Um mês se passou, e eu fazia de tudo para evitar encontrar Ben e seus amigos. Sempre que tentava chamá-lo para sair só eu e ele. Ben estava sempre ocupado com alguma coisa, reuniões de grupos de estudo, treinos, festas que eu não era convidada. Comecei a me perguntar se ele estava mesmo tão ocupado ou se simplesmente não queria ser visto comigo. Talvez minhas roupas simples e gastas o incomodassem, talvez ele não quisesse que as pessoas soubessem que estava namorando uma garota que não podia se dar ao luxo de usar roupas de marca ou sequer de comprar um simples batom novo.
Olhei para meu reflexo no espelho do pequeno banheiro do dormitório, penteando meus cabelos ruivos que caíam desajeitados sobre os ombros. Meus olhos verdes analisavam cada detalhe, procurando algo que pudesse explicar o motivo de Ben estar tão distante. Será que eu era feia demais para ele agora? Meus jeans surrados e camisetas desbotadas gritavam para todos ao redor que eu não pertencia àquele mundo luxuoso da faculdade.
Suspirei pesadamente, afastando esses pensamentos. Não adiantava me martirizar. Eu tinha problemas maiores para resolver. O dinheiro que eu trouxe estava quase acabando, e eu sabia que minha bolsa cobria apenas as aulas, a moradia e a alimentação no refeitório. Mas e os produtos pessoais? Roupas novas? Livros e materiais extras? Eu precisava encontrar um emprego, e rápido.
Saí do banheiro e vi Olivia e Carol, minhas colegas de quarto, sentadas em suas camas, rindo de algo no celular. Elas eram legais, me incluíam nas conversas e nunca mencionaram minha aparência ou minha falta de dinheiro, mas eu sabia que elas percebiam.
— Vai sair, Kira? — Carol perguntou, erguendo os olhos curiosos.
— Sim, vou dar uma volta. — Respondi, forçando um sorriso.
— Quer companhia? — Olivia ofereceu, simpática como sempre.
— Não precisa, só vou dar uma olhada em alguns lugares. — Menti.
Eu não queria que elas vissem o quanto eu estava desesperada para encontrar qualquer trabalho. Peguei minha bolsa e saí, caminhando pelo campus com passos apressados. Enquanto andava, minhas botas desgastadas rangiam no piso de pedra, e eu tentava ignorar os olhares dos outros alunos, tão arrumados e cheios de confiança.
Meu primeiro destino foi o pequeno café perto da entrada do campus. Eu já havia perguntado ali antes, mas talvez as coisas tivessem mudado.
— Desculpe, querida, ainda estamos procurando alguém para período integral. — A atendente disse com um sorriso simpático, mas desinteressado.
Agradeci e saí, tentando não me sentir completamente derrotada. Passei por uma livraria, uma loja de conveniência e até uma floricultura, mas a resposta era sempre a mesma: “somente período integral” ou “já estamos com a equipe completa”.
O sol começou a se pôr, e minha frustração crescia. Meu celular vibrava na mão, e eu vi que Ben ainda não tinha visualizado a mensagem que mandei mais cedo avisando que sairia. Ele devia estar ocupado com algo importante, tentei me convencer.
Enquanto voltava para a faculdade, eu tinha dando várias voltadas procurando algum lugar que acabei me perdendo, abri o mapa no celular para tentar me orientar. Estava tão concentrada na tela que não vi a calçada irregular à minha frente. Tropecei feio e caí no chão, o celular voando da minha mão.
— Não! — Gritei ao ver a tela rachada e apagada.
Minha palma e meu joelho ardiam. Quando olhei, estavam arranhados e sangrando levemente. Eu queria chorar, mas me forcei a ficar de pé. Não era só a dor física, era o peso de tudo: meu celular quebrado, as lojas que não me aceitaram, e o fato de que, naquele momento, eu estava completamente perdida em uma cidade desconhecida.
Tentei pedir informações para algumas pessoas na rua, mas parecia que cada uma dava uma direção diferente. Andei por mais de meia hora, até que percebi que estava em uma área mais afastada, cercada por árvores e praticamente deserta.
O vento frio cortava minha pele, e eu me amaldiçoei por não ter trazido um casaco. Minhas mãos tremiam de frio e de nervosismo enquanto tentava pensar em como voltar para o campus. O céu estava escuro agora, e os poucos carros que passavam pareciam não notar a garota que andava sozinha na beira da estrada.
Foi então que ouvi o som de um carro desacelerando. Meu corpo ficou tenso enquanto o veículo se aproximava. Quando o vidro do lado do motorista abaixou, meu coração deu um salto.
— Hendriks? — A voz de Liam soou, carregada de surpresa.
Ele estava no volante de um carro preto, o rosto iluminado pelas luzes internas do painel. Seus cabelos loiro estavam levemente bagunçados, e ele tinha a mesma expressão de indiferença de sempre, mas agora misturada com algo que parecia... preocupação?
— O que você está fazendo aqui? — Ele perguntou, o tom sério.
— Eu... me perdi. — Admiti, tentando manter a voz firme.
Liam olhou para mim por um momento, como se processasse a informação, antes de suspirar e destravar a porta do passageiro.
— Entra.
— O quê?
— Entra no carro, Kira. Tá escuro, você não vai conseguir voltar sozinha assim.
Hesitei por um momento, mas o frio e o cansaço venceram. Abri a porta e me sentei, sentindo o calor reconfortante do carro envolver meu corpo gelado. Liam me olhou de canto de olho enquanto eu fechava a porta e colocava o cinto.
— Tá tudo bem com você? — Ele perguntou, olhando rapidamente para o meu joelho machucado.
— Mais ou menos. Quebrei meu celular e machuquei o joelho. — Suspirei. — Acho que foi um dia para esquecer.
Liam soltou um leve riso nasal, quase um som de deboche, mas não disse nada. Ele colocou o carro em movimento, e eu aproveitei para tentar me acalmar.
— Como você me encontrou? — Perguntei, ainda surpresa.
— Eu estava voltando da academia. Te vi andando feito uma barata tonta na estrada e resolvi parar. — Ele respondeu sem tirar os olhos da estrada.
— Obrigada. — Murmurei, sem jeito.
Ele não respondeu, apenas dirigiu em silêncio. Depois de alguns minutos, percebi que ele realmente sabia o caminho de volta para o campus.
— Por que você estava fora tão tarde? — Ele perguntou de repente.
— Estava procurando um emprego. — Respondi, olhando pela janela.
— E conseguiu?
— Não. Querem alguém de período integral, mas eu só posso trabalhar à tarde.
Liam não disse nada por um tempo, mas parecia pensar em algo.
— Por que você precisa de um emprego? — Ele perguntou finalmente, o tom mais sério.
— Porque eu não tenho ninguém para me ajudar financeiramente. Preciso pagar minhas coisas.
Ele balançou a cabeça, mas não comentou mais nada. Quando chegamos ao dormitório, Liam estacionou e olhou para mim.
— Cuida desse joelho. E tenta não sair sozinha de novo à noite, tá bom?
— Tá bom. Obrigada de novo, Liam
Ele apenas acenou com a cabeça, e eu saí do carro, sentindo uma mistura de alívio e constrangimento.
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Atualizado até capítulo 71
Comments
Kênia Mirella Da Silva
o que eu acho que vai acontecer: ela vai descobrir que ele tá traindo ela e o Liam vai ficar do lado dela e eles vão se apaixonar 😍
2025-04-11
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Cristiane F silva
Espero que se restabelecar
2025-03-16
0
Beatriz Lima
quem é Ethan??????🤔🤭
2025-03-14
1