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*Diara Lambert*

Ele não parecia me encarar com raiva. Ele tinha confusão no olhar, parecia perdido e com... Medo?

-Olha, eu só quero o nome do mandante. Não vou te denunciar ou sei lá o quê.-Crio coragem e me aproximo.-Não quero os peões nesse jogo, quero o rei ou a rainha.

Ele bufa, passa a mão nos cabelos curto umas mil vezes e depois aponta para a poltrona do seu escritório sugerindo que eu me sente. Eu assim fiz.

-Primeiro: quem é aquele cara lá fora com você? Alguém da polícia?

-Não, é só alguém próximo. Mas não é sobre isso que quero saber.-Acabo cortando a conversa em tom rude.-Você que contratou o serviço daquele motorista de ônibus para que ele impedisse a passagem daquele carro. Quero saber quem te mandou fazer isso.

-Você é muito idiota, tenho que dizer.-Ele ri e se encosta em sua poltrona.-O que te garante que eu vou te deixar sair viva daqui?

-Você não é mal, Juan Carlos.-Minha afirmação o espanta.-Eu sei que isso é só uma pose que você sustenta. Morgana me contou da sua compaixão em dar o emprego a ela só porque ouviu sua situação. Um cara ruim nem ligaria pra isso. Agora vamos lá, adianta isso pra mim. Já disse que não quero você, eu quero o mandante.

-É uma longa história, garota.-Eu faço a minha melhor cara de que tenho todo tempo do mundo pra ouvir.-Você é casca grossa mesmo. Ok, vou contar.

*Quando eu tinha 18 anos, meus pais me expulsaram de casa porque me viram usando maconha. Eu trabalhava, trazia dinheiro pra dentro de casa e mesmo assim, só porque eu curtia maconha, eles me colocaram pra fora de casa e alegaram que não iriam ter filho drogado. Nas ruas, o jeito era fazer qualquer coisa pra se manter vivo e saciado. Eu confesso que roubei algumas carteiras e que também vendi drogas pra pequenos traficantes. Era o meu máximo.

Quando eu tinha por volta dos 20 anos, um carro preto parou do meu lado e um homem acenou para que eu me aproximasse. Eu pensei que aquele seria meu fim. Abriram a porta traseira e me puxaram para dentro. Colocaram um saco na minha cabeça e zombaram da minha agonia enquanto eu não enxergava nada. O carro parou e me jogaram para fora do mesmo.

Tiraram o saco da minha cabeça e eu pude ver uns cinco homens me cercando e apenas um na minha frente. Esse era bem vestido e possuía uma bengala nas mãos. Ele me ofereceu uma missão. Essa que você já sabe qual é e eu aceitei. Eu só precisava me expor o bastante pra fazer o motorista aceitar a grana pra atrapalhar o fluxo do trânsito no momento em que aquele bendito carro iria passar*.

-Esse homem de bengala na mão é o que te visita né? O mandante do crime todo.-Reflito na história.-Se ele te visita então você e ele...

-Ouça o restante, garota impulsiva.

*Eu nunca tinha visto uma boa grana e eu tava precisando. Ingênuo, imaginei que era algum assalto ou algo assim o motivo para atrapalhar o trânsito. Dois dias antes do plano eu ouvi uma conversa em que o homem da bengala falava que não via a hora de todo seu reinado começar. Ele usou o termo "derramamento de sangue necessário" para justificar o que iriam fazer. Fui burro e entrei naquela sala cobrando esclarecimentos.

Apanhei de uns 4 homens e fiquei preso durante toda a operação. Eu só soube porque ele voltou e me narrou tudo. Ele fez questão de dizer que eu fui a ponte que possibilitou a eficácia do plano. Ele me disse com tanto entusiasmo que matou seu irmão e a família dele que eu vomitei em mim mesmo. Eu fui obrigado a servir à mafia italiana depois que ele ameaçou meus pais. Fiquei por cerca de 7 anos e depois ele me liberou. Disse que fui um bom soldado e que me livraria desse fardo. Me deu uma grana e me deixou sair daquele inferno. Comprei esse bar e hoje tento me livrar da culpa de ter feito o que fiz*.

Após ele terminar de narrar tudo, percebo que estava com as unhas fincadas no estofado e sinto o gosto salgado das minhas lágrimas. Como ele pôde? Como teve coragem de mandar matar seu irmão, a mulher e a filha?

-Ei, garota?-Ele me chacoalha e eu recuo.-Por que você quis tanto saber disso?

-POR QUE EU SOU A DROGA DA GAROTINHA QUE QUASE MORREU JUNTO COM OS PAIS NAQUELE DIA!-Berro me afastando.-Eu quero o nome desse homem desgraçado e dessa máfia. Quero detalhes, Juan Carlos. Você vai colaborar?

-Mas... Ele disse que... A explosão...-Suas palavras desconexas me irritam.-Você então é a sucessora de tudo que o filho adotivo dele assumirá. Eu vou te ajudar, garota. Eu quero que ele pague por tudo que fez. Tudo.

-Ele quem, Juan?

-Ettore Mantovani, o capo da máfia italiana Dannazione.

Juan pede para que Morgana nos traga bebida e permite a entrada de Jack no escritório. Ainda muito desconfiado, Jack entra e senta. Mas não bebe nada. Juan narra tudo que preciso saber. E ao final de tudo, diz ter uma ideia.

-Você não pode simplesmente caçar o Ettore. Ele foi capaz de matar o próprio irmão e quase matou uma criança também. E tudo isso sem um pingo de remorso.-Juan gesticula enquanto Morgana se junta à nós.-Nada melhor do que se infiltrar na Dannazione. O que acham?

-Você é louca se acha que vou concordar com isso.-Jack segura no meu braço.

-Não pedi autorização, Jack. Você precisa ficar com a mamãe; eu que vou me infiltrar lá.

-Sempre selecionam mulheres para a máfia. Elas são fáceis em passar despercebidas em alguns serviços sujos.-Ele desvia o olhar para Morgana.-Que tal você ir com a Diara, Morgana? Vocês duas podem entrar como irmãs. O Ettore sempre quis que você dançasse na boate interna dele. Vocês juntas podem ser mais inteligentes e uma protege a outra.

Morgana pede pra falar um pouco à sós com Juan e eu e Jack saímos do escritório para dar espaço. Jack está bufando de ódio. Posso até ouvir os xingamentos mentais que ele está pensando.

-Fica frio tá?-Tento amenizar a situação.-Eu vou resolver tudo isso e vou voltar pra você e pra mamãe. Acredita em mim.

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