Mia respirou fundo, tentando processar tudo o que Liriel havia explicado. Ela era um farol. Um ímã para encrencas. E agora, aparentemente, precisava enfrentar sua própria sombra. Algo que parecia mais saído de um filme do que da vida real.
— Ótimo, enfrentar minha sombra — murmurou. — Isso soa super fácil. Quem não gostaria de duelar com sua própria versão maligna, não é mesmo?
Davi, ao seu lado, bufou e cruzou os braços.
— Aposto que minha sombra seria eu dormindo no sofá com um pacote de salgadinhos.
— Isso seria menos assustador — comentou Ezra, estalando os dedos. — Mas, infelizmente, a de Mia parece mais inclinada a querer destruí-la.
Liriel arqueou uma sobrancelha e apontou para o círculo de luz líquida que cintilava no centro da sala.
— Entre.
Mia olhou para a substância reluzente, depois para Liriel, depois para seus amigos. Nenhum deles parecia minimamente inclinado a sugerir um plano alternativo.
— Algum conselho antes de eu pular no abismo da minha própria alma? — perguntou.
— Sim — disse Liriel. — Não morra.
— Muito útil, obrigada.
Suspirando, Mia fechou os olhos e pisou dentro da luz.
A sensação foi imediata. Como ser sugada por um redemoinho sem gravidade. Seu estômago revirou, sua mente rodopiou e, antes que pudesse gritar algo apropriado como "AHHHH", o mundo ao seu redor simplesmente... desapareceu.
O Encontro Sombrio
Mia abriu os olhos.
Estava de pé em um espaço infinito. Não havia paredes, chão ou céu. Apenas um vazio prateado se estendendo ao redor. Bem à sua frente, uma figura se formava, como se estivesse sendo esculpida a partir das sombras.
E então, ali estava ela.
Ou melhor, sua outra versão.
Mais alta, mais sombria, com olhos dourados cintilantes e uma postura de quem já sabia exatamente como destruir a humanidade num piscar de olhos. E, claro, um sorriso ligeiramente psicopata.
— Finalmente — disse a Sombra-Mia, inclinando a cabeça. — Achei que nunca nos encontraríamos.
Mia piscou.
— Ah, ótimo. Agora estou conversando comigo mesma. Sempre quis saber como seria ser minha própria terapeuta.
A outra Mia riu baixinho, como se estivesse realmente se divertindo.
— Eu sou você. Mas sem as amarras. Sem os medos. Sem as dúvidas.
Mia suspirou.
— Que conveniente. Se puder ser também a versão que paga meus boletos, seria incrível.
A Sombra-Mia ignorou o comentário e ergueu a mão. Uma lâmina de luz surgiu, idêntica à de Mia. Só que, em vez de brilhar como fogo líquido, era negra como um eclipse sólido.
— Você quer entender quem realmente é? Então lute.
Mia sentiu sua própria lâmina surgir em sua mão, como se tivesse vida própria.
Ela respirou fundo.
— Certo. Porque resolver isso com uma conversa tranquila e uma xícara de chá não era uma opção, né?
E então, a batalha começou.
A Luta Contra Si Mesma
A Sombra-Mia avançou primeiro, rápida como um raio. Mia mal teve tempo de bloquear o primeiro golpe antes de ser empurrada para trás pelo impacto.
— Nossa! — arfou. — Você tem certeza de que sou eu? Porque não lembro de me inscrever para um treinamento ninja!
— Você se reprime demais — respondeu a Sombra-Mia, girando a lâmina. — Se soltasse todo o seu potencial, nem precisaria dessa luta.
— Ouvi essa mesma conversa em um anime uma vez — rebateu Mia, desviando de um golpe que teria decapitado sua cabeça em outro universo.
As lâminas negra e dourada se chocavam em flashes de luz e sombra, cada golpe ecoando no vazio. Mia sentia o suor escorrendo por sua testa. Não era só uma luta física; era como se cada golpe que levava tentasse arrancar algo de dentro dela. Suas dúvidas, seus medos, suas inseguranças. Como se a sombra estivesse tentando absorver tudo.
— Você luta contra mim como se estivesse lutando contra a pior versão de si mesma — disse a sombra. — Mas sou apenas o que você tem medo de aceitar.
Mia hesitou. E essa hesitação quase custou a luta.
A lâmina negra deslizou ao longo de sua defesa e rasgou sua lateral, queimando como se estivesse sendo atingida por puro trovão.
— ARGH! — gritou, cambaleando para trás.
A sombra sorriu.
— Agora está começando a entender.
Mia pressionou a mão contra a ferida. A dor era intensa, mas algo dentro dela começou a se conectar. Era isso. Esse era o teste. Não era sobre derrotar sua sombra. Era sobre aceitá-la.
Ela endireitou a postura, respirou fundo e baixou sua lâmina.
A Sombra-Mia franziu a testa.
— O que está fazendo?
— Algo que provavelmente deveria ter feito antes de começar a gritar e balançar uma espada no ar como uma lunática — disse Mia. — Aceitar que você faz parte de mim.
A sombra hesitou, e naquele momento, Mia sentiu tudo se transformar.
A sombra começou a se dissolver, a luz e a escuridão se fundindo, girando ao redor dela, se integrando de volta. A dor desapareceu. O vazio se preencheu.
E então, Mia estava de volta.
A Volta Triunfal (Ou Quase Isso)
Ela abriu os olhos, sentindo o chão de pedra firme sob seus pés. Davi e Ezra estavam olhando para ela como se tivessem acabado de assistir a um show pirotécnico.
— Você está viva! — disse Ezra, aliviado. — Eu já estava planejando um discurso emocionante para o seu funeral.
— Ah, que consideração — Mia revirou os olhos. — Eu venci, se alguém quiser saber.
Davi olhou para Liriel.
— Então... ela passou?
Liriel sorriu levemente.
— Ela entendeu. O que significa que agora está pronta para o próximo passo.
Mia gemeu.
— O próximo passo?! Eu quase morri conversando comigo mesma! O que mais pode ter?
Liriel apenas sorriu enigmaticamente.
— Você está prestes a descobrir.
Mia suspirou e olhou para seus amigos.
— Vocês já pensaram em fugir para uma ilha deserta e viver sem essa loucura?
Davi ergueu a mão.
— Todos os dias.
Ezra estalou os dedos.
— Mas aí quem salvaria o mundo?
Mia bufou.
— Justo. Mas só para constar, eu ainda odeio isso.
E assim, com um novo poder em mãos e uma confiança recém-descoberta, Mia se preparou para o que quer que o destino reservasse para ela.
O subterrâneo parecia vibrar ao seu redor, como se a própria terra estivesse sussurrando segredos que apenas ela podia ouvir. Liriel deu um passo à frente e fez um gesto para que Mia a seguisse. Ezra e Davi trocaram olhares antes de se apressarem atrás delas.
A passagem à frente se abria em um vasto salão iluminado por cristais luminescentes que pendiam do teto como estrelas petrificadas. No centro, uma figura alta e envolta em um manto prateado os aguardava. Seus olhos brilhavam com um tom de azul etéreo, e sua voz soou como um eco distante quando falou:
— Mia, criança da luz, sua chegada era esperada.
Mia piscou, olhando para os amigos.
— Isso é bom ou ruim?
Davi inclinou a cabeça.
— Depende. Ele vai nos oferecer chá ou nos jogar em um poço sem fundo?
A figura sorriu levemente, como se estivesse acostumada àquele tipo de recepção.
— Nada disso. Mas o que está prestes a descobrir pode ser tão vertiginoso quanto um poço sem fim.
Ezra bateu palmas uma vez.
— Ótimo. Mais enigmas. Por que ninguém pode simplesmente dizer as coisas claramente? Algo como "Mia, você tem que apertar esse botão vermelho e salvar o mundo"? Não? Nada?
A figura ignorou o comentário e ergueu as mãos. O chão sob eles brilhou com runas douradas, e um vento invisível soprou através do salão. Mia sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Algo dentro dela reagia àquele chamado, como se uma peça esquecida estivesse finalmente voltando ao seu lugar.
— O que está acontecendo? — perguntou, enquanto sua pele parecia formigar com energia.
— Você está despertando — respondeu a figura. — E com isso, vem o verdadeiro teste. Até agora, você enfrentou a si mesma. Agora, precisa enfrentar a verdade do seu papel.
Mia respirou fundo.
— Claro. Porque enfrentar minha versão sombria foi super fácil. Que venha a próxima insanidade.
A luz ao seu redor intensificou-se, e o mundo começou a girar.
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Atualizado até capítulo 100
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