Dreadspire – O Abismo Da Escuridão

Capítulo 1 – Lothrien

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A sala estava aquecida pela conversa animada. Estella e Stacy serviam o jantar, ocasionalmente se juntando à conversa entre Shigure e Mickey, que pareciam reviver os velhos tempos. O aroma da comida se espalhava pelo ambiente, misturando-se ao som de risadas e vozes animadas. Akira, sentado ao lado da mãe, observava Mickey com curiosidade. O homem tinha um ar descontraído, mas seu olhar carregava histórias que pareciam pesadas.

Em meio a um momento de silêncio, Akira, curioso, inclinou-se levemente à frente e perguntou:

— Senhor Mickey, como você conheceu o meu pai?

O homem parou por um instante, surpreendido com a pergunta. Ele trocou um olhar breve com Shigure, que sorriu de canto, como se já soubesse que esse momento chegaria. Mickey então soltou um suspiro nostálgico e recostou-se na cadeira.

— Hm... Essa é uma ótima pergunta, garoto. Deixa eu ver por onde começo...

A atenção de todos voltou-se para ele. Até mesmo Yuki, que estava mais interessada em observar Akira do que na conversa, agora ouvia atentamente.

— Foi há muito tempo... Num lugar que eu não desejo a ninguém.

Mickey entrelaçou os dedos e começou a contar sua história.

DREADSPIRE – O ABISMO DA ESCURIDÃO

Ele era jovem, forte e arrogante. Sua vida mudou drasticamente quando foi acusado injustamente do assassinato do Rei de Stormhaven. Por mais que gritasse sua inocência, ninguém acreditou nele. Seu destino foi selado sem um julgamento justo.

Ele foi enviado para Dreadspire, uma prisão que era mais um inferno na terra. Uma torre subterrânea, onde quanto mais profundo, mais perigosos eram os prisioneiros e as criaturas que lá habitavam.

— Fui jogado no andar -45, um dos piores lugares daquele buraco. Ali, bestas ferozes eram mantidas enjauladas ao lado dos prisioneiros. Você sentia os olhos delas sobre você, esperando uma oportunidade para te rasgar em pedaços.

Mickey fez uma pausa, pegou um gole de vinho e continuou:

— Mesmo sendo arrogante na época, eu sabia que aquele não era um lugar para bancar o orgulhoso. Se eu não fosse cuidadoso, morreria antes de poder provar minha inocência.

Foi ali, naquela cela, que encontrou Shigure.

O homem que dividia sua cela era jovem, talvez um pouco mais novo que ele, mas algo nele era diferente. Ele exalava uma aura assustadora. Seus olhos não tinham medo, apenas um vazio silencioso e uma determinação inquebrantável.

Shigure havia sido capturado depois de uma traição. Seu próprio mestre foi forçado a entregá-lo para proteger sua família.

— Nós não éramos exatamente amigos no começo. Mas sabe como é, quando você passa tempo suficiente num inferno desses, ou você enlouquece, ou encontra alguém para confiar...

Os anos se passaram. Para manterem a sanidade, eles treinavam sempre que podiam dentro da cela. Seus corpos permaneciam fortes, e suas mentes, afiadas.

Então, um erro mudou tudo.

— Uma das bestas escapou. E o caos tomou conta da prisão.

Guardas foram dilacerados, prisioneiros tentavam fugir, e, em meio à destruição, a grade da cela deles foi destruída. Mickey e Shigure não perderam tempo.

Mas subir para a superfície era impossível. O único caminho era para baixo.

Eles desceram mais dez andares até o andar -55, o coração sombrio de Dreadspire. Era um salão gigantesco, repleto de marcas de garras nas paredes. No centro, uma cela colossal se erguia, cercada por símbolos estranhos e runas desconhecidas.

No meio da cela, um pedestal de quartzo segurava uma katana.

Shigure sentiu um chamado. A lâmina não tinha cor, sua bainha estava ausente, e os desenhos nela eram quase indistinguíveis. Era uma espada sem nome, vazia... Mas terrivelmente poderosa.

Ele a empunhou.

E naquele instante, algo despertou dentro dele.

Com a nova espada em mãos, eles voltaram ao andar -45. O que antes era um local de gritaria e violência, agora estava mergulhado em sangue e pedaços de corpos espalhados pelo chão.

A fera que causara tudo aquilo os encontrou.

— E foi aí que eu vi pela primeira vez do que seu pai era capaz, Akira.

A batalha foi brutal, mas Shigure não hesitou. A lâmina cortava o ar com uma velocidade impressionante, e a besta, que havia devastado a prisão inteira, não teve chance.

Quando finalmente chegaram à superfície, estavam exaustos. Mas vivos.

Foi ali que seus caminhos se separaram. Mickey decidiu reconstruir sua vida longe da guerra, enquanto Shigure retornou ao seu clã.

A sala ficou em silêncio.

Todos estavam absorvendo a história.

Akira sentia o coração disparado. Seu pai... Era incrível.

Ele sempre soube que Shigure era forte, mas agora... Era diferente. Seu respeito e admiração cresceram ainda mais.

— Você está bem, querido? — perguntou Estella, notando a expressão intensa do filho.

— Eu... Eu quero ser forte e incrível assim como meu pai. — disse Akira, seus olhos brilhando.

Shigure apenas sorriu de leve.

Na manhã seguinte, o sol mal havia surgido e Akira já estava na varanda, conversando com Yuki. Eles riam e trocavam histórias, até que Tsukasa e Kazuki apareceram.

— Ei, Akira! Vamos treinar! — chamou Kazuki, já animado.

— Ei Akira... Quem é essa daí? — Tsukasa perguntou.

— Ah, essa aqui é a Yuki, ela é filha do senhor Mickey.

— Oi! — Yuki sorriu, simpática.

Tsukasa, sempre observador, ergueu uma sobrancelha e depois olhou para Akira com um pequeno sorriso malicioso.

— Você tá popular, hein?

— Q-quê?! Não é nada disso!

Yuki apenas riu.

Após se despedirem dos Horns, que partiram para encontrar um lugar para morar, Akira sentiu algo dentro de si:

Determinação.

Ele queria ficar mais forte.

Junto com Kazuki e Tsukasa, ele voltou à montanha.