Capítulo 20 - Primeiro Dia de Trabalho.

Quando minha aula estava prestes a terminar, meu celular vibrou discretamente na minha bolsa. Peguei o aparelho e vi uma mensagem de Liam.

Liam: "Vamos almoçar juntos?"

Revirei os olhos instantaneamente. Ele só podia estar brincando. Digitei rapidamente uma resposta.

Eu: "Tá louco? Só pode ter perdido algum parafuso. Almoçar com Ben e a noiva dele? Nem doida."

Suspirei, guardando o celular e esperando o professor encerrar a aula. Minha cabeça ainda estava a mil por causa dos eventos da manhã. Desde os olhares curiosos até o desconforto de estar perto de Ben e Alicia. A última coisa que eu queria era ter que encarar isso de novo.

Assim que a aula terminou, peguei minhas coisas e saí apressada para o dormitório. Carol e Olívia vinham logo atrás, já sabendo do meu humor azedo.

— Você tem certeza que não quer almoçar com a gente? — Carol perguntou, tentando me animar.

— Nem pensar. Preciso de um tempo para respirar. — Respondi, subindo as escadas rapidamente. — Vou trocar de roupa e me preparar para o meu primeiro dia no trabalho.

— Tá nervosa? — Olívia perguntou, abrindo a porta do nosso quarto.

— Um pouco. Mas pelo menos lá ninguém me conhece. — Joguei minha bolsa na cama e fui direto para o guarda-roupa, escolhendo uma roupa confortável e apropriada. — Vai ser uma ótima distração desse caos todo.

Carol sentou na cama e sorriu.

— Pelo menos está ganhando roupas novas e um namorado de mentira rico.

Lancei um olhar fulminante para ela.

— Prefiro pensar que só estou ganhando roupas novas.

Troquei rapidamente de roupa, colocando uma calça jeans escura e uma blusa básica, mas arrumada o suficiente para o trabalho. Amarrei o cabelo em um rabo de cavalo e chequei minha bolsa para garantir que estava tudo certo.

Peguei o celular e vi outra mensagem de Liam.

Liam: "Ok, namoradinha, nos vemos depois então. Boa sorte no trabalho. Não me faça vergonha."

Bufei, mas não pude evitar um leve sorriso. Ele realmente não sabia quando parar.

— Bom, estou indo. — Falei, pegando minha bolsa. — Torçam por mim!

— Vai arrasar! — Olívia disse animada.

— E tenta não pensar no Liam... ou no Ben. — Carol acrescentou.

— Ah, como se fosse fácil... — Respondi revirando os olhos, saindo do quarto e dirigindo-me para o meu primeiro dia de trabalho, torcendo para que pelo menos lá eu pudesse ter um pouco de paz.

Cheguei no café e fui imediatamente envolvida por um clima totalmente diferente do que estava acostumada. O aroma de café fresco misturado com o leve cheiro de baunilha pairava no ar, e as paredes em tons suaves de bege e marrom traziam uma sensação de aconchego. Havia uma música instrumental suave tocando ao fundo, e os clientes pareciam mergulhados em seus próprios mundos — alguns trabalhando em seus notebooks, outros lendo livros ou conversando baixinho.

Respirei fundo, tentando absorver aquela atmosfera tranquila e afastar todos os pensamentos sobre Liam, Ben e todo o caos da minha vida pessoal.

— Oi, Kira! Bem-vinda! — disse Amanda, a gerente do café, uma mulher simpática de cabelos castanhos curtos e olhos calorosos. Ela vestia o uniforme preto elegante do café, com um avental bordado com o nome do local: Café do Bosque. — Pronta para o seu primeiro dia?

— Prontíssima. — Respondi, forçando um sorriso. — E já comi alguma coisa no caminho, então posso começar agora.

Ela sorriu, parecendo satisfeita.

— Ótimo! Vou te mostrar como tudo funciona. A gente preza por um atendimento atencioso, mas descontraído. Quero que se sinta confortável.

Segui Amanda até o balcão, onde outros funcionários já estavam ocupados preparando pedidos. Um deles, um rapaz alto de cabelos cacheados chamado Diego, sorriu para mim.

— Novata? Bem-vinda ao caos. — Ele brincou, piscando.

— Obrigada. — Respondi, rindo nervosamente.

Amanda me mostrou o funcionamento da máquina de café, como organizar os pedidos e o fluxo das comandas. Apesar de ter uma certa experiência com atendimento ao público, percebi que o café tinha um ritmo rápido e exigia atenção aos detalhes.

Passei as primeiras horas aprendendo a fazer cappuccinos, organizar os doces nas vitrines e anotar os pedidos dos clientes. Aos poucos, fui pegando o jeito e até trocando algumas palavras com os clientes mais simpáticos.

— Aqui você vai conhecer todo tipo de gente. — Amanda comentou enquanto organizávamos os copos. — Desde estudantes estressados até casais apaixonados que passam horas aqui.

— Ótimo... — murmurei, lembrando automaticamente de Ben e Alicia, torcendo para que eles não frequentassem o café.

Durante uma pequena pausa, encostei no balcão e chequei meu celular rapidamente. Havia uma nova mensagem de Liam:

Liam: "Sobrevivendo?"

Revirei os olhos e respondi rapidamente:

Eu: "Sim. E felizmente, sem bad boys ricos por perto."

Guardei o celular no bolso e voltei para o trabalho, me sentindo um pouco mais leve.

Enquanto limpava uma das mesas, ouvi um grupo de garotas cochichando perto da entrada. Levantei o olhar e, para minha surpresa (ou talvez azar), vi Liam entrando no café. Ele usava uma jaqueta preta, jeans escuro e aquele olhar convencido de sempre.

— Sério isso? — Murmurei para mim mesma.

Ele me viu e abriu um sorriso travesso, caminhando diretamente até o balcão como se fosse cliente assíduo dali.

— Então é aqui que você se esconde. — Disse ele, encostando-se ao balcão e me olhando de cima a baixo. — Trabalhando duro, namoradinha?

Respirei fundo, tentando manter a compostura.

— Liam, o que você tá fazendo aqui? — Perguntei baixinho, me sentindo exposta.

Ele deu de ombros.

— Eu queria um café... e também queria ver como você está indo.

Amanda apareceu atrás de mim, sorrindo educadamente.

— Boa tarde! O que vai querer?

Liam olhou para o menu na parede e depois para mim.

— Acho que vou pedir um espresso... e uma recomendação da minha namorada.

— Ele não é meu namorado. — Disse apressadamente para Amanda, que me olhou com uma sobrancelha arqueada e um sorriso divertido.

— Ah, claro... — Amanda piscou para mim. — Vou preparar o espresso.

Liam apenas riu e se sentou em uma das mesas próximas, me observando com atenção enquanto eu continuava meu trabalho. Eu sabia que ele estava se divertindo com aquilo, e a ideia de ter ele me vigiando a cada movimento era insuportável.

Mais tarde, quando entreguei o pedido dele, sussurrei:

— Não tem nada melhor para fazer, não?

Ele sorriu de canto, pegando a xícara com calma.

— Relaxa, só estou cumprindo meu papel de namorado dedicado. Você devia agradecer.

— Ah, claro, obrigada por me deixar nervosa no meu primeiro dia de trabalho.

— De nada. — Ele piscou, se recostando na cadeira e bebendo o café.

Deixei ele lá e tentei me concentrar, ignorando as olhadelas curiosas dos meus colegas de trabalho.

Quando finalmente terminei meu turno, Liam ainda estava lá. Peguei minha bolsa e fui até ele.

— Pronto. Agora pode ir embora?

Ele se levantou, esticando os braços preguiçosamente.

— Claro, namoradinha. Só queria garantir que você estava bem.

— Estou. Pode voltar para sua vida de rico agora.

Ele riu e me acompanhou até a porta.

— Te vejo amanhã.

Suspirei, vendo ele se afastar e, por um momento, não consegui evitar um pequeno sorriso. Talvez, só talvez, esse contrato maluco não fosse de todo ruim.

O relógio no meu celular marcou 19:00, e eu sabia que tinha que voltar para o campus antes que as meninas se preocupassem. Era um pouco longe, mas nada demais. A caminhada era tranquila, e o vento fresco da noite parecia ajudar a clarear a minha mente. Eu só queria chegar ao dormitório, tomar um banho e tentar me livrar dos pensamentos que insistiam em me assombrar.

Quando entrei no campus, o segurança estava no portão e me cumprimentou com um sorriso.

— Boa noite!

— Boa noite! — respondi com um sorriso automático.

Andei até o dormitório, mas antes de entrar, algo me chamou a atenção. Olhei para a frente e vi Ben, andando de um lado para o outro, visivelmente inquieto. Ele parecia estar esperando por alguém ou perdido em seus próprios pensamentos.

Meu coração deu um salto, e uma mistura de raiva e confusão tomou conta de mim. Fiquei parada por um momento, observando de longe, tentando decidir o que fazer. Eu queria evitar qualquer tipo de confronto.

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