Da Magia à Sedução
A noite estava densa e inquieta. O vento sussurrava contra as janelas do pequeno quarto de Mia, carregando um presságio que ela não conseguia ignorar. A sensação de que algo estava prestes a acontecer a envolvia, tornando impossível pregar os olhos. Virou-se na cama, tentando afundar no colchão e esquecer aquela ansiedade inexplicável. Mas o sentimento persistia, crescendo dentro dela como uma tempestade silenciosa.
O luar infiltrava-se pelas cortinas entreabertas, projetando sombras alongadas pelo quarto. Ela lançou um olhar para o despertador na mesa de cabeceira.
Soltou um suspiro frustrado e jogou as cobertas para o lado, sentando-se na beira da cama.
Havia algo lá fora. Ela podia sentir.
Descalça, caminhou lentamente até a janela. O frio do piso percorreu sua pele, mas o que realmente a fez perceber foi a visão da rua.
O bairro estava silencioso, como sempre acontecia àquela hora. Mas a luz da lua parecia mais intensa do que o normal, banhando as casas e calçadas com um brilho prateado quase etéreo. Mia franziu a testa. Algo parecia deslocado naquela paisagem familiar.
Então, a batida na porta ecoou pela casa.
Três batidas, seguidas de um intervalo, depois mais duas.
Mia estremeceu.
Ficou imóvel por um momento, ouvindo apenas o som do próprio coração martelando contra as costelas. Quem bateria à sua porta no meio da madrugada?
Descendo as escadas o mais silenciosamente possível, ela hesitou ao chegar à entrada. A madeira antiga da porta parecia vibrar sob a pressão de sua indecisão. Seu corpo gritava que algo estava errado.
Então, uma voz sussurrou do outro lado.
— Mia... sou eu.
Ela sentiu o estômago revirar.
Davi.
O pânico em sua voz a fez agir. Girou a maçaneta e puxou a porta, mas o que viu a fez congelar.
Davi entrou cambaleando, o rosto pálido e sujo, as roupas desgrenhadas como se tivesse fugido de algo ou de alguém. Seus olhos, sempre tão expressivos, brilhavam com um tom estranho — algo entre o desespero e o selvagem.
— O que aconteceu? — perguntou, fechando a porta atrás dele.
Ele não respondeu de imediato, apenas olhou para a janela, como se esperasse que algo surgisse das sombras lá fora.
— Eles estão vindo — murmurou.
— Quem está vindo?
Antes que ele pudesse responder, um som se espalhou pela noite.
Passos.
Mia sentiu um arrepio subir pela espinha. Caminhou até a janela e espiou pelas frestas da cortina.
No meio da rua, figuras encapuzadas se moviam silenciosamente. Seus rostos estavam ocultos sob mantos escuros, e, embora não fizessem qualquer ruído, a presença deles parecia alterar a própria atmosfera ao redor. O ar parecia mais denso, carregado com eletricidade estática.
Mia se afastou da janela, o coração martelando contra as costelas.
— O que são essas coisas?
Davi segurou seu braço com força.
— Não temos tempo. Temos que sair daqui agora.
— Para onde?
Ele abriu a boca para responder, mas outra voz cortou o silêncio.
— Tarde demais para fugir.
Mia se virou e encontrou Cher parada no topo da escada, observando-os com uma expressão séria.
Sua avó raramente demonstrava emoções intensas, mas havia algo nos olhos dela naquela noite que a fez se encolher.
Cher desceu os degraus devagar, e, mesmo sem pressa, havia algo imponente em sua postura.
— Você sabia disso? — Mia perguntou, o tom mais alto do que pretendia.
— Há muito tempo — foi a resposta enigmática.
Mia sentiu um nó se formar no estômago.
Antes que pudesse questioná-la, um impacto violento atingiu a porta da frente, fazendo a madeira estremecer.
Davi recuou um passo.
— Eles nos encontraram.
Cher suspirou, fechando os olhos por um instante. Quando os abriu novamente, havia uma determinação fria em seu olhar.
— Se vocês não vão correr, então vou lidar com isso.
Antes que Mia pudesse protestar, Cher abriu a porta.
E foi então que Mia viu.
As figuras encapuzadas estavam lá, mas não eram apenas sombras. Suas formas tremulavam, como se fossem feitas de algo que não pertencia completamente àquele mundo. Seus olhos brilhavam num vermelho opaco, e, quando um deles se moveu, um grunhido gutural ecoou pela noite.
Mia recuou instintivamente.
Mas Cher não.
Ela ergueu uma das mãos e murmurou algo numa língua desconhecida. O ar ao redor dela ondulou, como se estivesse distorcendo a própria realidade.
E então uma explosão invisível sacudiu a rua.
As criaturas foram arremessadas para trás, dissolvendo-se na escuridão.
O silêncio se instalou novamente.
Mia olhou para Cher, boquiaberta.
— O que... o que foi isso?
Cher voltou-se para ela com um olhar sério.
— O começo do fim.
Davi puxou Mia pela mão, sua expressão urgente.
— Precisamos ir. Eles não vão demorar para voltar.
Mia hesitou. Tudo que ela achava que sabia sobre o mundo desmoronava diante de seus olhos. Sua avó acabara de fazer algo impossível. Criaturas sobrenaturais estavam atrás de Davi.
E ela estava no meio de tudo.
Cher aproximou-se dela e tocou seu rosto suavemente.
— Mia, a escolha é sua. Ficar e esperar que eles voltem ou partir agora e descobrir a verdade por si mesma.
Mia engoliu em seco, o coração disparado.
Seus instintos gritavam que algo muito maior estava por trás daquilo.
E, pela primeira vez, soube que sua vida jamais seria a mesma.
Deu um passo à frente, entrelaçando os dedos nos de Davi.
— Vamos.
Ele assentiu e puxou-a pela mão, levando-a para longe da casa.
Antes de desaparecer na noite, Mia lançou um último olhar para Cher.
Sua avó não se moveu. Apenas ficou ali, observando.
E foi naquele momento que Mia percebeu.
Cher sabia mais do que estava revelando.
E, por alguma razão, aquela verdade parecia ser mais assustadora do que qualquer coisa que havia acabado de enfrentar.
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Atualizado até capítulo 81
Comments
Gaivota Pensante
a Avó sabe de alguma coisa
2025-02-19
1
Gaivota Pensante
intrigante, ótimo começo
2025-02-19
1