Aaron estava sentado na arquibancada da quadra de basquete, ainda segurando a bola entre as mãos, enquanto seus amigos continuavam zoando a história do dia anterior. Ele bufou, jogando a cabeça para trás e olhando para o céu, tentando ignorá-los. Mas, sem perceber, começou a falar alto, mais para si mesmo do que para os outros.
"Eu lembro que, quando eu era criança, tentei chamar a avó da Sn de 'dona', mas ela olhou bem na minha cara e disse: 'Menino, para com essa formalidade! Pode me chamar de vovó, que no fundo você já é da família’."
Os amigos, que ainda riam da conversa anterior, pararam por um momento e se entreolharam.
"Espera aí..." um deles disse, segurando o riso. "Ela já te fazia chamar ela de vovó quando vocês eram crianças?"
Aaron deu de ombros. "Sim. Ela sempre foi assim. Dizia que me via tanto quanto via a Sn, porque a gente vivia brigando na quadra. Sempre me dava bronca, puxava minha orelha quando eu provocava a Sn... Mas também sempre me dava comida quando eu aparecia na casa dela."
Outro amigo arqueou uma sobrancelha. "Ah, então além de puxar sua orelha, ela te alimentava? Mano, você praticamente já era um neto postiço e nem percebeu."
Os garotos começaram a rir de novo, mas Aaron ignorou. Ele estava perdido nas lembranças.
Lembrou-se de quando tinha uns nove anos e Sn e ele estavam brigando porque ela dizia que jogava melhor. Ele empurrou ela de leve, e, do nada, sentiu uma mão firme puxando sua orelha.
"Menino, quantas vezes eu vou ter que falar pra você parar de ser teimoso? Eu já falei que essa menina tem futuro, aprende a aceitar que ela é boa!"
Ele resmungou na época, mas, no fundo, sempre respeitou a avó de Sn. Ela era dura, mas também sabia quando pegar leve.
Agora, depois de tantos anos, ainda se sentia do mesmo jeito.
"Ei, Aaron..." um dos amigos o chamou, interrompendo seus pensamentos.
Ele olhou para os caras, que tinham sorrisos maliciosos no rosto.
"Se até a avó da Sn já te considerava da família desde criança... você nunca parou pra pensar que talvez, só talvez, ela esteja certa?"
Aaron bufou, jogou a bola com força no chão e se levantou. "Vocês falam besteira demais."
Os amigos explodiram em risadas.
"Olha como ele tá bravo!"
"É porque sabe que é verdade!"
Aaron fingiu que não ouvia e caminhou até a quadra, tentando se concentrar em outra coisa. Mas, no fundo, as palavras da avó de Sn ainda estavam lá, ecoando na sua mente.
E, pela primeira vez, ele não sabia como rebater.
Aaron jogou a bola contra o chão com força, tentando afastar os pensamentos que seus amigos tinham plantado na cabeça dele. Mas era inútil. Desde criança, ele chamava a avó de Sn de "vovó", e agora, depois de tantos anos, ela ainda o tratava como parte da família.
Ele parou no meio da quadra e passou a mão no cabelo, frustrado. Por que isso estava incomodando tanto?
Seus amigos ainda riam na arquibancada, trocando provocações.
"Mano, na moral, você já chamava a avó dela de vovó, passava o dia brigando com a Sn, e agora ainda fica negando o óbvio?"
Outro amigo riu. "A avó dela sabe das coisas. Deve estar esperando vocês casarem pra dizer: 'Eu avisei'."
Aaron bufou e pegou a bola de volta. "Vocês são insuportáveis."
Ele se virou e fez um arremesso perfeito. A bola entrou limpa na cesta, mas os comentários dos amigos continuavam martelando na sua mente.
Foi então que ele ouviu uma voz familiar atrás dele.
"Do que vocês estão rindo tanto?"
Aaron congelou por um instante antes de se virar lentamente. Sn estava parada ali, de braços cruzados, olhando para o grupo com curiosidade.
Os amigos de Aaron trocaram olhares e seguraram o riso.
"Ah, nada demais, Sn. Só estávamos lembrando como o Aaron te provocava quando criança... e como a sua avó puxava a orelha dele toda vez."
Sn arqueou uma sobrancelha e depois olhou para Aaron. "Ah, isso? Normal. Minha avó sempre fez isso. Mas o que tem de tão engraçado?"
Aaron fechou os olhos por um segundo, torcendo para que a conversa acabasse ali. Mas é claro que seus amigos não iam deixar barato.
"Ah, nada... só que a sua avó meio que confirmou uma teoria ontem."
Sn olhou para Aaron, curiosa. "Que teoria?"
Aaron apertou a bola nas mãos e lançou um olhar mortal para os amigos. Mas um deles se adiantou, ainda rindo.
"A de que o Aaron gosta de você e só não admite!"
O silêncio tomou conta da quadra. Sn piscou algumas vezes, surpresa, e Aaron sentiu um calor subir pelo rosto.
"Vocês são uns idiotas," ele resmungou, jogando a bola contra o chão e virando de costas para sair da quadra.
Sn ficou parada por alguns segundos, sem saber o que dizer, enquanto os amigos de Aaron explodiam em gargalhadas.
"É... parece que atingimos um nervo," um deles comentou, ainda rindo.
Sn, no entanto, apenas observou Aaron se afastar. Algo na maneira como ele reagiu fez com que as palavras da sua avó começassem a fazer sentido.
Será que ela estava certa o tempo todo?
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Atualizado até capítulo 53
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