Capítulo 9 - O Fim de Nós Dois.

Pedi licença a Liam, forçando um sorriso para não parecer abalada, e disse que precisava ir ao banheiro. Minhas pernas estavam trêmulas, meu coração ainda acelerado com tudo o que havia acontecido. Caminhei pelos corredores da casa luxuosa, buscando um momento de paz, mas assim que me vi sozinha, senti uma mão firme agarrar meu braço.

Virei-me, assustada, e me deparei com Ben. Seus olhos estavam carregados de uma mistura de frustração e desespero, e sua voz saiu apressada e tensa:

— Kira, podemos conversar?

Meu peito apertou, mas mantive a postura firme. Tentei puxar meu braço, mas ele não soltou.

— Não temos nada para conversar, Ben. Aproveite sua festa de noivado! — minha voz saiu mais firme do que eu esperava, embora por dentro eu estivesse lutando contra as lágrimas.

Ele balançou a cabeça, segurando meu braço com mais força.

— Kira, por favor, deixa eu explicar. Você sabe que eu gosto de você, que eu me importo com você? Por favor...

Cada súplica dele era como um golpe, trazendo todas as emoções reprimidas à tona. Eu queria gritar, chorar, mas apenas olhei para ele com um nó na garganta.

— Ben, me solta. — pedi, minha voz vacilando.

Mas ele não parou. Continuava insistindo, a proximidade dele me sufocando, me prendendo em um ciclo que eu tentava desesperadamente romper. Foi então que uma voz firme e autoritária ecoou pelo corredor:

— Solta a minha namorada.

Meu coração deu um salto ao reconhecer a voz. Liam estava parado atrás de Ben, sua expressão sombria e perigosa. Seus olhos azuis estavam fixos no ex-amigo, e a tensão no ar aumentou.

Ben me olhou, depois olhou para Liam, a raiva substituindo qualquer outro sentimento em seu rosto.

— É sério isso mesmo? — perguntou, sua voz carregada de incredulidade.

Respirei fundo e balancei a cabeça afirmativamente, decidida a encerrar aquilo de vez.

— Você tem sua noiva, Ben. E eu tenho meu namorado. E seu melhor amigo.

A raiva explodiu nos olhos dele. Antes que eu pudesse reagir, senti suas mãos apertarem meus braços com mais força, o que me fez soltar um gemido de dor.

— Você me traiu, Kira?

Meus olhos se encheram de lágrimas, mas mantive a compostura.

— Você me traiu primeiro, Ben. Está tudo acabado.

Liam avançou, tentando afastá-lo de mim.

— Solta ela, Ben. Agora.

Mas Ben, cego pelo ciúme e pela frustração, girou o corpo e socou Liam no rosto. O som do impacto ecoou no corredor silencioso. Liam cambaleou por um segundo, mas não hesitou. Seu punho encontrou o rosto de Ben em um golpe preciso, fazendo-o cambalear para trás.

Antes que a situação piorasse, Liam pegou minha mão com firmeza e me puxou para longe dali. Meu coração batia acelerado enquanto saíamos da festa, o ar frio da noite batendo contra meu rosto.

Andamos por alguns minutos em silêncio, até que Liam finalmente quebrou o clima tenso.

— Você está bem? — perguntou, ainda esfregando o maxilar onde Ben o acertara.

Olhei para ele, sentindo uma gratidão inexplicável.

— Não. Só quero sair daqui.

Ele apenas assentiu, sem soltar minha mão, me puxou para fora daquele salão sufocante. O barulho da festa ficava cada vez mais distante enquanto caminhávamos apressados pelo luxuoso jardim até chegarmos ao estacionamento. Liam abriu a porta do seu carro para mim, sem dizer uma palavra. Eu entrei, e assim que me sentei, todo o controle que tentei manter durante a noite desabou.

As lágrimas começaram a cair sem que eu pudesse impedir, silenciosas no início, mas logo se transformaram em soluços profundos e dolorosos. Senti meu peito apertado, como se toda a humilhação daquela noite estivesse me esmagando de dentro para fora. A traição de Ben, a humilhação pública, e a dor de perceber que, por mais que eu tentasse, eu nunca seria suficiente para aquele mundo.

Liam permaneceu do lado de fora do carro por alguns segundos, provavelmente me dando espaço. Ele olhava para o céu como se estivesse esperando que eu me acalmasse, mas quando percebeu que meus soluços não diminuíam, abriu a porta do motorista e entrou. Ele não disse nada, apenas ligou o carro e dirigiu em silêncio.

— Você quer ir para o dormitório? — Ele perguntou após alguns minutos, sua voz mais suave do que de costume.

Balancei a cabeça negativamente, ainda limpando as lágrimas.

— Não... Eu... só preciso de um tempo.

Ele assentiu e continuou a dirigir, sem fazer mais perguntas. O silêncio dentro do carro era quase reconfortante, como se ele soubesse que eu precisava disso.

Enquanto Liam dirigia pelas ruas desertas, a noite parecia pesar mais sobre mim a cada quilômetro que passávamos. Eu estava lutando para não ceder à dor, segurando com todas as minhas forças a vontade de continuar chorando. A pressão no peito era insuportável, como se o peso de tudo o que acontecia estivesse me esmagando por dentro.

Ele parou o carro em um mirante que dava para uma vista distante da cidade. As luzes da cidade brilhavam lá embaixo, mas para mim, tudo parecia um borrão. Eu olhava para a paisagem, mas nada conseguia tirar o peso da minha mente. Liam desligou o carro, e por alguns segundos, tudo ficou em silêncio.

Foi quando ele falou, sua voz tranquila quebrando o silêncio da noite.

— Você não precisa fingir que é forte o tempo todo, Hendricks.

Essas palavras foram como um botão que desligou a resistência que eu tinha dentro de mim. As lágrimas começaram a escorrer sem controle, mais fortes, mais intensas do que antes. Era como se, ao ouvir aquela frase, tudo o que eu tinha guardado dentro de mim estivesse sendo liberado de uma só vez. Meu peito doía, como se estivesse sendo partido ao meio, e o vazio que eu sentia por dentro só crescia.

Eu sempre me considerei forte, sempre achei que poderia enfrentar tudo sozinha, mas naquele momento, não consegui mais segurar. Estava chorando tão forte que mal conseguia respirar. Cada suspiro parecia uma luta, e o aperto em meu peito só aumentava.

Era como se o mundo tivesse desabado sobre mim, e eu não soubesse como lidar com tudo isso. Eu sempre achei que poderia confiar em Ben, que ele era a única pessoa que se importava comigo de verdade. Mas ele me traiu, me humilhou, e agora, eu estava completamente perdida.

O medo tomou conta de mim de repente, como se tudo estivesse desmoronando ao meu redor. Eu senti meu coração acelerar, minha garganta fechar, e eu não conseguia respirar direito. Eu precisava sair, precisava me afastar, mas a sensação de estar sem ar era tão forte que comecei a me desesperar.

Foi quando, sem pensar, abri a porta do carro, tentando sair, tentando fugir da sensação de sufocamento que tomava conta de mim. Meu corpo tremia enquanto eu tentava me levantar e correr, mas as pernas não conseguiam me sustentar. Eu caí no chão, sentindo o frio da terra contra a pele, tentando desesperadamente puxar ar para os pulmões.

Liam estava ao meu lado em um instante. Eu podia sentir sua presença, mas não conseguia me concentrar em mais nada além da sensação de estar perdendo o controle. Ele se agachou ao meu lado, e, com uma voz calma, disse:

— Respira devagar. Você está bem, ok? Respira comigo.

Eu tentei seguir suas instruções, mas a dor no peito era tão forte que mal conseguia me concentrar. Liam, então, colocou suas mãos em meus ombros, me ajudando a me levantar e sentar contra o carro. Ele permaneceu ali, próximo, sem pressa de me apressar a me recompor.

— Eu estou aqui, Hendricks. Você não precisa passar por isso sozinha. Respira fundo, ok?

Eu tentei mais uma vez, e dessa vez, as palavras dele começaram a fazer efeito. Aos poucos, consegui respirar mais calmamente, sentindo o aperto no peito diminuir. Mesmo com o choro ainda constante, algo dentro de mim parecia estar começando a se acalmar.

Liam ficou em silêncio, aguardando até que minhas respirações se tornassem mais regulares. Ele não me forçou a falar, mas o simples fato de estar ali, sem pressa, me dava uma sensação de segurança que eu não esperava.

— Obrigada, Liam — murmurei entre soluços, sentindo o peso começar a se aliviar lentamente.

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