O vento rugia ao redor, carregando sussurros e promessas quebradas. O templo já não existia—pelo menos, não como antes. Agora, Mia estava entre ruínas antigas, pedras cobertas de musgo e gravuras ancestrais que brilhavam fracamente sob a luz da lua.
As sombras avançavam. Figuras encapuzadas se aproximavam como predadores à espreita. Os olhos vermelhos brilhavam, famintos.
E entre elas, Ezra e Davi. Dois polos opostos, duas forças puxando Mia para direções diferentes.
— Tempo esgotado. — Ezra estendeu a mão, sua voz calma, perigosa. — Venha comigo, Mia.
Davi apertou sua mão com urgência.
— Não faça isso!
O coração de Mia martelava. Cada parte de seu corpo gritava por uma decisão, mas sua mente estava em guerra.
— Eu… eu não sei…
Ezra sorriu, inclinando a cabeça ligeiramente.
— Claro que sabe. Você sentiu a verdade. Viu com seus próprios olhos.
Mia piscou, flashes da visão ainda queimando dentro dela. A mulher no manto negro, a luz dourada, as sombras consumindo tudo.
Davi se colocou entre os dois, a postura tensa.
— Ele não quer te ajudar. Ele quer te controlar!
Ezra soltou uma risada baixa.
— Controle? Não, Davi. Eu quero que ela desperte. Há uma grande diferença.
As sombras se mexeram. Os encapuzados estavam mais próximos agora, e Mia podia sentir o peso da escuridão se fechando ao seu redor.
— Decida-se, Mia. — A voz de Ezra era um sussurro carregado de poder.
O chão tremeu sob seus pés. Algo estava prestes a acontecer. Algo grande.
Mia fechou os olhos por um segundo.
Ela sempre sentiu que havia algo errado com o mundo. Que ela era diferente.
Agora, não havia mais como negar.
Ela abriu os olhos.
E escolheu.
Mia deu um passo à frente.
Davi tentou segurá-la, mas uma rajada de vento separou os dois.
— Mia! — Ele gritou, tentando avançar, mas uma barreira invisível surgiu entre eles.
Ezra sorriu.
— Sabia que você faria a escolha certa.
Mia sentiu um arrepio subir sua espinha. Era a escolha certa? Ou era tarde demais para voltar atrás?
Os encapuzados pararam, hesitantes.
Ezra ergueu a mão.
— Agora, Mia, repita comigo.
Uma antiga linguagem que Mia não reconhecia escapou dos lábios de Ezra. As palavras pareciam vivas, pulsantes.
Ela não sabia como, mas sua boca começou a se mover sozinha.
O poder queimou dentro dela.
E então tudo explodiu.
Uma onda de luz dourada irrompeu de Mia, empurrando todos para trás. As sombras se dissolveram no ar, os encapuzados gritaram antes de desaparecer como fumaça ao vento.
O silêncio caiu.
Mia ofegava. Suas mãos tremiam, ainda brilhando com a energia que havia liberado.
Davi se aproximou lentamente, os olhos arregalados.
— O que… o que foi isso?
Ezra a observava com um olhar satisfeito.
— Isso, minha querida… foi apenas o começo.
Mia sentiu o peso de suas palavras.
Ela havia cruzado uma linha invisível.
E não havia mais volta.
O ar ainda vibrava com a explosão de energia. O templo, ou o que restava dele, estava mergulhado em um silêncio denso, interrompido apenas pelo som da respiração acelerada de Mia.
Ela olhou para as próprias mãos, ainda envoltas em um brilho dourado.
Aquilo veio dela.
Aquilo era ela.
Davi se ergueu, os olhos carregados de incredulidade e… medo?
— Mia… o que você fez?
Ezra deu um passo à frente, satisfeito.
— Ela se libertou.
Mia sentiu algo ferver dentro de si—uma sensação nova, poderosa, mas perigosa. O poder ainda pulsava sob sua pele, como se não quisesse ser contido.
Mas antes que pudesse responder, um som cortou o ar.
Crack.
O chão sob eles tremeu. As pedras antigas começaram a rachar, como se a terra estivesse reagindo ao que Mia havia feito.
Ezra sorriu.
— Ah, parece que acordamos os verdadeiros donos desse lugar.
Davi se colocou na frente de Mia.
— Você sabia que isso aconteceria?
Ezra deu de ombros.
— Eu esperava. Mas quem pode prever o destino?
Um rugido ecoou das profundezas do solo. Algo se movia debaixo deles, algo grande. As rachaduras brilhavam em um tom púrpura, como se algo estivesse tentando emergir.
Mia recuou um passo, o coração martelando.
— O que está acontecendo?!
Ezra manteve seu olhar fixo no solo.
— Eles estavam selados aqui. E agora… — Ele ergueu o rosto para Mia, um brilho selvagem nos olhos. — Você os libertou.
O templo tremeu violentamente. As sombras que haviam desaparecido começaram a retornar, só que desta vez não vinham como figuras encapuzadas.
Elas vinham como criaturas.
Grandes, esguias, de corpos retorcidos e olhos brilhantes como brasas. Suas presas cintilaram na luz da lua enquanto elas se erguiam das fissuras no solo.
Davi sacou uma adaga de prata da cintura.
— Mia, corre!
Mas algo dentro dela dizia que fugir não era mais uma opção.
Ela sentiu o poder ainda pulsando dentro de si.
Sentiu as criaturas se aproximando.
E soube o que precisava fazer.
— Não. — Ela ergueu a mão.
A luz dourada brilhou novamente, mas desta vez, Mia a controlou.
Ela sentiu a energia fluir por seus dedos, se expandindo, se moldando. As criaturas pararam, hesitantes.
Ezra observava tudo, intrigado.
— Interessante…
Davi olhou para Mia, surpreso.
— Como… como você está fazendo isso?
Mia não soube responder.
Ela apenas sentiu.
A luz ao seu redor tomou forma, se tornando correntes douradas que se moveram sozinhas, prendendo as criaturas antes que elas pudessem atacar.
Elas rugiram, contorcendo-se.
E então, com um último lampejo de poder, Mia as selou de volta ao solo.
O silêncio caiu novamente.
O templo parou de tremer.
E Mia ficou ali, ofegante, tentando processar tudo o que havia acabado de acontecer.
Ezra foi o primeiro a quebrar o silêncio.
— Impressionante.
Davi ainda segurava a adaga, mas seu olhar para Mia era diferente agora. Não apenas preocupado—mas alarmado.
— Mia… quem é você?
Ela não soube responder.
Porque, pela primeira vez, sentiu que sabia.
E isso a assustava.
Ezra sorriu.
— Está começando a entender, não está?
Mia respirou fundo.
Ela entendia.
E agora, não havia mais volta.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 100
Comments
Gilva Vanelli
Gostei demais desse capítulo. Muita criatividade! Parabéns 👏👏👏
2025-03-25
0