Tessa

O que está acontecendo com a minha vida? Será que levantei com o pé esquerdo e não vi? Deus, sei que sou azarada e que vivo cheia de hematomas, mas isso já é sacanagem.

Minha mãe… onde ela deve estar? O que esse homem fez com ela? Será que está bem? Vou ter um ataque cardíaco desse jeito. Ele deixou claro que a polícia não vai me ajudar, se eu insistir isso pode afetar minha mãe já que não sei o que ele fez com ela.

— Minha mãe… — sinto minha garganta arranhar — Se eu for com você, o que me garante que a minha mãe vai voltar para casa bem sem nenhum machucado ou trauma?

— Ela está bem, ninguém vai machucá-la sem um comando meu! Ela não sabe que está na mira de uma arma, então, sem traumas.

— O que… o que vou dizer para ela? Minha mãe vai chamar a polícia se eu não voltar para casa no final da tarde.

— Vamos esperar ela voltar e você vai dizer para ela que eu te ofereci um emprego de seis meses na Grécia. Vou enviar um valor alto para ela todo mês para manter a farsa.

— Você quer que eu largue meu trabalho para passar seis meses na Grécia fingindo ser a sua noiva? Isso vai mexer com a minha vida.

— Vai assinar um contrato de exclusividade comigo, vai ganhar bem para fazer isso. Por mais que eu não seja obrigado a isso vou ressarcir o tempo que ficar fora.

Esse filho da puta está mesmo falando para mim que não é obrigado, sendo que é ele que está querendo me levar contra a minha vontade para outro país que por sinal não sei o idioma local?

— Eu sou uma piada para você?

— Como assim? — Ele pergunta arqueando uma sobrancelha.

— Está me tirando do meu lar contra a minha vontade e mudando a minha vida, pensa mesmo que tem o direito de dizer que não é sua obrigação pagar pelo tempo que vou ter que dedicar a você?

— Nós nunca daríamos certo, sua personalidade é um grande problema entre nós!

— Pelo menos uma coisa boa nisso tudo.

Eu ia falar mais coisas até que minha mãe entra em casa e eu corri para abraçá-la. Nunca senti tanta saudade de um abraço dela igual estou sentindo agora. Coloquei meu ouvido em seu peito só para ouvir seu coração bater.

— Tessa, filha, só fui até o mercado comprar umas coisas para você comer antes de ir trabalhar. Não fugi de você. — Minha mãe dá risadas.

— Eu te amo muito, mãe. Tudo o que eu faço, tudo o que eu fizer nessa vida é pelo seu bem, é porque te amo incondicionalmente.

— Eu também te amo incondicionalmente, filha. Aconteceu alguma coisa? Você está estranha.

Olho para o homem arrogante e depois olho para a minha mãe, sinto meu coração parar quando vejo uma luz vermelha de uma mira dançar na cabeça da minha mãe. Meu olhar volta para Leonidas Mouzakis.

— Mãe, esse é o senhor Leonidas Mouzakis, ele me ofereceu… — odeio mentir para a minha mãe — Um trabalho, na Grécia. Serão apenas seis meses, mas vou ganhar bem.

— Tessa… — minha mãe olha para Leonidas e depois para mim — Como assim vai para a Grécia? E o seu trabalho? Ainda tem o George, não sei se ele vai concordar em ficar tanto tempo longe.

— Mãe, não se preocupe, sei o que estou fazendo. Vou te ligar todos os dias ou enviar mensagem, só quero que se cuide. E não precisa mais fazer bicos para ganhar um trocado. O senhor Mouzakis vai enviar uma quantia do meu salário para a senhora enquanto eu estiver por lá.

— Tessa, tem certeza que vai mesmo fazer isso? — Eu olho para Leonidas que mostra uma feição calma enquanto eu estou uma bagunça.

— Tenho certeza sim, mãe! Vou subir agora, preciso me arrumar.

— Pensando bem, não precisa levar uma mala, Tessa. Para o trabalho que vai exercer vou comprar algumas roupas pra você. Vista o que tem de melhor e pegue seus documentos.

Que grande babaca, minhas roupas não são boas o suficiente para o senhor todo poderoso? Que se dane, vou vestir o que eu quiser, ele não manda em mim.

Subo, ao entrar no meu quarto desabo em lágrimas. Aquele desgraçado do George levou todo o meu dinheiro, pegou o nosso dinheiro suado para fugir com outra. Como fui tão ingênua?

Tomo um banho, pego uma calça jeans preta, meu tênis na cor da calça, visto uma blusa lilás de alças finas, uma jaqueta preta. Me olho no espelho e não sinto vontade de me maquiar, mas faço mesmo assim. Prendo meu cabelo do lado direito com um presilha de cristais lilás.

Pego um conjunto de jóias de pedras lilás e ouro. Meus olhos estão vermelhos, mas a maquiagem ajudou um pouco a esconder a cara inchada de choro.

Numa bolsa coloco meus documentos, meu carregador e o meu celular acabei deixando lá embaixo, vou guardar assim que tomar coragem para descer. Minha mãe bate na porta e eu digo que pode entrar.

— Filha, como está linda. Que bom que está usando o conjunto de jóias que te dei, até a presilha que comprei porque achei que combina. Sei que não são jóias verdadeiras, mas são de coração.

— Eu amo tudo o que a senhora me dá.

— Tessa, quer mesmo fazer isso? Se for por causa do dinheiro nós sempre damos um jeito, não precisa se sacrificar por mim, filha.

— Mãe, é um prazer para mim fazer tudo pelo seu bem estar, eu te amo.

Dou um último abraço na minha mãe, passo um perfume, seguro a mão dela e desço. Não sei bem o que esperar dessa viagem, não sei se esse homem vai mesmo me deixar voltar depois desses seis meses.

Mas preciso acreditar que sim. Queria o George aqui para confrontá-lo, saber porque me traiu dessa maneira. Não sei se vou encontrá-lo de novo, mas eu queria.

Por culpa dele minha mãe e eu estamos nas mãos de alguém que eu não conheço e que pode nos machucar. Se eu encontrar com o George, não sei do que sou capaz.

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