Capítulo 13

Meu pranto não pode ser visto e sigo para a casa chorando durante todo o percurso. Não quero que me vejam assim. Caminho pelo jardim e me sento no local mais distante e escuro que encontro. Minhas lágrimas não cessam.

Não acredito no que ele fez. Ele esteve à noite toda ao lado dela e quando me viu bem veio dar seu show. Agiu como o Ben que tanto temo. Destruiu meu respeito e minha confiança.

Ele sabe que não quero mais ninguém. Desconfiou de mim e de minha palavra. E o pior de tudo, não confiou no nosso amor.

Ouço o som de uma carruagem chegando a toda velocidade, escuto seus sapatos fazerem barulho nos cascalhos do caminho, mas estou segura aqui nesse lugar isolado.

– Melissa! – ouço seu grito ao longe. – Melissa! Onde estas?

Ele entra na casa e depois de alguns minutos volta ao jardim e continua a chamar meu nome. Não quero vê-lo e permaneço em meu esconderijo. Ele vai me encontrar dou um soluço um pouco mais alto e ele silencia por breves segundos.

– Melissa? Onde estas?

Não quero encontrá-lo, saio correndo de meu esconderijo em direção a casa.

– Melissa! Vem aqui! – grita desesperado.

Não olho para trás, subo as escadas correndo e entro em meu quarto. Tranco a porta e vou deslizando até o chão. Enterro minha cabeça em meus joelhos e tento me acalmar. Ouço um barulho dentro do quarto e quando olho para cima o vejo ali, fechando a porta da varanda.

– Mel...

– Saia daqui! – grito. – Não quero falar com você! Não quero te ver e nem ouvir! Não sabe como me magoou. – falo com a voz ressentida.

– Melissa, perdoe-me. Perdi a cabeça quando...

– Benjamim. Já disse que não precisa ter ciúmes de mim. Não deve me cobrar...

– Melissa. Creio ser impossível, pois fazes o mesmo comigo! Só que de maneira menos explosiva. Você não desconta em ninguém suas tristezas, apenas em mim.

– Exatamente! Desconto em você, Benjamim. Já estou consciente de que não temos futuro juntos então não podemos cobrar nada.

– Não é assim, Melissa. Nunca vou conseguir controlar isto. Fiquei furioso quando vi Daniel te olhar com desejo. E você encantada por ele. Pensas que não notei a forma como se escondeu atrás dele. Eu te amo e faço tudo por você. Não me arrependo da briga e faria novamente caso alguém quisesse roubá-la de mim.

– Não confia em mim? – digo magoada. – Me tomar de você? Benjamim, eu te amo! Não acredita? Precisa sair batendo? É você que eu quero. Não ele. – suspiro – Não me faça ter que escolher entre as pessoas, ainda não estou preparada para isso. Sei muito bem o que quero e não é o Daniel.

– Você também se sente... – tentando se explicar.

– Sim, me sinto incomodada. – admito. – Mas acredito em você. Confio no nosso amor. – termino.

Ele me olha por poucos segundos e vejo uma luminosidade tomar seu rosto.

– Vamos fugir! – ele fala com tanta convicção. – Poderemos encontrar um lugar e ficarmos juntos, onde ninguém impedirá nosso amor. Podemos ir agora. Irei trabalhar algum tempo e juntar algum dinheiro. Podemos casar e construir uma família. Mais o que importa é que te amarei a cada dia de nossas vidas. – diz esperançoso.

Como posso fazer isto? Ser egoísta e pensar apenas em mim. O maior empecilho sou eu. Terei que destruir seus sonhos e contar a verdade. Preciso contar a verdade.

Ele me abraça e enxuga minhas lágrimas.

– Por que choras meu amor? – preocupado. – Não gostaste da idéia? – sua voz é triste.

– Be-be- Benjamim... – tento controlar meus soluços. – Te-tenho que lhe co- contar... – minha garganta seca – u-uma co-coisa. – olho para ele e tenho medo da sua reação.

Respiro fundo. Tento achar minha voz e solta a verdade:

– Benjamim eu não sou deste tempo. Nem sou filha do irmão do seu pai ou de qualquer parente distante de seus pais. – vejo seu olhar de assombro.

Ele está segurando minhas mãos e as solta lentamente. Vejo a dor em seu olhar. A dúvida está ali e tento provar o que acabei de revelar.

– Benjamim, você lembra de ter me dito que vim dos seus sonhos? Não foi assim, você me viu no espelho há algum tempo atrás. Apenas não desmenti a sua idéia de ter sido em sonho. Como vim parar aqui não sei explicar, mas aconteceu.

Ele tem medo em seus olhos e isso faz quebrar meu coração.

– Benjamim você precisa entender que só estou te contando isso por saber que...

– Esqueça Melissa, se não queres fugir poder-me-ia dizer vem precisares inventar essa história. – ele me olha com mágoa – Só não sei como acreditar nessa situação toda.

Sabia que seria assim. No fundo eu sabia que ele não acreditaria. Ele precisa de um tempo para aceitar a idéia e depois vou provar que digo a verdade.

– Quero que pense por algum tempo e se quiser te provo que não sou daqui. Quer aceite ou não sou diferente e você sabe disso.

Ele sai do quarto e me deixa ali com todas as dúvidas e inseguranças por ter feito o que fiz. No fundo sei que esperava que ele aceitasse melhor a verdade.

Alicia aparece e me ajuda a trocar de roupa. Seus olhos me observam pelo espelho.

– Senhorita aconteceu alguma coisa? – me pergunta

– Contei ao Benjamim de onde vim e ele não aceitou muito bem.

Nesse momento a ficha cai completamente e percebo que foi uma tentativa de poupá-lo de sofrer. Deixo a dor sair e sinto seus braços me rodearem os ombros e pela primeira vez sou abraçada por uma amiga.

Sim é isso que Alicia é para mim, minha amiga. Desabafo em seus ombros minha dor e sinto sua mão calosa acariciar meus cabelos.

Me afasto e vejo seus olhos úmidos. Ela é tão linda, mas a vida não lhe deu o que merece. Percebo que nunca conversamos realmente.

– Alicia você tem alguém em seu coração? Ama alguém? – pergunto e vejo-a enrubescer.

– Não senhorita. Em minha vida só quero trabalhar e cuidar de minha avó que tem a saúde delicada.

Ela conta sobre a morte de seus pais e o tempo vai passando e minha decisão se torna clara. Preciso provar ao Benjamim que não sou daqui mas também sei que meu tempo está terminando.

Tive as melhores férias da minha vida. Tomo minha decisão e assim deixo o sono me levar.

Fico no quarto lendo o dia todo. Benjamim não me procura e depois do jantar estou admirando a beleza da noite na minha sacada quando me seguram pelo cotovelo, me viro assustada e o encontro ali.

– Melissa diga-me a verdade! O que me contaste ontem é real? De que ano veio? O que aconteceu? Porque veio para cá? Como podes voltar? Desejas voltar?

São tantas perguntas que me perco em sua seqüência de questionamento. Respiro fundo e o puxo pela mão até o sofá.

Tento ordenar meus pensamentos e tomo coragem para contar tudo que aconteceu.

– Benjamim não sei bem como começar. Eu sofria muito lá, as pessoas que poderiam ser meus amigos me desprezavam e nunca soube o motivo. Sempre achei que a culpa fosse minha e vivi reclusa por toda a minha vida. – afasto uma mecha de cabelo que cai sobre meu rosto. – Eu até achava que gostava de um garoto, mas ele me odeia declaradamente. – dou uma risadinha – Um dia passeando com minha mãe entramos numa loja de móveis antigos e achei o espelho, não sei como, mas ele mostrou parte da biblioteca daqui e fiquei intrigada com ele.

Não consigo continuar sentada.

– Voltei várias vezes à loja e numa dessas vezes foi quando o vi do outro lado. Pensei que estavam pregando uma peça em mim. Meu pai acabou me dando o espelho de presente e mesmo não o tendo visto mais através dele fiquei feliz por tê-lo comigo. No meu último dia de aula, sim temos escolas no futuro, sofri e fui muito maltratada, quando cheguei em casa desesperada gritei para o espelho me tirar de lá e não sei como vim parar aqui. As únicas pessoas que sabem disso são Alicia e seu pai.

Ele me olha atentamente. Sinto que expus demais de mim e o olho tristemente.

– Não sei como provar isso a você, mas uso calças compridas lá. – caminho até o armário e pego meu uniforme da escola e mostro – Nesses anos que nos separam terá uma grande guerra em 1914 e morrerão milhões de pessoas. A Europa passará por um crescimento industrial enorme. É difícil acreditar, mas isso mudará o rumo do mundo.

– Entendo e gostaria que me mostrasse como o espelho funciona. – fala segurando minhas mãos – Sei que minha reação ontem foi exagerada, mas pensei muito e sei que você não mentirias, não sobre essas coisas.

– Eu... Eu não sei como ele funciona. Apenas pedi para me tirar de lá e ele fez.

Ele sorri e me puxa para seus braços, suas mãos sobem para meu rosto e seus lábios exploram os meus. Estou em casa, sinto que estou no lugar, na hora e momento certo.

Ele me olha profundamente.

– Melissa e se fossemos para seu tempo? – me espanto com seu pedido e cubro a boca para abafar meu grito.

Ele me olha assustado. Como irei responder? Será que isso alteraria o futuro? Quais seriam os danos para sua família?

Antes de dizer sim preciso ver quais seriam as conseqüências. Preciso ter certeza que isso realmente daria certo.

– Meu amor? – preocupado.

– Benjamim eu não...

Ouvimos passos rápidos no corredor e Benjamim corre e se esconde atrás da cortina. Pulo na minha cama e abro o livro em uma página qualquer, a porta se abre e meu coração está disparado. Se meus tios descobrirem o que está havendo entre nós, nem imagino o que farão.

– Senhorita Melissa. – Alicia entra desesperadamente no quarto. Solto um suspiro de alívio e Benjamim sai de seu esconderijo. – Os pais de Benjamim acabaram de chegar, senhor deve sair rapidamente.

– Tudo bem Alicia. – fala e sinto alivio.

Salva pelo gongo, terei como pensar em algo para responder a ele. Dou um sorriso e ele se vai rapidamente.

Quando olho para Alicia vejo seu sorriso e fico vermelha mas minha mente apenas tem ta encontrar uma forma de responder a seu pedido.

– Alicia, preciso de ajuda. – peço a ela.

– Do que precisas senhorita?

– Dizer para Benjamim que não posso levá-lo para o futuro.

Ela me olha espantada e tento explicar o que aconteceu. Vai ser impossível convencê-lo, será nosso fim. Estarei dando a ele motivos para seguir em frente.

– O que acha de contar sobre coisas assustadoras? Tentar fazê-lo ver o que perderia aqui. És esperta, senhorita. Tens as informações só precisas ordená-las.

– Isso Alicia, preciso pensar no que virá nos próximos anos. – tento me convencer de que sou capaz.

Ela me deixa ali andando em círculos e tentando encontrar uma saída para o que eu mesma provoquei.

Não desço para o almoço com uma desculpa de que estou indisposta. No final da tarde tenho uma possível desculpa e corro para ver se o acho na casa.

Acabo por encontrá-lo no jardim. Me mantenho a distância admirando-o. Ele parece perceber que está sendo observado e passa o olhar ao redor me localizando. Encurto a distância e me sento ao seu lado.

Ele sorri e segura uma de minhas mãos. Seu polegar acaricia o dorso em pequenos círculos e tomo coragem.

– Estás melhor meu amor? – pergunta preocupado.

– Sim, foi uma leve indisposição. – explico.

– Melissa passei o dia pensando em uma solução para nosso problema e nada me veio a mente até agora. Existe algo que seja tão ruim em seu tempo? Poderíamos viver juntos lá? Apesar de estar com medo me esforçaria por você.

Vejo sua empolgação por ver solução para nosso amor e sinto um aperto no peito por saber que irei destruir suas esperanças.

– Benjamim, eu queria muito ter um futuro a seu lado mas tenho medo. O que mais me preocupa é como usar o espelho. Por mais que eu tente pensar em como tudo aconteceu não sei com o fazê-lo funcionar. – digo séria. – Também me preocupo com o que aconteceria se fosse para o futuro. Lá tudo é diferente, começa na forma de vestir e acaba até na forma de falar e se portar. – ele me olha espantado. – No meu tempo os casamentos podem ser desfeitos e somos livres para escolher nosso caminho. Homens e mulheres trabalham juntos sem nenhum tipo de discriminação ou preconceito. – ele está boquiaberto – Sei que acha que estou falando isso para te assustar mas é a verdade. Esta é a minha realidade.

– Melissa...

– Não terminei ainda e devo dizer que o que mais me preocupa é o que deixará para trás. Como ficariam seus pais e amigos? Sem luxos e mordomias. E se alterarmos o passado de uma forma tão drástica a ponto de acabar com seus descendentes? – digo desesperada e ele me olha com raiva.

– Melissa, já lhe disse antes e volto a dizer: se não queres ficar comigo diga-me, não tente me fazer mudar de idéia ou me sentir culpado.

– Não é isso. Eu imagino o que mudou no futuro a minha presença aqui. E não posso pedir tanto a você, levá-lo para meu tempo é preocupante e está fora de cogitação. Não posso condenar outras vidas para um capricho meu.

– Desculpa Melissa. – vejo a decepção em sua voz. – Mas não entendo. Estás abrindo mão do meu amor...

Tento segurar seu rosto mas ele se afasta e sei que o perdi nesse momento.

– Eu te amo, não duvide.

Saio do jardim correndo, e a única coisa que fica em minha mente é seu olhar de tristeza. Não sei o que fazer e tomo o caminho das cocheiras e pego a primeira montaria que vejo e saio desesperada.

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Comments

Dayenne Kaster

Dayenne Kaster

eu quero saber quando ela vai voltar para o futuro

2022-02-03

3

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