Capítulo 2

Estou atrasada, meu despertador não tocou e perdi a hora por completo! Me arrumo em tempo recorde e vou para a escola ainda terminando de prender meu cabelo.

Chego com meia hora de atraso. Vou para a sala do diretor para explicar o motivo, mas como não costumo me atrasar, não recebo advertência, ele ainda me permite entrar na primeira aula.

Passo no meu armário correndo e entro na sala, todos me olham. Devia ter esperado.

Ouço uma voz estridente falando:

– Caramba! Só porque meu dia estava bom!

Outro garoto segue seu coro e acrescenta:

– Aff bolinha! Porque não volta para casa para a minha felicidade?

– Nossa – gelo com sua voz irônica. – Pensei que seria um dia maravilhoso. Pelo jeito me enganei. – sinto meus olhos arderem.

“Mel se controle. Não chore.” – penso.

– Posso saber o porquê desta algazarra? – a voz do Sr. Willians surge impaciente – Melissa vá para o seu lugar. E se eu ouvir mais algum comentário maldoso em direção a ela, vocês irão fazer uma visitinha à sala do diretor.

A sala fica em um silêncio. Ninguém quer desobedecer.

– Agora – ele continua. – Ben, Mark e Natasha. Respondam a estas questões que estão na lousa. Já que estão com tanta vontade de falar, falem algo que preste. Cinco minutos para responder, ou tiro um ponto de cada um.

Coitados! Por minha culpa serão castigados. Quando percebo seus olhos raivosos sobre mim, abaixo minha cabeça e sinto algumas lágrimas escorrerem, as limpo imediatamente.

As aulas estão passando na mesma lentidão e ouço caçoarem aqui, ali, mas não dou atenção, até que um papel cai em minha mesa. É dele!

 

Escuta aqui Melissa, se você continuar se fazendo de coitada e eu receber mais uma comida de rabo de algum professor, vai odiar ter me conhecido. Então fica na sua e se liga. A culpa não é nossa, você que é ridícula por natureza, apenas mostramos o óbvio.

Fica a dica, ou vai sofrer.

 

Ele deve ter razão. Devo merecer tudo que recebo, sou uma aberração no mundo, seria melhor se eu não existisse. Viro o bilhete e respondo.

 

Desculpe.

 

Ele se surpreende ao ver que respondi, mas logo muda sua expressão e começa a rir, seus amigos pegam o papel e acompanham sua risada. Me sinto no chão.

– Bom que sabe. – fala, mas se cala.

Estou tão triste que nem percebo que estou novamente na frente da loja de antiguidades.

Entro sorrateiramente. Como não avisto ninguém, caminho até o espelho e vejo meu reflexo nele. Não surge nada apenas meu reflexo e depois de alguns minutos fecho meus olhos e penso na imagem que vi naquele dia.

Abro os olhos e quando toco a superfície do espelho com meus dedos às ondulações acontecem. A sala aparece na minha frente. Um desejo de estar lá me invade e estou pensando na minha insanidade quando ouço um barulho no fundo da loja, passos apressados vindo na minha direção. Saio correndo da loja.

Em casa escuto meus pais conversando na sala, mas assim que entro se calam.

– Oi querida, vou pedir para servirem o almoço. Estávamos te aguardando.

– Desculpe a demora é que vim de ônibus. – respondo.

– Porque está vindo de ônibus, filha – pergunta meu pai – Se quiser peço para o motorista ir te buscar.

– Não! Não precisa. Gosto de vir assim pai. – meu pai apenas me olha e concorda com um aceno de cabeça.

Como falar para ele que tenho medo que descubra como são meus dias naquele lugar? Me arrependo, mas afasto a sensação e me obrigo a sorrir e levar minha bolsa para o quarto.

Mais um dia vem e logo após a escola me vejo novamente, na loja de antiguidades. Não sei por que, mas me sinto em paz aqui.

Olho pela vitrine e não tem ninguém na parte frente. Entro e corro, vou até o espelho.

Observo sua superfície por alguns segundos até que ele trêmula, toco sua superfície e a imagem aparece, vejo o mesmo garoto de antes, ele está sentado. Me lembra de alguém que conheço.

“Não pode ser!” – olho para aquele rapaz sentado e me obrigo a esfregar os olhos.

– Ben! – grito assustada.

Ele olha para mim com uma cara confusa, fecho meus olhos, não pode ser verdade, é apenas uma ilusão.

– Mocinha? – ouço uma voz feminina e grave atrás de mim, meu coração dá um pulo, abro meus olhos e encaro o reflexo de uma mulher alta, elegante e com uma expressão séria no rosto.

A imagem do garoto se foi. Deve ter sido nervosismo. Apenas fruto da minha imaginação. Convencida disto viro para mulher e a encaro.

– Perdoe-me o grito. Apenas me assustei. – digo com sinceridade e medo.

– O espelho lhe interessa? – ela me pergunta como se não tivesse ouvido minhas desculpas.

– Sei que não está à venda. Apenas o acho bonito. – falo e ela sorri.

– Ele é uma das peças mais inestimáveis de minha coleção. Quem sabe não possa passá-lo a você?

Meu coração dá um salto no peito e não acredito no que ela acabou de falar. Caminho até a porta e sinto que estou sendo observada, saio da loja com calma e quando ando alguns metros começo a correr.

Vou todo o percurso até minha casa pensando se posso pedir o espelho para meu pai e quando estou em frente à porta decido não fazer isso com ele. Se for uma peça inestimável deve custar muito caro.

Vou para meu quarto e fico pensando quais seriam os poderes dele. Será que ele mostra os desejos mais profundos? O que sentimos? Ou foi apenas uma peça pregada pelo meu coração?

Ainda estou na mesma posição quando ouço batidas na porta, a voz do meu pai me chega.

– Mel? Está acordada?

– Oi pai pode entrar. – falo

– Oi filha, você não foi me ver quando chegou, aconteceu alguma coisa? – ele pergunta – Está tudo bem na escola?

Seus olhos são observadores e me pego tentando pensar em uma desculpa. Ele já se sacrifica demais para nos dar o conforto que temos que não posso deixar que ele descubra o que acontece.

– Está sim, pai. Só fui até uma loja onde vi um espelho. Gostei muito, mas parece que ele não está à venda. – ele caminha até a cama e se senta próximo.

– Você gostou do espelho? – ele pergunta.

– Ele é lindo tem uma moldura em madeira escura, de corpo inteiro. O senhor sabe que não ligo para antiguidades, mas este me chamou a atenção. Só isso.

– Tem certeza que é só isso? Se você quiser me contar qualquer coisa saiba que estou aqui.

– Claro pai. Eu sei sim. – falo e sinto uma dor no coração por estar omitindo coisas dele.

Dou um sorriso e ele deposita um beijo na minha testa e se levanta.

– Vou pedir para trazerem um lanche para você.

Ele sai e fecha a porta com cuidado. Fico mexendo no computador até que a cozinheira chega com a bandeja e a deixa próxima a cama.

Estou sem fome. Fico pensando em tudo que aconteceu hoje e me entristeço por causar tanto problema para o Ben.

Como pude me apaixonar por ele? Só não posso permitir que ele descubra. Vou até a cama e me deito até pegar no sono, sonho com o menino do espelho:

Ele está sentado com um livro sobre os joelhos. Suas roupas são diferentes. Ele está de calça social preta, camisa imaculadamente branca e por cima um colete preto com uma corrente saindo do bolso.

Não pode ser ele! Tem um ar tão mais velho e ao mesmo tempo seu rosto parece tão inocente. Seu cabelo está repartido de lado e não há um fio fora de lugar. Seus olhos têm um brilho de surpresa como se ele estivesse me vendo também.

Caminha na minha direção e vejo o Ben ali. Não acredito que seja ele, quando ele estende sua mão, me encolho como se ele fosse me bater.

Sinto um medo do que pode sair de seus lábios e quando não sinto seu toque, tiro as mãos que protegem meu rosto e vejo-o me olhar com tristeza.

– Estás com medo de mim, senhorita? Jamais iria machucar tão bela dama. Venha deixe-me ajudá-la a erguer-se. – a voz é parecida com a do Ben, mas não é ele.

Me afasto, corro por um local escuro.

Acordo assustada na minha cama. Meu corpo está banhado em suor. Vou até o banheiro, lavo meu rosto e me obrigo a me acalmar.

Na manhã seguinte corro para pegar o ônibus da escola. Sento no fundo e ninguém nem se digna a me olhar. Estou a algumas quadras de casa quando o ônibus para e pega mais uma pessoa. Olho para frente e sinto meu coração acelerar no peito, sem pensar coloco a mão sobre ele.

Ele está sorrindo conversando com Natasha, mas quando seus olhos me localizam no fundo do ônibus, sua feição muda. Desvio olhar. Ele se senta e não perde a oportunidade.

– Como conseguem ficar neste ambiente fechado? Não sentem esse cheiro de podre que está aqui? – fala abrindo as janelas.

Alguns dão risadinhas e olham na minha direção, mas ninguém fala nada. Sinto meu rosto enrubescer.

Ao chegarmos à escola espero todos descerem, fico por último. Agradeço o motorista que me olha com pena.

Sigo até meu armário e pego meus livros, estou caminhando de cabeça baixa pelo corredor quando sinto alguém me empurrar e caio de joelhos. Meus livros se espalham todos e me levanto recolhendo meu material.

– Você é idiota garota? – fala uma voz masculina e quando olho para ver se é comigo vejo um rapaz forte e alto, cabelos castanhos escuros e olhos castanhos. Ele me olha e estende sua mão – Tudo bem com você? Se machucou?

Apenas faço que não, ele se abaixa pega meus livros e os coloca nos meus braços.

– Obrigado. – falo olhando em seu rosto e dou um pequeno sorriso.

– Não foi nada. Me chamo Austin, prazer. – seu sorriso é lindo, mas não me abalo com ele.

– Prazer, sou Melissa Contré. – respondo.

– Lindo nome, Melissa. Bem, nos vemos por aí. – saio pelo corredor e escuto uma pequena discussão, mas não dou atenção nenhuma.

Entro na sala de aula e vou para meu lugar, sem prestar atenção ao que falam durante minha passagem. Vejo Ben entrar vermelho de raiva, mas nem olho na sua direção e sou salva de qualquer comentário pela chegada da Srta. Elisa que já nos pede para abrir nossos livros.

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Comments

Lena Macêdo E Silva

Lena Macêdo E Silva

entre o ódio e o amor prevalece aquele que alimentarmos em nós

2023-08-20

0

Nataly Silva

Nataly Silva

q homem ridículo esse ben

2022-05-19

0

Branquinha

Branquinha

já gostei do Austin

2022-03-15

0

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