*Devon Mantovani*
O café da manhã já estava na mesa. Depois de pronto, comi e fui mais cedo pra sede da Dannazione. Antes, deixei o pagamento da diarista. Durante o trajeto, quase bati em um ciclista por lembranças dolorosas que vez ou outra me incomoda. Queria poder ter sido outro alguém...
Droga! Essa fala é egoísta demais. Tive a graça de ser resgatado por alguém que quis um moleque de 13 anos. Um simples moleque chorão que acreditava no amor e na esperança de um dia ser livre e pertencer a uma família. Quem me proporcionou isso foi o Ettore. Por ele eu morro. E isso que preciso mostrar; minha total devoção.
-Chefe, um dos amigos de negócios do seu pai alegou que não virá.-Um dos encarregados pela organização da festa vem ao meu escritório assim que entro nele.-Justamente aquele em que ele quer propor uma parceria na extração clandestina de pedras preciosas.
-Deixa o número dele comigo. Ligarei para ele.
Ele assente e se retira. Segundos depois ele retorna com o número. Não hesito em imediatamente ligar para o tal amigo de negócios. Depois de muita conversa e de propor um ganho de 25% em todo o ganho na extração que financiaremos praticamente tudo, ele concorda em vir. Meu pai vai gostar de saber.
Augusto apareceu na minha sala e ficou me ajudando a organizar os papéis da entrada e saída de drogas. É extremamente chato ser responsável pela parte burocrática. Infelizmente meu pai só confia isso a mim e a Mia.
-Seu pai vem hoje?
-Sim, ele parece não estar com um bom humor.-Falo alto demais meus pensamentos.-Deve ser estresse... Ele tem uma fixação estranha com essa festa.
-Ele nunca fala por qual motivo?
-Ele acaba enrolando, mas não insisto pra não chateá-lo.-Dou uma olhada nos papéis que estavam em minhas mãos.-Está tendo ensaio com as garotas?
-Você está caidinho pela Diaba.-Debocha e logo leva um tapa no ouvido.-Você odeia que te digam a verdade. Precisa trabalhar isso, meu parceiro.
-Some daqui, Augusto.
Ele sai da minha sala resmungando que estou apaixonado. Esse não me conhece mesmo...
As horas passaram-se rapidamente. Eu já estava exausto de tanto separar papéis. De repente, a porta do meu escritório é aberta com força e por instinto pego minha arma e aponto. Era meu pai. E sua cara não estava muito boa.
-Vai matar seu próprio pai?-Questiona de braços abertos e com tom de deboche.
-Desculpe, pai.-Guardo a arma e sento na cadeira.-Você me assustou.
-Eu deveria era te dar umas tapas!-Brada batendo na mesa.-Como ousa a desrespeitar a senhorita Mirella Ladryna? Ela é importante para nós, Devon! Você sabe que é...
-Ela já foi te fazer fofoca? Puf...-Reviro os olhos.-A Mia quer é outras coisas, mas não vou brigar com o senhor por causa dela. Prometo só me reportar a senhorita Ladryna sobre assuntos profissionais. Aconselhe ela a fazer o mesmo, por favor.
Ele assente e suspira. Ele parece estressado. Logo senta-se à minha frente e me encara por curtos segundos.
-Soube que aquele contato importante não virá para a festa...
-Agora virá!-Digo sorrindo e vejo seus olhos crescerem.-Deixa eu contar como o convenci.
Narro tudo detalhadamente e é tão bom receber esse olhar dele. Ele está feliz, satisfeito. Isso me faz sentir especial. Lembro da primeira vez que ele olhou pra mim dessa forma.
Flashback on:
*As aulas de tiro estavam indo muito bem. Só tinha um problema: eu desejava do fundo do meu coração nunca precisar usá-la de verdade, pra ferir alguém. Meu pai que não ouça meus pensamentos.
-Ei garoto, pode ir. Seu pai disse que está te esperando do lado de fora.
Assenti, peguei minha mochila e saí. O carro do meu pai não estava na frente da sede. Andei para procurar e o encontro conversando com um homem em um beco próximo. Eles estão exaltados e o homem parece querer dinheiro. Muito dinheiro por algo que fez. Ele gritava que não conseguia dormir imaginando a cena do que ele fez.
-Aqui não tem dinheiro, malandro!-Meu pai tentava contornar a situação.-Vamos até a máfia.
-Você acha que sou besta?-Ele balançava a arma.
Meu pai nesse instante olhou pra mim e fez um sinal de arma, como se pedisse para eu atirar no homem. Meus olhos encheram-se de água. Eu não queria. Eu não queria...
-Você é um nojento, Ettore!-Ele encosta a arma na cabeça do meu pai.-Merece morrer assim como achou que eles mereciam.
Aquilo me fez abrir minha bolsa, engatilhar a arma e apontar para aquele homem. Mas... cadê a força para puxar o gatilho?
-Calma, malandro! Eu tenho dinheiro aqui.-Meu pai me olha mais uma vez e seu olhar parecia desesperado.-Só me deixe pegar no carro.
-Você acha que sou otário?-Ele bate com a arma na cabeça do meu pai e ele cai.-Você acha que eu...
Barulho de tiro.
De olhos fechados, mãos tremendo e boca seca, ouvi um barulho de tiro. E saiu da minha arma. Eu me recusava a abrir os olhos. Eu não iria abrir os olhos. Deixei que a arma caísse no chão. Logo sinto braços me arrastando dali. Meus olhos permaneciam fechados.
-Devon! Abra os olhos, filho.-Era meu pai. Ele tava bem.-Olhe pra mim!
Abro os olhos ainda vendo tudo turvo por culpa das lágrimas. E lá estava aquele olhar que eu sempre quis... Olhar de satisfação. Ele estava feliz. Mas por quê?
-Eu... Matei ele?
-Provavelmente...-Ele enxuga minhas lágrimas.-Mas se matou, foi pra salvar seu pai, Devon. Eu te... gosto tanto, filho...
-Mas... Eu vou ser preso e... Não quero...
-Shiu, shiu...-Ele me abraça.-Ninguém vai te prender. Eu vou sempre te proteger, Devon. Você é meu menino de ouro!
Assinto sorrindo pelas palavras carinhosas vindas dele. Eu sou seu menino de ouro. Eu finalmente sou o menino de ouro de alguém. Eu esperei tanto por isso...
Mas torcia fielmente para que aquele homem não tivesse morrido. E não entendia o porquê*.
**Flashback off.
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Atualizado até capítulo 61
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