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*Diara Lambert*

Tiramos fotos, tomamos sorvete, compramos besteirinhas, vimos um filme... Esse foi nosso dia. Mas, pra ser sincera, em nenhum minuto eu relaxei totalmente. É estranho a reviravolta que minha vida vai dar. Eu era só uma garota revoltadinha tentando encontrar pistas ou qualquer coisa que me levassem até minha real história.

Depois de concluir o ensino médio, fiquei perdida tentando encontrar a minha vocação. Pensei em ser dentista, oftalmologista, enfermeira e até trabalhar como brigadista. Mas nenhuma dessas opções me fez vibrar a ponto de segui-las. Tenho 20 anos e não sei o que eu quero ser. Mas aqui estou eu, indo ser membra de uma máfia. Será que era esse o meu destino?

-Vou tomar um banho e depois preparar o jantar.-Minha mãe avisa enquanto some casa à dentro.-Se distraiam por enquanto.

Eu e Jack ficamos no jardim, observando o sol baixar levemente no horizonte. Lembrei que ainda não fiz minhas malas.

-Vamos no meu quarto. Tenho que organizar minhas coisas ainda.

Ele assente e me segue. Enquanto ele se joga na mjnha cama, eu procuro uma mochila gigantesca que a mamãe me deu. Começo a tirar algumas peças do guarda-roupa e organizar na mochila. Sinto o olhar de Jack queimando nas minhas costas.

-Você precisa me dizer algo né?-Pergunto ainda sem olhar para ele.-Pode abrir o bico.

-Eu gosto de você, Diara.

-Eu também, oras!-Sorrio enquanto organizo meus calçados em uma mochila diferente.-Não me diga que vai chorar todos os dias com a minha partida?

-Diara!-Ele me chama a atenção com sua voz grave e eu paraliso.-Senta aqui.

Viro-me e vejo ele batendo com a mão na parte do colchão perto dele. Fui lá e sentei. Eu não sei o que merda Jack quer. Juro!

-Você me ouviu?

-Não sou surda. Você falou que gosta de mim, poxa...-Resmungo.-E o que isso tem, Jack? Você sabe que eu gosto muito de você também. Você é meu irmão e...

-Não é como irmão, Diara.-Sua declaração me faz engolir seco ao raciocinar o que ele acabou de dizer.-Eu gosto de você como...homem.

Levanto da cama sobressaltada, mas logo entendo o que acabou de acontecer aqui e caio na risada. Dessa vez ele me pegou.

-Ok, ok... Caí nessa sua piada. Sabia que tinha alguma coisa nessa sua estranheza toda ultimamente.

-Mas que...-Ele se levanta parecendo estar irrirado, se aproxima de mim e me lasca um beijo.

Ele segura meu rosto com as duas mãos enquanto seus lábios tocam gentilmente os meus. Pisco umas três vezes antes de afastá-lo.

-O que... O que é isso, Jack?-Passo os dedos nos meus lábios.-Mas... Somos...

-Não, não somos.-Ele nega com a cabeça enquanto diz.-Você é como uma filha pra minha mãe e por pouco tempo eu te vi como irmã também. Mas isso mudou. Mudou há tanto tempo, Diara...-Ele faz uma expressão de dor.-Mudou e eu não tive coragem de dizer.

-Péssima hora pra se declarar, Jack. Sabia que eu já fui muito caidinha por você?-Cruzo os braços.-E seu jeitinho certinho fez com que eu visse o quão otária eu seria se ficasse alimentando sentimentos por você.

Ele parece abalado com minhas palavras, mas mantém a pose séria. Como ele pode me dizer isso agora?

-Você está me dizendo isso agora na tentativa de me fazer desistir de tudo né?-Dou um sorriso aguado.-Saquei tudo.

-Você pode ser feliz aqui, Diara. Podemos contar pra nossa mãe e passar por isso juntos.-Ele tenta se aproximar, mas eu recuo.-Poxa, não precisa você ir para o matadouro. Podemos tentar descobrir o que tem no seu pendrive juntos e acabar de uma vez por todas com isso. Diara...

-Eu pensava que você me conhecia, Jack.-Respondo profundamente magoada.-Sério que você acha que homem me faria desistir de me encontrar? De encontrar minha história e a que levou os meus pais a serem mortos?-Sinto que deixei escapar algumas lágrimas, mas logo as enxugo.-Jack, eu agradeço muito todo sentimento que você tem por mim. É um belíssimo sentimento, admito. Mas ele não me faria desistir das coisas em que acredito. Se o seu sentimento é assim tão verdadeiro e intenso como você expressa nos olhos, então você vai me apoiar e me esperar resolver isso tudo. Do contrário, eu só posso desejar que encontres uma mulher que te faça muito feliz e que você passe a me enxergar verdadeiramente como irmã. Porque é esse tipo de sentimento que eu vou querer de você.-Ele assente e encara o chão.-Poderia me deixar um pouco sozinha?

Ele assente mais uma vez e sai do meu quarto fechando a porta em seguida. Abraço meu travesseiro e dou um grito abafando o barulho. Mas que cassete! Passei boa parte da minha adolescência desejando meu irmão e pensando o quão suja eu era, pra agora saber que esse idiota sentia o mesmo que eu e sempre foi um covarde. Olhe, eu sou muito sortuda mesmo! Pra não ser mais realista e falar outra palavra.

Arrumo minhas coisas e sigo para o banho. Apareço na hora do jantar e encontro apenas minha mãe. Ela está colocando as comidas na mesa enquanto cantarola alguma coisa.

-O que temos para jantar?

-Fiz várias coisas que você gosta, filha.-Ela mostra uma pizza caseira com muito entusiasmo.-Sei que você ama. Fiz aquele macarrão recheado também.

-Vou sentir saudades da sua comida.-Declaro pesarosa.-Mas sempre virei quando ficar mais livre. Não se preocupe.

Ela assente tristonha e nos serve. Ela disse que Jack teve que sair rapidinho, mas que voltava logo. Comemos relembrando um pouco da minha infância. Minha mãe adora lembrar da vez que comi muitos doces e fiquei com uma baita dor de barriga. Tudo isso porque eu não quis dividir com Jack. Também adora lembrar da festa que pedi de 11 anos em que o tema era uma noite de horror. Assustei boa parte dos meus amiguinhos porque quis ficar vestida de drácula.

-Você é a minha garotinha, Diara.-Ele sussurra me olhando nos olhos.-Volte pra mim ok? Não me deixe nessa aflição por muito tempo. Eu estou confiando em você, filha.

Levanto na mesa, ajoelho aos seus pés e encosto minha cabeça em seu colo. Essa é a hora perfeita em que eu deixo tudo que está preso na minha garganta vir à tona. Colo de mãe não tem descrição, é só algo que você sente e se entrega. E eu me entreguei.

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