capítulo 5

Caminhos Cruzados

O amanhecer trouxe uma leve neblina que cobria a cidade, e Rafael decidiu caminhar para clarear a mente. Ele seguiu sem destino pelas ruas que conhecia tão bem, os cheiros e sons trazendo lembranças de sua juventude. Tudo parecia igual, mas dentro dele, uma tempestade se formava.

Ele pensava em Miguel, nas palavras ditas na noite anterior. Era verdade que ele parecia diferente, mais maduro, mais consciente. Mas Rafael não podia ignorar os anos de mágoa que carregava. Ele queria acreditar que as pessoas podiam mudar, mas o medo de reviver aquela dor era paralisante.

Quando chegou ao lago onde tantas vezes passara horas com Miguel, encontrou-se imerso nas memórias. Era ali que eles costumavam fugir, onde os sorrisos eram genuínos e o mundo não parecia tão cruel. Rafael sentou-se à beira da água, deixando as emoções fluírem. Ele não percebeu que Miguel estava ali até ouvir a voz familiar atrás dele.

— Não esperava te encontrar aqui.

Rafael se virou rapidamente. Miguel estava ali, com as mãos nos bolsos, olhando para ele com uma mistura de surpresa e cautela.

— É um lugar tranquilo — respondeu Rafael, voltando o olhar para a água.

Miguel hesitou antes de se aproximar e sentar-se ao lado dele, deixando uma distância respeitosa.

— A gente costumava vir aqui quando as coisas ficavam difíceis. Eu lembro… — disse Miguel, com um tom de nostalgia na voz.

Rafael não respondeu de imediato. Ele queria evitar aquela conversa, mas sabia que estava ali para enfrentá-la, de uma vez por todas.

— Você realmente mudou, Miguel? — perguntou Rafael, quebrando o silêncio, sem desviar os olhos da água.

Miguel respirou fundo, como se preparasse para expor sua alma.

— Eu não sou mais o homem que você conheceu. Eu errei muito, Rafael, e demorei para entender o quanto te machuquei. Passei esses anos tentando ser alguém de quem você poderia se orgulhar, mesmo que nunca me perdoasse. Eu queria que, ao menos, se você ouvisse falar de mim, soubesse que eu mudei. Não pra mim, mas por você.

Rafael virou-se para encará-lo, buscando algo nos olhos de Miguel. Ele parecia sincero, mas a desconfiança ainda era uma barreira difícil de superar.

— Você não tem ideia do que eu passei depois que você… — Rafael engoliu em seco, incapaz de terminar a frase.

Miguel baixou o olhar, a vergonha evidente.

— Eu imagino. E me odeio por ter sido a causa disso. Eu não posso voltar no tempo, Rafael. Tudo o que posso fazer agora é seguir em frente… e tentar te mostrar que vale a pena acreditar em mim novamente.

O silêncio caiu entre eles, interrompido apenas pelo som suave da água. Rafael fechou os olhos, tentando encontrar as palavras certas.

— Eu ainda não sei se posso te perdoar, Miguel.

— Eu sei — respondeu Miguel, sem hesitar. — E, se decidir que não pode, eu vou entender. Só quero que saiba que eu nunca parei de te amar.

As palavras ficaram no ar, pesadas e sinceras. Rafael sentiu o coração apertar. Ele queria acreditar, queria dar uma chance, mas sabia que não seria tão simples.

— Eu preciso de tempo — disse Rafael, levantando-se.

Miguel ficou onde estava, assentindo com compreensão.

— O tempo que precisar. Eu estarei aqui.

Rafael começou a se afastar, mas parou por um momento, olhando para trás.

— Obrigado, Miguel. Por ser honesto… desta vez.

E então, ele se foi, deixando Miguel sentado à beira do lago, com uma mistura de esperança e tristeza no coração.

Naquela noite, Rafael voltou para casa sentindo-se mais leve, mas ainda incerto. Ele sabia que o perdão não seria um caminho fácil, mas, pela primeira vez em anos, considerava a possibilidade de seguir em frente — talvez com Miguel ao seu lado.

Enquanto isso, Miguel decidiu que não podia apenas esperar. Ele precisaria provar a Rafael, dia após dia, que o amor deles ainda tinha uma chance de renascer.

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