Capítulo 10 - Proposta.

O silêncio que caiu no carro foi pesado, e eu sabia que ele não estava completamente confortável com a situação. A dor ainda estava lá, mas eu estava começando a entender que a dor emocional não poderia ser curada com lágrimas apenas. Eu me sentia tão fraca, tão exposta, que não sabia como lidar com tudo que estava acontecendo.

— Me desculpe, Liam — eu disse, a voz trêmula. — Eu nunca quis te envolver nisso, nunca quis que você brigasse com o seu melhor amigo por minha causa. Eu só… não sabia o que fazer.

Liam apenas balançou a cabeça, não dizendo nada. Ele estava me ajudando, mas eu sentia que ele também estava lidando com tudo à sua maneira.

— E, sobre o que eu falei na festa… eu não queria te colocar em uma situação tão desconfortável. Não deveria ter dito que você era meu namorado na frente de todo mundo, foi… ridículo.

Eu me senti ainda mais humilhada, pensando no que fiz. O peso da mentira estava me consumindo, mas a ideia de ser deixada para trás por Ben e ter que encarar a humilhação pública me deixava completamente perdida. Eu sabia que precisava enfrentar as consequências da minha escolha, mas, ao mesmo tempo, não conseguia imaginar como seria no dia seguinte.

— Eu… eu não sei o que fazer, Liam — falei com os olhos fixos no banco do carro. — Hoje foi uma humilhação, e amanhã vai ser ainda pior. Vou ter que dizer que menti, que você não é meu namorado, e todo mundo vai rir da minha cara. Não sei se vou conseguir lidar com isso.

Então, em um impulso totalmente insano, a ideia veio à minha cabeça, e eu quase soquei a minha própria boca por ter falado em voz alta.

— A menos que… você finja ser meu namorado por um tempo. Só até as coisas se acalmarem, até todo esse caos passar.

Eu sabia que estava pedindo demais, mas a necessidade de fugir da humilhação me fez pensar que, talvez, isso fosse a única solução. Eu olhei para Liam, esperando uma resposta. O rosto dele estava sério, mas pude ver o choque em seus olhos.

— O quê? — ele disse, a incredulidade tomando conta de sua voz. — Como assim, eu, Liam Stanford, o cara mais influente da faculdade, vou estar namorando uma menina que se veste como se fosse uma mendiga? Não, isso não vai acontecer.

Eu sabia que estava pedindo algo impensável, mas a vergonha que eu sentia parecia mais forte do que qualquer outra coisa naquele momento. Eu sabia que estava sobrecarregando Liam, mas não conseguia pensar em outra alternativa.

Eu tentei protestar, mas ele continuou:

— Não vou entrar nessa loucura, Hendricks. Você precisa enfrentar as consequências do que aconteceu, e eu não vou me envolver mais do que já me envolvi. Já foi o suficiente.

Eu sabia que o que eu tinha feito com Liam era errado, abusivo até. Eu me sentia a pior pessoa do mundo por tê-lo colocado naquela situação, por ter o arrastado para os meus problemas. Ele não merecia isso. Ele tinha sua vida, seus próprios problemas e desafios. E eu, em um momento de desespero, fui capaz de pedir algo tão absurdo.

O silêncio no carro enquanto ele dirigia de volta para o meu dormitório era ensurdecedor. Eu podia sentir o peso do que eu tinha feito, e cada segundo dentro daquele carro parecia mais difícil de suportar. Ele não disse nada, e eu não sabia o que mais dizer. Como eu poderia pedir desculpas por algo tão grande? Como eu poderia explicar que, naquele momento, a vergonha e a dor estavam falando mais alto do que qualquer razão ou pensamento racional?

Quando finalmente chegamos ao meu dormitório, ele estacionou o carro. Eu não sabia o que fazer, se eu deveria agradecer ou pedir desculpas novamente. Mas o que mais eu poderia fazer? Ele estava ali, ele me ajudou, mesmo sem querer, e me fez perceber que às vezes o maior erro é tentar esconder a dor em cima de mais mentiras.

— Obrigada, Liam. Realmente, obrigada por tudo — eu disse, a voz fraca. Eu não sabia se ele queria ouvir mais alguma coisa, mas senti que precisava expressar minha gratidão, mesmo que eu soubesse que minha palavra não mudaria o que tinha acontecido.

Liam apenas balançou a cabeça, sem fazer muito esforço para responder. Ele provavelmente não sabia mais o que dizer também.

— Não se preocupe. — ele respondeu, sem muito sentimento na voz. — Cuide de si mesma.

Com essas palavras, ele não esperou mais, ligou o carro sem me olhar novamente, saiu. Eu o assisti se afastar até o carro desaparecer na escuridão da noite. O silêncio que ficou foi quase sufocante. A solidão se instalou no meu peito de uma maneira que eu não sabia como lidar.

Quando entrei no dormitório, fechei a porta atrás de mim e me encostei nela por alguns segundos. Minha mente estava uma bagunça, um turbilhão de sentimentos conflitantes. Eu me sentia fraca, indefesa, mas, ao mesmo tempo, com uma raiva imensa de mim mesma por ter chegado naquele ponto. Eu estava sozinha, e sabia que não poderia contar com ninguém mais para me ajudar a sair desse buraco.