capítulo 9

Obstáculos no Caminho

As primeiras semanas de convivência entre Rafael e Miguel foram um equilíbrio delicado entre esperança e insegurança. Eles marcavam encontros simples, como caminhadas no parque, idas ao cinema ou cafés sem pretensão. Tudo parecia tranquilo, mas Rafael não conseguia ignorar as pequenas dúvidas que surgiam.

Miguel estava fazendo tudo certo. Ele era atencioso, respeitoso e cuidadoso. Mas justamente essa perfeição começava a incomodar Rafael. Ele não queria sentir que Miguel estava apenas se esforçando para agradá-lo. Ele queria autenticidade, mesmo que isso significasse lidar com os defeitos que ainda existiam.

Em uma noite de sexta-feira, Miguel convidou Rafael para um jantar com amigos que havia conhecido durante o tempo em que trabalharam juntos no centro comunitário. Rafael hesitou, mas decidiu ir.

Quando chegaram ao restaurante, os amigos de Miguel o receberam calorosamente. Rafael, no entanto, sentiu-se deslocado. Eles pareciam saber muito sobre ele — o que Miguel havia contado?

Durante o jantar, um dos amigos, Diego, fez uma piada sobre como Miguel costumava "sempre estragar tudo com quem amava". A sala explodiu em risadas descontraídas, mas Rafael congelou.

Miguel tentou minimizar a situação.

— É passado, Diego. Hoje sou outra pessoa.

Mas o comentário já havia atingido Rafael em cheio. A dor do que Miguel havia feito no passado voltou como uma onda avassaladora. Ele sorriu educadamente, mas passou o resto da noite calado.

No caminho de volta, Rafael não conseguiu se conter.

— Você contou a eles sobre nós? Sobre tudo o que aconteceu?

Miguel ficou tenso ao volante.

— Eu mencionei algumas coisas, sim. Eles são meus amigos, Rafa. Eu precisava desabafar em algum momento.

— E você achou que era uma boa ideia falar sobre os nossos problemas como se fossem piadas para o entretenimento deles?

Miguel estacionou o carro e virou-se para Rafael, claramente arrependido.

— Não foi isso que eu quis dizer. E eu nunca contei nada com a intenção de te expor. Eles só estavam tentando aliviar o clima.

Rafael balançou a cabeça, frustrado.

— É exatamente isso que eu não consigo superar, Miguel. Você sempre parece tão bem-intencionado, mas nunca percebe como suas ações afetam os outros.

Nos dias seguintes, Rafael se afastou. Ele precisava de tempo para processar seus sentimentos e decidir se valia a pena continuar tentando. Miguel respeitou sua necessidade de espaço, mas a ansiedade o consumia.

Enquanto isso, Rafael lutava contra seus próprios pensamentos. Ele sabia que Miguel estava tentando, mas o medo de ser ferido novamente era mais forte do que ele gostaria de admitir.

Foi Clara quem, mais uma vez, trouxe clareza à situação.

— Ninguém é perfeito, Rafael. Nem você. Se você quer mesmo tentar com ele, precisa aceitar que vão haver momentos difíceis. A diferença é: ele está disposto a trabalhar nisso com você?

Rafael sabia que a resposta era sim. Mas ele também sabia que precisava comunicar suas necessidades de forma mais clara, em vez de apenas esperar que Miguel adivinhasse o que ele sentia.

Quando finalmente decidiram se encontrar, a tensão era palpável. Rafael foi direto:

— Miguel, eu preciso que você entenda algo. Eu não espero que você seja perfeito, mas preciso que você seja honesto e cuidadoso. Isso significa pensar antes de agir, especialmente quando se trata de coisas que podem me machucar.

Miguel assentiu, visivelmente aliviado por finalmente entender o que Rafael sentia.

— Eu entendo, Rafael. E você está certo. Ainda tenho muito o que aprender, mas quero fazer isso com você.

Rafael respirou fundo, sentindo um peso sair de seus ombros.

— E eu preciso aprender a confiar de novo. Mas isso vai levar tempo.

Miguel segurou a mão de Rafael com cuidado.

— Temos todo o tempo do mundo, se você estiver disposto.

Embora tivessem superado esse obstáculo, ambos sabiam que outros viriam. Afinal, reconquistar a confiança perdida e reconstruir um relacionamento eram tarefas que exigiam paciência, comunicação e resiliência.

Mas, naquele momento, enquanto caminhavam lado a lado para casa, Rafael sentiu algo que não sentia há muito tempo: uma fagulha de esperança de que, talvez, valesse a pena enfrentar esses desafios juntos.

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