Tessa

Estou ficando muito cansada, peguei mais um turno na sorveteria para conseguir juntar mais dinheiro na minha conta conjunta com George. Nosso sonho está quase sendo concretizado.

Eu sei que minha mãe iria amar que fossemos morar com ela, mas George diz que não vai conseguir tocar em mim sabendo que minha mãe pode acabar ouvindo nossa intimidade.

Estou sempre com um hematoma diferente, nem sei como os consigo. Bato em tantos lugares acidentalmente que não ligo mais para gravar mentalmente onde me machuquei.

Chegou o final de semana, já tem alguns meses desde que George me convenceu a esperar mais para ter nosso cantinho. Estou na porta do apartamento batendo faz alguns minutos e nada dele, então resolvi ligar.

— “Amor, estou no seu apartamento, por que não está atendendo a porta?” — está estranhamente silencioso onde ele está.

— “Oi, espera um pouco.” — ele parece ofegante, escuto algo se abrir e depois se fechar — “Eu estou muito ocupado agora com um projeto grande no trabalho. Descobrimos que nos próximos dias vão chegar três aviões cheios de turistas indicados para nós. Vou chegar tarde em casa hoje, me desculpa, amor.”

— “Está me achando inocente e ingênua, George? Você só trabalha aos sábados até às duas horas da tarde e já são quase nove da noite. Onde você está?”

— “Não acredito no que estou ouvindo! Está mesmo desconfiando de mim, Tessa? Tudo o que estou fazendo até agora é por nós, abri mão de um único sábado e você já vem com essa desconfiança para cima de mim?”

— “Tem alguma coisa muito errada aqui, mas tudo bem, George, vou voltar para casa.”

— “Só tenta entender que eu estou fazendo isso por algo maior.”

Por algo maior… idiota. Passo na frente da agência Big Apple Tours, onde George trabalha e me sinto mal. Tem alguns funcionários lá dentro e tá tudo aceso, ele estava falando a verdade.

Volto para casa com um certo remorso, mas quem não ficaria desconfiada numa situação dessa? Os dias, semanas e meses passam. Eu não acredito que falta pouco menos de três meses para bater a meta imposta por George para conseguirmos o valor que ele estimou.

Estou na sorveteria, Hector tentou fechá-la com denúncias infundadas quatro vezes e não conseguiu. Me senti realizada diante de suas derrotas, pensei que não o veria tão cedo e me enganei feio. Ele veio até a sorveteria… acompanhado de um homem alto, forte e exageradamente lindo.

Aquele filho da puta do meu progenitor fez os pedidos e foi se sentar, sei que a escolha foi do tal senhor Mouzakis, mas aquele filho da puta que pagou e exigiu ser entregue na mesa. Até aí tudo bem, empinei o nariz e fui… eu tinha que estragar tudo.

Tropecei nos meus pés e caí com tudo, mas isso nem foi o pior da noite. Eu caí no colo do homem que estava com Hector, o melhor da noite foi o Hector coberto de sorvete.

— Não sei o seu nome… — falo quase sussurrando — Mas eu agradeceria muito se você parasse de apertar a minha cintura e me permitisse sair do seu colo.

Acho que só agora ele percebeu a situação em que estávamos, mas ele precisava mesmo me jogar no chão? O tal senhor Mouzakis se levanta parecendo bem irritado.

— Poderia ter mais cuidado e olhar para onde anda? Cai no colo de todos os clientes dessa sorveteria por acaso?

Ele não disse isso, quem esse idiota pensa que é para falar comigo desse jeito?

— Eu sabia que você seria problema assim que entrou por aquela porta ao lado daquele ali. Quero que os dois se retirem daqui, agora mesmo.

— Quem pensa que é para me colocar para fora sendo que a errada aqui é você? — ele se aproxima de mim enquanto me levanto do chão.

— Sou Tessa Adams, você me insultou e eu tenho todo o direito de colocar você para fora do local onde eu trabalho!

— Tessa, não fale assim com o senhor Mouzakis, você não o conhece e não sabe com o que ele trabalha. — Hector se coloca de pé e fica entre nós dois.

— Eu vou embora, baixinha, mas é porque eu quero.

Ele fala de forma arrogante e sai sem me dar chance de falar algo atrevido de volta. Que ódio desse homem.

— Tessa, o que houve aqui? — Safira, dona da sorveteria aparece.

— Vou limpar essa bagunça enquanto te conto.

Limpo a bagunça que ficou enquanto conto para Safira o que aconteceu e ela fica surpresa com o rumo que as coisas tomaram.

— Tessa, tome cuidado. Não conhecemos as pessoas o suficiente para saber do que são capazes. Se até o Hector te advertiu não acha que precisa ter cuidado?

— Está tudo bem, Safira, eu não ofereço perigo e não sou uma donzela!

Me despeço da Safira e vou para casa, em casa tomo meu banho e desço para avisar minha mãe que hoje iremos comer pizza.

Hoje faz um ano que George me pediu para esperar e juntarmos mais dinheiro, me levantei da cama muito feliz. Dois dias atrás encontramos o apartamento perfeito, vou ter que arrumar mais um emprego aos finais de semana para pagar as contas extras, mas estou feliz.

Ao descer e chegar na sala não sinto o cheiro de café como sempre, ao invés disso vejo alguém que não devia estar na minha sala olhando diretamente para mim.

— Mãe? — chamo por ela e não tenho resposta.

— Sua mãe não está! — o tal senhor Mouzakis está na minha sala me encarando com um olhar frio.

— Quem é você e por que está na minha sala? — caminho devagar na direção da mesinha onde deixei meu celular carregando ontem a noite — Onde está a minha mãe?

— Eu sou Leonidas Mouzakis. Pode pegar seu celular, olhe sua conta bancária.

Ele apenas continua me olhando, por curiosidade faço o que ele diz. Quando abro meu app do banco e vejo a minha conta conjunta com o George zerada sinto uma dor no meu peito.

— Você me roubou? Roubou meu dinheiro? Como?

— Eu não fiz nada, mas aquele merdinha que já tem uma certidão de óbito fez. Ele fugiu com a minha noiva, até eu encontrar aqueles dois você vai comigo para a Grécia e ficará no lugar da minha noiva até eu inventar uma boa desculpa para terminar o noivado.

Sinto minha visão escurecer e tudo à minha volta se desfazer enquanto fecho meus olhos e me ajoelho no chão tentando entender o que está acontecendo.

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