minha resposta.

– Estou feliz por estar aqui. Poder sair com a senhora. Me sinto privilegiada.

Dou um sorriso e vejo que consegui disfarçar a verdade. Uma carruagem nos aguarda e um rapaz nos ajuda a subir. Apesar de ver alguns carros pelas ruas ainda predomina as carruagens.

O percurso é feito em absoluto silêncio e tudo que vejo são as paisagens lindas que surgem na janela. Quando a velocidade reduz significativamente vejo tia Yone se dirigir ao seu filho:

– Benjamim, Abigail irá pedir para passearem nos jardins. Espero que não me decepciones e tente corteja-la adequadamente.

Ele assente e olha para mim, não consigo disfarçar minha decepção. Seus olhos brilham de alegria. Será que ele sente prazer em fazer as pessoas sofrerem?

Desço da carruagem com sua ajuda e subimos as escadas em direção às portas duplas. Antes de batermos no alpendre a porta se abre e uma senhora elegantemente vestida surge ao lado de uma empregada em uniforme impecável.

Ela tem um ar afetado e assim que reconhece tia Yone a puxa para beijar seu rosto.

– Duquesa de Williams, como estás? – tia Yone pergunta educadamente.

– Vou bem, Sra. Marshall. E quem são estes belos jovens? – pergunta olhando de Benjamim para mim, decepção nubla seu rosto.

– Desculpe minha falta de educação. – minha tia diz. – Este é Benjamim, meu filho. – ele se aproxima da senhora e beija-lhe a mão num gesto de cavalheirismo. – E esta é Melissa, minha sobrinha. – faço uma reverência e seu olhar se torna mais gentil.

– Belos jovens, achei que fossem um casal. – diz

– Não! Como conversamos viemos para que sua neta possa conhecer meu filho. – tia Yone faz questão de ressaltar.

A Duquesa de Williams sorri e pede para a criada ir chamar sua filha enquanto nos acomodamos na varanda.

A criada surge com um carrinho lotado de bolos e doces, chá e refrescos. Assim que termina de nos servir surge uma garota morena, com cabelos bem penteados e usando um vestido verde limão cheio de laços e babados.

Ela é muito bonita e Benjamim também notou, pois seus olhos apreciam a pequena figura. Encolho meus ombros em frustração, mas por sorte ninguém nota.

Abigail nos cumprimenta e senta-se perto de sua mãe. As mulheres mais velhas conversam sobre suas expectativas pela temporada.

Abigail levante e delicadamente se aproxima de Benjamim e apóia seu braço no dele, num convite calado para caminharem. Vejo-os descerem as escadas de acesso aos jardins e uma criada os segue numa pequena distância.

 Enquanto isto dou pequenos goles na xícara de chá em minhas mãos, tia Yone e a duquesa conversam sobre os pretendentes da temporada e sobre vestidos, cores e adornos.

Abigail surge primeiro e passa pelo local sem se importar em falar qualquer coisa. Benjamim surge em seguida e recebe um olhar reprovador de sua mãe. Nada é falado sobre o ocorrido e quando Benjamim lança um olhar irritado para sua mãe que já é o suficiente para ela entender que devemos ir embora.

– Duquesa de Williams, precisamos ir. – diz se despedindo.

Vamos para a saída e assim que a carruagem deixa a mansão tia Yone e Benjamim começam a discutir.

– Filho o que aconteceu? Porque Abigail se retirou daquela forma? – pergunta indignada.

– Ela conversou sobre suas roupas e quais jóias estavam em nossa família. Quando percebeu que me entediava com tal conversa me perguntou se a amava. Fui sincero e disse que não. – vejo minha tia abrir a boca para responder, mas ele não permite – Ela não tem ambições, planos para o futuro, sonhos. Uma garota deveras fútil mamãe, não serve para ser minha esposa.

Assim ele dá o assunto como encerrado e vamos em silêncio até a casa.

O jantar acontece num clima gelado e quando acaba vejo tio Joseph e Benjamim irem para a biblioteca e logo tia Yone se junta a eles. O assunto deve ser sério, pois não retornam logo e acabo indo para meu quarto.

Estou lendo quando escuto um barulho na vidraça. Abro as portas que dão para a pequena sacada e me assusto com quem encontro ali.

– Benjamim! – digo espantada.

– Shiu. – ele pede nervoso. – Não podem saber que estou contigo.

Concordo com a cabeça e ele diz:

– Melissa, – sua voz tem um toque sedutor, me afasto e acabo entrando em meu quarto, ele caminha na minha direção e quando vejo estou encurralada em minha cama. Bato as pernas na cama e sento-me, minhas pernas não sustentam meu peso. – Eu gostaria de saber se gostaria de passear comigo no campo amanhã pela manhã. Sei que dirás que não podemos, mas quero muito passar algum tempo contigo. O que achas?

Estou sem ar, faço apenas que sim com a cabeça, mas quero tanto perguntar sobre a conversa com seus pais, saber por que ele falou aquilo sobre a Abigail.

Ele se aproxima e sua voz está ligeiramente baixa e rouca:

– Eu não quero cortejar Abigail. Conversei com meus pais e quero ter tempo para conhecer outras moças. Sabes por quê? – pergunta me seduzindo com o olhar. – Porque estou encantado por ti.

Me assusto com a declaração. Ele pega minha mão e a leva até seus lábios. Sinto o calor deles aquecer minha pele. Esse calor sobe por meu braço e se aloja em meu peito e sinto meu coração disparar.

Ele se afasta soltando minha mão e sai do quarto me deixando sozinha. Me deito novamente e fecho os olhos, fico acariciando o local onde depositou seu beijo...

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Comments

Leia França

Leia França

Nossa autora que livro maravilhoso, vc tem um dom de escrever ......estou amando.... parabéns bjsss

2024-04-20

0

Dayenne Kaster

Dayenne Kaster

sem dúvidas estou amando

2022-02-02

0

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