Capítulo 11 - Ato de Bondade.

Acordei de manhã, com a luz suave do sol entrando pelas janelas. O som de Carol e Olívia conversando me tirou do meu sono, e logo percebi que elas estavam ao meu lado, olhando para mim com expressões preocupadas. Carol foi a primeira a falar, sua voz baixa e cautelosa.

— Kira, você tá bem? A gente tentou te procurar ontem na festa, mas não te encontramos. Quando voltamos, você já estava dormindo. O que aconteceu?

Eu só olhei para elas, meu corpo ainda pesado e minha mente confusa. Não sabia por onde começar, como explicar tudo o que tinha acontecido. Mas, em algum lugar dentro de mim, sabia que precisava contar. Não podia mais carregar aquilo sozinha. Então, respirei fundo e, com a voz embargada, comecei a relatar tudo.

— Ben… Ele… Ele me traiu. Eu vi ele com a noiva dele, Alicia. Eu fiquei tão confusa, tão machucada, achando que ele... eu pensei que ele me amasse. E eu acabei fazendo uma cena na frente de todo mundo. E depois… depois o Liam apareceu e eu… eu… — A voz falhou. As lágrimas começaram a escorrer novamente, a dor voltando com força. — Eu envolvi o Liam nisso, e agora ele deve me odiar também.

Carol e Olívia ficaram em silêncio, suas expressões mistas de surpresa e preocupação. Elas sabiam o quanto eu estava investindo em Ben, o quanto ele significava para mim, e o quanto a traição me destruía. Eu queria ser forte, mas não conseguia.

Olívia colocou a mão em meu ombro, tentando me consolar, enquanto Carol se aproximava para me dar um abraço. As palavras delas eram suaves, mas nada parecia aliviar o buraco dentro de mim.

— Kira, não é sua culpa. — Carol disse, sua voz reconfortante. — Você não sabia, não podia saber.

— É… é verdade. — Olívia acrescentou. — O Ben não foi honesto com você. E o Liam, bem, ele… ele te ajudou. Ele não vai te odiar, você fez o que achava que era o melhor.

Mas mesmo assim, eu não conseguia me livrar da sensação de culpa. Tudo parecia estar se desmoronando, e eu não sabia como consertar. Então, as lágrimas continuaram, incontroláveis, até que eu não soubesse mais onde terminava a dor e onde começava o vazio.

Aquele domingo parecia ter sido feito para me lembrar de tudo o que eu queria esquecer. As meninas, Carol e Olívia, haviam se tornado minhas âncoras naquele momento turbulento. Elas estavam tão determinadas a me ajudar que não viam nada além disso, mas eu sentia que minha vida havia virado de cabeça para baixo. Deitada na cama, o peso da dor era quase insuportável. No fundo, desejava apenas sumir, desaparecer de toda aquela dor e vergonha.

— Kira, você tem que sair dessa cama. — Olívia me disse com uma voz suave, mas cheia de urgência. Ela estava ali, sentada na beirada, com o olhar preocupado. — Levanta, vai fazer bem pra você. Eu pedi algo para levantar seu astral.

Fui até o banheiro, tomei um banho rápido e decidi colocar uma roupa simples. Quando sair do banheiro Olívia estava lá, com um sorriso no rosto, como se quisesse me fazer acreditar que tudo ficaria bem. Seu sorriso, por mais forçado que fosse, me trouxe uma sensação de conforto.

— Kira, tem uma pessoa lá embaixo te esperando. — Ela disse, tentando disfarçar a preocupação com um tom leve.

Eu virei o rosto rapidamente. Não queria ver Ben, e Olívia, percebendo minha reação, foi rápida em explicar.

— Não é o Ben. — Ela falou, como se fosse a coisa mais simples do mundo. — É o Liam. Ele quer falar com você.

Eu suspirei profundamente. Claro que seria ele. O universo parecia estar me empurrando para mais uma conversa humilhante com o Liam, e eu não sabia se estava pronta para enfrentar tudo aquilo. Mesmo assim, me arrumei o melhor que pude, tentei dar um sorriso, mas ele saiu torto, como se meu rosto estivesse mais cansado do que eu imaginava.

Quando saí do prédio, Liam estava lá, ao lado do seu carro. Ele estava com uma expressão séria, mas quando me viu, seu rosto se suavizou, como se estivesse aliviado por finalmente me encontrar.

— Oi, Hendricks. — Liam disse, com aquela voz grave e cheia de autoridade. Ele parecia estar confortável em sua própria pele, como sempre. Sua presença era imponente. O cabelo loiro sempre um pouco bagunçado, caía levemente sobre a testa, e sua camisa preta, combinada com os jeans escuros, o fazia parecer ainda mais o cara popular e influente da faculdade.

Eu, por outro lado, me sentia totalmente deslocada ao lado dele. Não sabia como reagir, e meu corpo estava tenso, pronto para recuar. Mas não queria ser rude com ele, então, apenas soltei um suspiro.

— Liam, eu vim falar com você porque eu sei que causei uma confusão ontem, e eu… — Eu parei, sabendo que mais uma vez as palavras seriam insuficientes. — Eu não quero que você fique preocupado com isso. Eu vou dar um jeito.

Liam levantou a mão como se me pedisse para esperar, e eu vi o brilho em seus olhos. Não era um brilho de raiva, mas algo que eu não consegui identificar.

— Hoje é domingo, Hendricks. — Ele disse calmamente. — Eu acabei de voltar da igreja, e o padre lá disse que precisamos ser mais ativos em ajudar as pessoas menos favorecidas para garantir nosso lugar no Reino de Deus. Eu decidi que você será meu primeiro ato de bondade.

Eu não entendi o que ele queria dizer com aquilo. Olhei para ele, completamente confusa.

— Eu… não entendi. — Falei sem saber o que mais perguntar.

Liam sorriu, mas não era o sorriso debochado que eu costumava ver. Era um sorriso misterioso, como se estivesse guardando um segredo.

— Você vai ser meu passe inicial para o céu, Kira. Agora, entre no carro. — Ele disse, e me fez um gesto com a mão, como se fosse algo simples.

Fiquei em silêncio, sem saber como reagir. Ele estava sendo sério, mas ao mesmo tempo, a ideia de Liam tentar me "salvar" parecia ridícula. Mesmo assim, por algum motivo, o que ele dizia parecia fazer algum sentido para ele, e, no fundo, eu sabia que não poderia fugir da conversa. Então, com um suspiro, entrei no carro.

Ele fechou a porta para mim e entrou rapidamente do outro lado, ligando o motor. O carro começou a andar, e eu senti uma estranha tensão no ar.

— Onde a gente está indo? — Perguntei, tentando entender o que ele queria fazer.

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