capítulo 4

Sob a Luz da Verdade

Rafael ficou parado na beira do pequeno evento, observando Miguel à distância. Ele parecia tão à vontade ali, conversando com os jovens, ajudando a arrumar uma faixa colorida que havia se desprendido. Havia algo diferente nele — uma calma, uma certeza que Rafael não reconhecia do passado.

Enquanto Miguel ajustava os últimos detalhes de um estande, seus olhos se cruzaram com os de Rafael. O tempo pareceu desacelerar. Miguel hesitou, mas logo deu um passo à frente, se aproximando lentamente. Rafael não se moveu. Ele não sabia se queria fugir ou enfrentar aquele momento de uma vez por todas.

— Você veio… — disse Miguel, com a voz baixa, tentando esconder a surpresa e a esperança em suas palavras.

— Não sabia que você estava aqui — respondeu Rafael, com uma calma que ele próprio não sentia. — Vi o evento e… bom, achei interessante.

Miguel assentiu, um sorriso nervoso surgindo em seu rosto.

— Isso é importante pra mim. Esse projeto… é uma forma de ajudar jovens que passam por coisas que a gente passou. Eu queria que, se alguém precisasse de apoio, não se sentisse sozinho como eu me senti.

Rafael sentiu o peso das palavras. Ele sabia que Miguel estava tentando mostrar que havia mudado, mas ainda assim, não era fácil deixar as mágoas para trás.

— Parece que você realmente mudou — disse Rafael, finalmente, o tom quase desafiador.

Miguel abaixou a cabeça por um momento antes de encará-lo novamente.

— Eu precisava mudar, Rafael. Depois que você foi embora, percebi que tinha perdido a melhor coisa da minha vida. Não só você, mas a chance de ser alguém melhor. Eu não podia continuar sendo a pessoa que machucou quem eu mais amava.

As palavras atingiram Rafael como um golpe. Ele queria acreditar, mas o medo ainda o segurava.

— E como eu sei que isso não é só mais uma promessa vazia? Como eu sei que você não vai me machucar de novo?

Miguel deu um passo à frente, os olhos brilhando com emoção.

— Você não sabe. E eu não posso te prometer que sou perfeito, porque não sou. Mas posso te mostrar. Todos os dias, se você deixar. Só me dê uma chance, Rafael. Só uma.

O silêncio entre eles era pesado, carregado de anos de dor, arrependimento e um amor que nunca desapareceu completamente. Rafael olhou para Miguel, buscando alguma certeza nos olhos dele. Mas, no fundo, sabia que a escolha era dele.

— Eu não posso te dar uma resposta agora — disse Rafael, finalmente.

Miguel assentiu, com um sorriso triste.

— Eu não esperava que fosse fácil. Mas estou aqui. E estarei aqui, sempre que você estiver pronto.

Rafael deu um leve aceno e, antes que as emoções o dominassem, virou-se e começou a caminhar de volta para casa. Miguel ficou parado ali, observando-o partir, com o coração apertado, mas determinado a não desistir.

Naquela noite, Rafael não conseguiu dormir. As palavras de Miguel ecoavam em sua mente, misturando-se com as memórias do passado. Ele se lembrou de como se sentiu amado, mas também de como foi traído. O que pesava mais? O amor que ainda ardia em seu coração ou o medo de se machucar novamente?

Enquanto encarava o teto, uma pergunta o atormentava: seria possível reconstruir algo que havia sido tão destruído?

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