Mia sentia sua respiração pesar, o peito subindo e descendo de maneira irregular enquanto tentava processar tudo o que acontecia ao seu redor. Aquele ser de olhos dourados tinha pronunciado um nome que ecoava dentro dela como uma lembrança esquecida, algo enterrado no fundo de sua alma. Mas como isso era possível? Quem ele realmente era? E, mais importante, quem ela realmente era?
Davi segurou seu braço, apertando-o com firmeza.
— Mia! Olhe para mim!
Ela piscou rapidamente, tentando dissipar a névoa em sua mente. O olhar preocupado de Davi a puxou de volta à realidade, mas o medo ainda rastejava por sua pele.
O ser à sua frente permaneceu imóvel, observando-a como um predador paciente.
— Você sente isso, não sente? — Ele inclinou a cabeça ligeiramente, os olhos dourados brilhando com algo entre triunfo e expectativa. — O chamado do que você é.
Mia balançou a cabeça.
— Não… Eu… Eu não sei do que você está falando.
— Sabe, sim. Você sempre soube — ele respondeu, sua voz grave ressoando pelo espaço como um trovão distante. — Você passou a vida inteira sentindo que não pertencia, que havia algo errado com o mundo à sua volta. As peças nunca se encaixaram completamente, não é?
Mia engoliu em seco. Ele estava certo. Sempre houvera um vazio, um sentimento de que algo lhe escapava, uma verdade que pairava sobre sua existência como um véu que ela nunca conseguira rasgar.
— Quem é você? — sua voz saiu como um sussurro.
O ser sorriu, e o gesto pareceu mais sombrio do que amigável.
— Você pode me chamar de Ezra.
O nome soou familiar, mas distante, como um eco vindo de outra vida.
Davi se colocou à frente de Mia, a postura defensiva.
— Não confie nele — alertou, sua voz carregada de tensão. — Ele está brincando com sua mente, tentando te manipular.
Ezra soltou uma risada baixa.
— Manipular? Ah, Davi… Você sempre foi o cachorrinho leal da linhagem dela, não foi? Sempre pronto para protegê-la, mesmo quando ela não entende o que realmente está acontecendo.
Davi rangeu os dentes, mas não disse nada.
Mia olhou de um para o outro, sentindo o peso da desconfiança crescer dentro dela.
— Vocês se conhecem?
Ezra cruzou os braços, o olhar avaliando Davi com uma mistura de diversão e desprezo.
— Claro que sim. Ele faz parte do jogo há muito mais tempo do que você imagina.
Mia se virou para Davi, confusa.
— O que ele quer dizer com isso?
Davi desviou o olhar por um momento, como se estivesse reunindo coragem para falar.
— Mia… eu…
Antes que ele pudesse terminar a frase, um estrondo sacudiu o templo.
O chão tremeu sob seus pés, rachaduras se espalhando pelas pedras antigas. Uma rajada de vento gélido percorreu o ambiente, fazendo Mia se encolher instintivamente.
Ezra apenas sorriu.
— Eles chegaram.
Mia girou nos calcanhares e viu, à entrada do templo, as figuras encapuzadas que a haviam perseguido antes. Mas agora, elas não estavam apenas observando.
Elas estavam se movendo.
Passos ecoavam pelo espaço sagrado, sombras serpenteando ao redor delas como se fossem vivas. Os olhos vermelhos brilham sob os capuzes, fixos em Mia.
Um arrepio percorreu sua espinha.
— O que elas querem comigo?
Ezra soltou um suspiro teatral.
— Querida, você ainda não percebeu? Você é a peça central disso tudo.
Davi puxou Mia pelo braço, seu tom urgente.
— Não podemos ficar aqui. Precisamos sair agora!
Mas Ezra ergueu a mão, e, como se respondessem ao seu comando, as sombras se ergueram, fechando todas as saídas do templo.
— Ah, mas por que tanta pressa? — Ele sorriu. — Não querem ouvir a verdade antes de correrem como ratos assustados?
Davi rosnou.
— Eu já sei a sua verdade, Ezra. E não deixarei que Mia caia na sua armadilha.
Mia sentiu sua paciência se esgotando.
— Chega! — Sua voz ecoou pelo templo, carregada de uma força que ela não sabia que possuía.
O silêncio caiu sobre o ambiente.
Ezra arqueou uma sobrancelha, surpreso.
Mia avançou um passo, olhando diretamente para ele.
— Se você tem algo para me contar, diga logo.
Ezra sorriu novamente, mas dessa vez havia algo diferente em sua expressão.
— Muito bem — disse. — Você quer a verdade? Então escute com atenção.
Ele ergueu uma das mãos e estalou os dedos.
Instantaneamente, o mundo ao redor deles mudou.
O templo desapareceu.
Mia piscou e se viu em outro lugar.
Uma floresta escura, onde a lua cheia brilhava intensamente sobre árvores retorcidas. Um vento frio soprava, carregando murmúrios indistintos.
E então, ela viu.
Uma figura solitária no meio da floresta.
Uma mulher, vestida com um manto negro, os olhos brilhando como brasas. Ela estendeu as mãos e invocou algo que fez o próprio ar vibrar. Luz dourada emanou de suas palmas, formando um círculo ao seu redor.
Mas antes que pudesse concluir o que quer que estivesse fazendo, sombras surgiram, envolvendo-a.
A mulher gritou, mas foi em vão.
As sombras a consumiram, e sua luz se apagou.
A visão desapareceu tão rápido quanto veio.
Mia ofegou, sentindo um nó apertar seu peito.
— Quem… quem era ela?
Ezra a observou atentamente.
— Aquela foi a última herdeira do seu sangue. E o mesmo destino aguarda você… se não aprender a controlar seu poder.
Mia sentiu seu coração martelar contra as costelas.
Ela engoliu em seco.
— Você quer me ajudar… ou me usar?
Ezra riu.
— Talvez um pouco dos dois.
Davi segurou seu ombro.
— Não confie nele.
Mia hesitou.
Ela queria confiar em Davi. Queria acreditar que ele sempre estaria ao seu lado.
Mas Ezra conhecia coisas que ninguém mais parecia disposto a lhe contar.
Ela olhou para os olhos dourados à sua frente.
— O que eu tenho que fazer?
Ezra sorriu.
— Aceitar quem você é.
E, naquele momento, Mia percebeu que não havia mais volta.
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Atualizado até capítulo 100
Comments
Gelcinete J. Rebouças
Espero que Mia não se deixe ser usada
2025-02-22
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