capítulo 8

Será que estou me enganando?

Na manhã seguinte ao evento no centro comunitário, Rafael acordou sentindo uma estranha mistura de esperança e apreensão. Ele havia se permitido abrir uma brecha em sua armadura na noite anterior, mas, ao mesmo tempo, os ecos do passado ainda sussurravam em sua mente.

Enquanto preparava o café, os pensamentos vinham como uma avalanche. Ele se lembrou de cada momento em que Miguel o fez sentir pequeno, inseguro, insuficiente. Não era apenas sobre as palavras ou ações de Miguel na época; era sobre como ele mesmo permitiu que aquilo o definisse por tanto tempo.

Será que eu estou me enganando? Será que estou indo direto para outra decepção?

Rafael tentou se concentrar no trabalho que precisava fazer em casa, mas sua mente vagava. Ele pegou o caderno que Miguel havia lhe dado e, ao reler alguns trechos, sentiu um aperto no coração. Miguel parecia genuíno em suas palavras, mas será que ele, Rafael, era capaz de superar tudo aquilo?

Ele se lembrou de algo que Clara havia lhe dito:

— O perdão é mais sobre você do que sobre o outro. Às vezes, é a única forma de se libertar do peso que você carrega.

Rafael não tinha certeza se era capaz de perdoar Miguel completamente, mas sabia que precisava, ao menos, entender o que o impedia de seguir em frente.

Naquela tarde, Rafael encontrou Clara para um café. Ela sempre foi sua confidente, e ele sabia que precisava de alguém para organizar seus pensamentos.

— Então, como estão as coisas com o Miguel? — perguntou Clara, com um olhar curioso.

Rafael suspirou, mexendo no café.

— Complicado. Ele parece diferente, sabe? Parece que realmente mudou. Mas eu… não sei se consigo confiar nele de novo.

Clara inclinou-se para frente, apoiando os cotovelos na mesa.

— Isso é normal, Rafa. Depois de tudo o que aconteceu, ninguém esperaria que você simplesmente esquecesse tudo e seguisse em frente. Mas o que realmente está te segurando? É o medo de que ele te machuque de novo ou… outra coisa?

Rafael hesitou.

— Acho que é o medo de perder quem eu me tornei sem ele. Quando Miguel me machucou, foi como se ele destruísse uma parte de mim. Mas eu reconstruí isso, sozinho. E agora, deixar ele entrar de novo parece arriscado.

Clara assentiu lentamente, absorvendo suas palavras.

— Eu entendo. Mas pense nisso: você realmente acha que permitir que ele se aproxime vai apagar quem você é agora? Ou será que isso pode te tornar ainda mais forte?

Rafael ficou em silêncio. Ele nunca havia pensado dessa forma.

Naquela noite, em casa, Rafael decidiu enfrentar seus próprios fantasmas. Ele abriu uma gaveta onde guardava um álbum antigo de fotos. Ao folheá-lo, encontrou imagens de momentos felizes ao lado de Miguel, mas também lembrou de como se sentia invisível em alguns desses momentos.

Ele se sentou no chão, o álbum no colo, e deixou as lágrimas escorrerem. Não era apenas dor pelo que Miguel havia feito, mas pela pessoa que ele era naquela época. Alguém que aceitava menos do que merecia, que colocava o amor pelo outro acima do amor por si mesmo.

— Eu mudei — murmurou para si mesmo, sentindo uma força crescer dentro de si. — E não vou deixar ninguém tirar isso de mim.

Rafael sabia que o processo de reconciliação com Miguel não seria apenas sobre confiança, mas também sobre preservar quem ele se tornara. Ele precisava aprender a amar sem se perder novamente.

  passo à frente

No dia seguinte, Rafael enviou uma mensagem a Miguel.

"Podemos nos encontrar? Preciso conversar."

Miguel respondeu rapidamente.

"Claro. Onde e quando você quiser."

Eles marcaram no lago, o lugar onde tantas conversas importantes já haviam acontecido. Quando Rafael chegou, encontrou Miguel esperando, com um semblante ansioso.

— Rafael, está tudo bem? — perguntou Miguel, assim que ele se aproximou.

Rafael respirou fundo antes de responder.

— Miguel, eu quero tentar. Quero ver até onde podemos ir. Mas preciso que você entenda que isso não significa que está tudo resolvido. Eu ainda tenho minhas feridas, e você vai precisar ter paciência comigo.

Miguel assentiu, os olhos brilhando de emoção.

— Eu sei, Rafael. E estou disposto a fazer o que for preciso.

Rafael deu um pequeno sorriso, sentindo que, pela primeira vez, estava assumindo o controle da própria história.

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