Passos na Reconstrução
Rafael e Miguel caminharam lado a lado pela cidade. Embora as palavras fluíssem entre eles, havia uma tensão silenciosa. Cada frase parecia um teste de limites, como se ambos tateassem no escuro em busca de segurança.
Eles pararam em um café perto do parque central, um lugar que Rafael costumava frequentar com sua mãe. Ao se sentarem, Miguel olhou para ele com uma mistura de nervosismo e expectativa.
— Eu sei que isso não será fácil, Rafael. Eu não espero que as coisas voltem a ser como antes.
Rafael assentiu, mexendo na xícara de café sem olhar diretamente para Miguel.
— Eu também sei disso. Mas, para ser sincero, não quero que sejam como antes. Se tivermos uma chance… tem que ser diferente. Tem que ser melhor.
Miguel parecia aliviado com aquelas palavras, mas também percebeu a seriedade nelas.
— Eu concordo. E quero que você saiba que, dessa vez, farei tudo o que estiver ao meu alcance para não te decepcionar.
Rafael levantou o olhar, finalmente encontrando os olhos de Miguel.
— Espero que esteja preparado para isso, porque não vai ser fácil.
Os dias seguintes foram marcados por encontros pequenos, como idas ao parque ou conversas ao telefone. Rafael ainda mantinha sua guarda alta, mas começava a perceber que Miguel estava determinado a provar que havia mudado.
Em um desses encontros, Miguel levou Rafael a um projeto comunitário que ele ajudava a liderar. Era uma oficina de arte para jovens LGBTQIA+ que buscavam um espaço seguro para se expressar. Rafael observou enquanto Miguel ensinava um garoto tímido a pintar. O cuidado com que ele se dedicava à tarefa deixou Rafael surpreso.
— Você é bom com eles — comentou Rafael, enquanto esperavam os jovens terminarem suas atividades.
Miguel deu um sorriso tímido.
— Eles me lembram de quem eu era. Perdido, com medo… mas cheio de sonhos. Quero que eles tenham o que eu não tive naquela época: apoio.
Rafael sentiu um nó na garganta. Ele nunca tinha visto aquele lado de Miguel antes. Talvez ele realmente tivesse mudado.
Dias depois, enquanto Rafael estava em casa revisando documentos, seu telefone tocou. Era Miguel.
— Rafael, você pode vir até o centro comunitário? Precisamos de ajuda com um evento.
Rafael hesitou. Não era algo que planejava fazer, mas algo na voz de Miguel o convenceu.
Ao chegar, encontrou o lugar transformado em um espaço acolhedor, decorado com luzes e cartazes coloridos. Era um evento de celebração da comunidade, e Miguel parecia estar no comando de tudo.
— Você realmente mergulhou fundo nisso, hein? — disse Rafael, enquanto observava a movimentação.
Miguel deu de ombros, sorrindo.
— É a minha forma de retribuir. De tentar fazer algo bom.
Enquanto a noite avançava, Rafael começou a se sentir mais à vontade. Ele até ajudou a distribuir bebidas e conversar com os participantes. Em um momento, enquanto observava Miguel no palco agradecendo a todos, percebeu algo importante: ele ainda amava aquele homem.
Mas o amor, sabia Rafael, não bastava sozinho. Era preciso confiança, paciência e muita vontade de ambos para que aquilo desse certo.
Ao final da noite, enquanto ajudavam a limpar o local, Miguel se aproximou com um pano na mão e um sorriso cansado.
— Obrigado por ter vindo. Foi bom te ter aqui.
Rafael deu um leve sorriso.
— Foi… diferente. Mas bom.
Miguel hesitou por um momento antes de perguntar:
— Você acha que… estamos no caminho certo?
Rafael olhou para ele, ponderando antes de responder.
— Eu não sei, Miguel. Mas acho que, pela primeira vez em muito tempo, sinto que podemos tentar.
Miguel sorriu, e naquele momento, algo mudou entre eles. Não era um recomeço imediato, mas uma promessa silenciosa de que ambos estavam dispostos a construir algo novo, passo a passo.
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Atualizado até capítulo 41
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