Descubra os segredos ocultos.

O silêncio que se seguiu era quase tão inquietante quanto o poder que ainda pulsava dentro de Mia. O ar estava carregado com o cheiro metálico de magia recém-despertada, e a clareira parecia ter sido sugada para um momento fora do tempo.

Davi esfregou a lateral da cabeça, onde havia batido ao ser lançado para trás.

— Eu odeio isso.

Ezra, por outro lado, olhava para Mia como se ela fosse um experimento particularmente fascinante.

— Você realmente gosta de me surpreender, hein?

Mia ainda segurava a lâmina de luz em suas mãos. Ela a girou levemente e observou a forma ondulante que ela tomava, como se fosse feita de energia líquida.

— Eu... Eu consegui? — Sua voz saiu hesitante.

Davi se aproximou, ainda massageando as costelas.

— Você não só conseguiu como acabou de fazer aquela coisa evaporar no ar.

Ezra cruzou os braços, seu sorriso malicioso nunca desaparecendo.

— Na verdade, não sabemos se ele evaporou ou se só decidiu dar um tempo porque estava cansado de apanhar.

Davi bufou.

— Detalhes.

Mia sentiu um arrepio percorrer sua espinha. A criatura desapareceu, mas não foi destruída. Ela sabia disso. Ele ainda estava em algum lugar. Esperando. Observando.

Ela fechou os olhos por um momento, tentando se concentrar, mas tudo o que sentia era a vibração da luz ainda correndo dentro dela como um trovão contido.

Ezra observou seu rosto com interesse.

— Como se sente?

Mia abriu os olhos.

— Como se pudesse destruir um planeta inteiro… ou desmaiar no chão.

Davi revirou os olhos.

— Ótimo. Temos uma deusa instável no grupo.

Ezra bateu palmas, empolgado.

— Finalmente algo divertido!

Davi o ignorou e virou-se para Mia.

— Sério, você está bem?

Ela respirou fundo.

— Sim. Mas… isso não acabou, né?

Ezra balançou a cabeça.

— Nem de longe.

Mia olhou para suas mãos, onde a lâmina de luz havia desaparecido.

— Então precisamos nos preparar.

Davi suspirou, jogando as mãos para o alto.

— Óbvio! A questão é: como, exatamente?

Ezra deu um sorrisinho que não inspirava confiança nenhuma.

— Tenho uma ideia.

Mia e Davi trocaram um olhar.

— Eu odeio quando você diz isso — disse Davi.

Ezra girou nos calcanhares e começou a andar na direção oposta.

— Confiança, guardião da seriedade! Vamos precisar de aliados.

Mia franziu a testa.

— Que tipo de aliados?

Ezra olhou por cima do ombro, seu sorriso se tornando um pouco mais afiado.

— Aqueles que sabem exatamente o que você acabou de se tornar.

Um calafrio percorreu a espinha de Mia.

Davi cerrou os punhos.

— Por que eu tenho a sensação de que isso vai dar muito, muito errado?

Ezra piscou para ele.

— Porque você me conhece bem demais.

E assim, sem outra escolha, Mia e Davi seguiram Ezra rumo ao desconhecido.

Se ela havia despertado um novo poder…

Agora era a hora de descobrir.

Mia sentia o chão sob seus pés vibrar de leve enquanto seguiam Ezra. Não sabia se era a energia que ainda pulsava dentro dela ou se o mundo ao redor já estava reagindo à sua transformação.

Davi caminhava ao seu lado, sempre alerta, e soltava um suspiro exasperado toda vez que Ezra olhava para trás com aquele sorrisinho de quem sabia mais do que deveria.

— Ezra, só para eu me preparar mentalmente… — Mia quebrou o silêncio. — Esses “aliados” são confiáveis ou estamos basicamente indo até um grupo de criaturas que podem querer arrancar minha cabeça?

Ezra riu.

— Defina “confiáveis”.

Davi parou de andar.

— Ah, ótimo. — Ele passou as mãos no rosto. — Estamos indo para um covil de malucos, né?

Ezra se virou com um brilho travesso nos olhos.

— Não são malucos. São… entusiastas.

Mia ergueu uma sobrancelha.

— Entusiastas do quê?

Ezra parou, seu sorriso crescendo.

— De tudo o que você acabou de se tornar.

O silêncio caiu sobre eles.

Davi fechou os olhos por um instante, claramente contando até dez.

— Então você quer nos levar direto para um culto.

— "Culto" é uma palavra muito forte — retrucou Ezra. — Eu prefiro “sociedade secreta de indivíduos altamente informados e profundamente interessados no despertar da luz.”

Mia cruzou os braços.

— E eles gostam de pessoas como eu?

Ezra inclinou a cabeça.

— Hmm… gostar talvez não seja a palavra certa. Obcecados pode ser mais preciso.

Davi bateu a mão na testa.

— Isso só melhora.

Mia respirou fundo, tentando ignorar a onda de nervosismo.

— Eles vão querer me ajudar?

Ezra sorriu, e desta vez, havia algo genuíno em seu olhar.

— Eles vão querer entender você. E isso, minha cara, pode ser a coisa mais perigosa e mais útil ao mesmo tempo.

Mia trocou um olhar com Davi. Eles não tinham muitas opções.

— Tá bom — disse ela. — Mas se alguém tentar me dissecar ou me transformar em um símbolo místico, vou usar essa lâmina de luz para cortar algumas cabeças.

Ezra abriu os braços teatralmente.

— E é exatamente por isso que eu te adoro.

E então, eles seguiram em frente. O destino? Um esconderijo desconhecido onde respostas esperavam — junto com perigos que Mia nem sequer conseguia imaginar.

O caminho os levou por corredores subterrâneos iluminados por lanternas penduradas em suportes de ferro. As sombras oscilavam conforme avançavam, projetando silhuetas distorcidas nas paredes de pedra. O lugar tinha um cheiro de terra úmida e algo levemente metálico.

Mia tentava não demonstrar, mas seu coração batia mais rápido a cada passo. Davi mantinha a mão perto da adaga na cintura, enquanto Ezra caminhava com a tranquilidade de quem sabia exatamente onde estava indo — e quem os esperava lá.

— Só para reforçar — Davi murmurou para Mia —, se isso for uma armadilha, estou pronto para explodir tudo e correr.

Ezra soltou uma risada curta.

— Vocês não vão querer correr. Eles perceberiam.

Davi estreitou os olhos.

— Ótimo. E quem exatamente são “eles”?

Ezra parou diante de uma grande porta dupla de madeira reforçada com placas de metal. Com um movimento dramático, encostou a mão no centro da porta e murmurou algo numa língua que Mia não reconheceu.

Um som baixo de trancas se movendo ecoou, e a porta se abriu lentamente.

Do outro lado, um grande salão circular se revelou, iluminado por tochas presas a pilares esculpidos com símbolos antigos. Mas não foi a arquitetura que fez Mia prender a respiração.

Foram as pessoas.

Ou melhor, os seres.

Eles estavam por toda parte — em pé ao redor da sala, sentados sobre almofadas espalhadas pelo chão, observando dos balcões acima. Seres de olhos brilhantes, peles marcadas por padrões luminescentes, humanos com tatuagens que pareciam se mover como fumaça sob a pele.

E todos, todos, olharam diretamente para Mia assim que ela pisou no salão.

O silêncio foi intenso e pesado.

Então, uma figura se destacou da multidão.

Era uma mulher de cabelos longos e prateados, que pareciam refletir a luz do ambiente. Seus olhos eram um azul profundo, como um céu noturno sem estrelas. Ela caminhou até Mia com uma postura serena e um sorriso enigmático.

— Finalmente — disse ela, sua voz soando quase como um canto. — A luz desperta.

Mia engoliu em seco.

— É, pois é… oi?

O sorrisinho da mulher cresceu.

— Seja bem-vinda, criança da luz. Sua chegada era esperada há muito tempo.

Davi soltou um suspiro ao lado de Mia.

— Eu sabia. É um culto.

Ezra apenas deu um tapinha no ombro dele e sussurrou:

— Pelo menos não querem sacrificá-la… ainda.

Mia bufou.

— Vocês dois vão me ajudar ou só ficar fazendo comentários?

A mulher prateada riu suavemente.