Capítulo 4

Já se foi uma semana de provas! Continuo evitando ameaças e sofrimentos. Na verdade, eu estou muito feliz, o espelho agora é meu, mesmo não me mostrando nada.

Chega o último dia antes das férias. Finalmente longe deste lugar. Último dia de prova, geografia, muitas pessoas acham que é uma matéria simples, mas eu não. Odeio geografia.

A prova começa, até que não está difícil! Meu professor pegou leve, respondo sem nenhuma dificuldade, termino a primeira página e estou animada, não parei para pensar em nenhuma resposta! Leio a próxima questão e meu animo cai, leio à próxima: não, a outra: não, viro a página, estou entrando em desespero. Respiro fundo, se continuar assim não vou me lembrar de nada.

Já se passou uma hora, algumas pessoas estão estranhando o fato de eu ainda não ter entregado a prova, estou desesperada. Esses olhares só estão me deixando nervosa, me sinto cobrada e fico mais desconcentrada que nunca.

Duas horas se passam e já estou na última página, ouço uma carteira se arrastando e olho para o lado, Ben entrega a prova, ele olha diretamente para mim, um olhar malicioso, me assusto. Acalme-se Melissa, estamos quase acabando.

Faltando quinze minutos para o horário acabar, me levanto e entrego a prova, vejo que tem algumas pessoas que ainda estão fazendo, dentre elas, Natasha, fico feliz. Não irei esbarrar com ela na saída.

O dia está nublado, mas estou feliz. Hoje é o dia da minha liberdade. Vou viajar.

Meu pai já deixou tudo planejado, volto no final das férias, vou me livrar disso tudo por dois meses. Deixarei as pessoas que tanto me odeiam livre, mas sei que no fundo não é culpa delas, a culpa é, exclusivamente, minha.

Acabo saindo pelo ginásio que vai dar na rua lateral do colégio. Estou caminhando quando sinto meu braço sendo puxado e me vejo cercada por Bem e seus amigos.

– E aí estranha, achou que ia conseguir fugir de mim? – diz e seus amigos começam a rir.

Meu coração está acelerado. O que irão fazer comigo? Dou alguns passos para me distanciar dele, mas minhas costas encontram a resistência do muro. Estou com eles me cercando. Sem saída.

– Bolinha, me diz. Como é ser o esterco do mundo? Porque, de verdade, eu já teria me matado. – suas palavras são como lâminas, meus olhos estão marejados.

– Be-ben. – estou choramingando. – Po-po-por fa...

– Be-ben. – ele imita a minha voz e ri monstruosamente. Seus amigos o acompanham. – O que foi monstrinho? Não consegue se defender.

Eles me fecham mais, estou a ponto de gritar, mas sei que ninguém irá ouvir.

– Onde eu estava... Ah, é mesmo! – ele se finge pensativo. – Olha, eu acho que você poderia se matar, sabe. Ninguém sentiria falta. E o ar desse mundo ficaria mais leve.

– E-eu...

– Cala a boca lixo! – seu grito me assusta, começo a chorar. – Não terminei de falar com você. Então. – continua com o mesmo tom maldoso de antes. – Como eu sou muito piedoso, vou lhe conceder um último favor, assim você pode chegar à sua casa e dar um presente para mim. O seu sumiço.

Ele se aproxima e grito, ele ri e puxa meu cabelo e tapa a minha boca com suas mãos.

– Quietinha. Ou vai se arrepender.

Ele prensa meu corpo contra a parede, joga meus braços acima da cabeça e segura fortemente com uma mão meus pulsos. Sinto que está se aproximando e fecho os olhos desesperadamente. Ele encosta seus lábios nos meus, são macios. Sinto sua mão livre percorrendo meu corpo, apesar do calor que surge, tento me afastar. Quando percebe que não vou retribuir o beijo se afasta. Estou desesperada, não consigo respirar, minhas lágrimas não deixam.

Mesmo assim ele tenta novamente me beijar e apesar de sentir uma avalanche de sentimentos bons só consigo pensar que não foi assim que imaginei meu primeiro beijo.

Ele me solta e passa sua mão em sua boca num gesto que traduz todo o nojo que sentiu.

– Que nojo! – ele grita. – Nem para beijar você presta?

Seus amigos começam a rir. Tinha como ficar pior?

Ele me empurra e bato as costas na parede e vou ao chão com dificuldade para respirar. Ele me empurra em direção à saída. Caio no chão e machuco minhas mãos para tentar amortecer a queda. Ouço-o cuspindo ao meu lado. E me levanta pelos cabelos. Vira meu rosto em sua direção e diz com toda a maldade que tem.

– Vaza. Daqui. LIXO.

Me solta e assim que recupero o equilíbrio saio correndo, minhas lágrimas me impedem de ver o caminho. Quando me dou conta estou esbarrando em alguém com muita força. Caio no chão.

– Não vê por onde anda? – ouço sua voz fina e cheia de fúria. – Ah, bostinha. Quer dizer que se atreveu a encostar em mim? – Natasha diz cínica.

Levanto e ela me olha com desprezo:

– O que aconteceu com você? – ela pergunta rindo. – Tá pior do que já é! Não! Acho que podemos piorar ainda mais.

Sinto suas unhas no meu ombro e ouço um barulho de roupa rasgando. Todos ao redor começam a rir. Ela rasgou o ombro da minha camiseta e suas unhas estão ainda marcaram a minha pele por onde passou.

Quando estou me erguendo ouço sua voz surgir.

– Credo! Não vou dormir depois desta visão do inferno. – Ben diz e todos começam a rir.

Está tudo girando, risadas e mais risadas, não consigo responder ou me defender. Choro de desespero, de medo, de vergonha e de conformação. Sei que a culpa de tudo isso é minha, e não tenho direito de reclamar para ninguém. Me ergo apenas para seguir meu caminho até em casa.

Consigo passar direto para meu quarto e lá deixo toda a dor sair. Grito toda a angustia que sinto. Levanto a cabeça e vejo meu reflexo no espelho, eles estão certos. Sou uma desgraça para todos.

Vejo meu reflexo ondular e a imagem aparece. A mesma sala de antes.

Não! Não quero vê-lo assim. O espelho não tremula mais e corro até ele:

– EU TE ODEIO! – grito com toda a dor que sinto. – ME TIRA DAQUI!

Bato minhas mãos no espelho e não sei o que acontece, só sinto que estou caindo.

Vejo flashes de luz ao meu redor e estou caindo. O que está acontecendo? Quando olho para baixo vejo uma luz que se aproxima cada vez mais.

“Vou morrer” – penso – “Este é o meu fim e vou cair de encontro ao chão”, fecho meus olhos e sinto uma oscilação no ar. Toco algo macio com meus dedos. Abro os olhos e vejo um tapete vermelho com desenhos dourados.

Vejo que o tapete recobre toda uma sala que tem diversas poltronas, sofás e as paredes a minha volta são cobertas de cima a baixo por estantes com muitos livros.

Me ergo e vejo vários abajures altos que ficam ao lado de sofás e poltronas. O ambiente convida a leitura. Levanto e caminho pela sala.

Vejo uma parede de janelas altas que iluminam todo o ambiente. Nas outras apenas estantes com livros, uma escada que deve ser usada para alcançar os que estão no alto.

Próximo às janelas tem uma escrivaninha de madeira maciça com muitos papéis empilhados sobre ela. Caminho até lá e vejo uma pilha de documentos, alguns assinados e outros ainda em branco.

Me espanto ao reconhecer uma caneta de pena depositada num aparador e um vidro de tinta próximo. Quem usa esse tipo de caneta hoje em dia?

Me surpreendo ao localizar uma vela apagada, ao lado uma barra de cera vermelha e junto um sinete. Olho em volta e não posso acreditar. Não pode ser! Estou na sala em que vi o Ben em roupas antigas.

Esfrego meus olhos e começo a rir. Corro pela sala e admiro os enfeites que estão espalhados. Quadros que estão nas paredes. Passo os dedos pelas lombadas dos livros e começo a encontrar vários títulos desconhecidos, diversos idiomas e temas.

Pego um livro e começo a folheá-lo e estou distraída quando escuto um barulho vindo da porta de carvalho enorme que está bem a minha frente do outro lado da sala.

Alguém está falando, mas não consigo entender as palavras é tão diferente de como falo. Coloco o livro no lugar e desço a escada, quando caminho até a porta para poder ouvir melhor percebo que quem estava do outro lado já se foi.

Vou até a janela e encontro um jardim maravilhoso com uma fonte, ladeado por um caminho de pedras que deve dar na rua. Não temos casas assim! Onde será que estou?

Na fonte um querubim segura uma ânfora que jorra água. Existem rosas aos montes por toda parte e vejo um homem cuidando das plantas.

Vou até um dos sofás e depois de achar um livro me aconchego para ler. Fico tão compenetrada na história que não sinto as horas passarem e quando olho para o carrilhão próximo a porta vejo que já tem duas horas que estou aqui.

Localizo o espelho idêntico ao meu ao lado do carrilhão, sua superfície reflete meus olhos. Não vejo minha casa, não vejo nada.

Passei por ele e vim parar aqui, numa época que não imagino qual seja. Olho ao redor e corro até a escrivaninha, pego um dos documentos e vejo que está datado de 12 de Outubro de 1890.

“Estou no século XIX?” – penso.

Começo a rir muito. Vim para no século onde tudo aconteceu. Revolução da indústria, energia elétrica, crescimento do poder. Os casamentos eram arranjados, as mulheres casavam cedo, mas se vestiam belamente. Haviam bailes, festas e cortejos.

Estou ainda sem acreditar quando vejo a porta se abrir e um homem mais velho entrar no recinto. Fico pálida olhando em sua direção. Me deixo cair no sofá e fico observando ele avançar pela sala.

O que fazer? Quem é ele? Fico tentando pensar em algo para falar mas minha mente está vazia.

Ele caminha de cabeça baixa até a escrivaninha e senta-se observando os papéis a sua frente. Não tenho coragem de falar e fico no sofá observando cada movimento dele.

Lê um documento, assina e depois pega o bastão vermelho e derrete a cera sobre o papel pega o sinete e pressiona.

Ele faz mais umas três cartas quando olha para frente e seus olhos se encontram com os meus. Ele se levanta lentamente e uma ruga se forma na sua testa, caminha até onde estou. Me observa de cima a baixo.

Me sinto incomodada com sua análise e quando ele coloca os braços atrás do corpo numa pose de comando sinto que não tenho saída. Ele vai perguntar quem eu sou.

– Bem, gostaria de saber quem é a senhorita e como chegou até minha casa? – seus olhos observam minhas roupas rasgadas – Ou deveria perguntar-lhe de que época és?

Engulo em seco e levanto lentamente. Seu rosto demonstra estranheza ao notar que estou de calças. Preciso falar alguma coisa, mas as palavras não saem da minha boca.

– És por acaso muda? Perdeste a capacidade da fala? – ele se aproxima e segura meu braço com força – Diga logo de onde vens e o que queres aqui! Exijo uma resposta imediata!

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Comments

Lena Macêdo E Silva

Lena Macêdo E Silva

o Ben é o martírio dela no passado no presente e no futuro 🤭🤦↩️↪️↩️↪️

2023-08-20

0

Minna

Minna

Confuso, porém interessante

2022-09-23

0

Renataa Inacio

Renataa Inacio

estou entendendo nada, mas compreendo ksksks

2022-01-17

4

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