capítulo 12

A sala de reuniões do Ministério da Defesa era normalmente um local de tensão e decisões estratégicas. Mas, naquela noite, o ambiente estava mais descontraído. Vitor Bellucci estava reunido com dois amigos de longa data, Ricardo Teixeira, Ministro da Justiça, e Daniel Prado, Ministro da Economia. Ambos eram homens de confiança de Giulia, mas também amigos pessoais de Vitor, com quem ele compartilhava uma camaradagem rara no cenário político.

— Então, Bellucci, como anda a vida de solteiro mais cobiçada deste governo? — provocou Ricardo, servindo-se de um uísque.

— Por favor, Ricardo, se tem alguém cobiçado aqui, esse alguém é você, com suas entrevistas cheias de charme para a imprensa — respondeu Vitor, rindo.

Daniel, que estava distraído com o celular, interrompeu:

— Falando em charme, vocês viram o que fizeram com meu número? Vazaram em um grupo público de mensagens. Desde ontem, não paro de receber ligações e mensagens de desconhecidos.

— Isso é sério? — perguntou Vitor, franzindo a testa. — Você já sabe quem fez isso?

— Ainda não, mas estou desconfiado de alguém dentro da própria equipe de comunicações. Giulia precisa saber disso, porque, se vazaram o meu, o dela pode ser o próximo.

Ricardo balançou a cabeça.

— Isso está ficando fora de controle. Temos um X9 no governo, e ele está jogando contra todos nós. Já passei um relatório para a Presidente sobre as suspeitas, mas até agora nada concreto.

— Precisamos descobrir quem é — disse Vitor, com o semblante fechado. — Esses vazamentos estão minando a nossa segurança e a confiança entre os ministros.

Ricardo inclinou-se para frente, apoiando os cotovelos na mesa.

— E a Giulia? Como ela está lidando com isso tudo? Ultimamente parece... diferente.

Daniel riu, levantando as sobrancelhas.

— Diferente? Acho que sei o motivo. Ela tem andado muito próxima do nosso amigo aqui, não é, Bellucci?

Vitor lançou um olhar afiado para Daniel, mas não pôde evitar o leve sorriso que surgiu em seus lábios.

— Foco, senhores. Estamos aqui para falar de trabalho.

— Trabalho, claro — provocou Ricardo, rindo. — Mas, falando sério, Vitor, você sabe o quanto a Presidente confia em você. Não dá para descartar que esse X9 pode estar tentando atingir você para enfraquecê-la.

Vitor assentiu, pensativo.

— Isso já passou pela minha cabeça. A questão é: quem teria tanto a ganhar ao desestabilizar o governo?

Daniel deu de ombros.

— Pode ser qualquer um. Mas é estranho como esses vazamentos são sempre direcionados aos que estão mais próximos da Giulia. Primeiro foi aquele boato sobre Clara, a chefe de comunicação, e agora o número do Ricardo. Alguém está tentando dividir o gabinete.

Ricardo completou:

— Precisamos agir rápido. Se não descobrirmos quem é, isso vai sair do controle.

Vitor se levantou, servindo-se de uma dose de uísque.

— Eu vou falar com a Giulia sobre isso amanhã. Enquanto isso, vocês mantenham os olhos abertos e desconfiem de tudo e de todos.

O clima, que começara descontraído, havia mudado. Agora, o peso das conspirações parecia pairar sobre eles.

Ricardo tentou quebrar a tensão:

— Bom, enquanto o X9 não aparece, eu proponho uma pausa. Vamos falar de algo menos pesado. Vitor, quem é a sua "primeira-dama"?

— Não tenho nenhuma primeira-dama — respondeu ele, com um sorriso misterioso.

Daniel deu uma risada.

— Claro que não. Mas, se tivesse, aposto que seria alguém tão poderosa quanto você.

Vitor ficou em silêncio, pensando em Giulia. Mesmo sem dizer nada, os amigos perceberam o brilho diferente em seus olhos.

— Está entregue, meu caro — disse Ricardo, apontando para ele. — Cuidado. No nosso mundo, sentimentos podem ser uma arma perigosa.

— Não se preocupem comigo — respondeu Vitor, levantando seu copo. — Eu sei muito bem onde estou pisando.

Enquanto a conversa continuava, Vitor não conseguia afastar a preocupação. O inimigo no governo era um perigo real, mas talvez o maior risco que ele estivesse a correr fosse o de misturar o seu coração com a sua missão.

...****************...

Ricardo olhou para Vitor, inclinando-se na cadeira com um sorriso travesso no rosto.

— Cara, você já reparou como a Giulia tem aquela presença que domina qualquer sala? Quero dizer, é mais do que a liderança dela... tem algo naquele jeito dela, entende?

Daniel riu, balançando a cabeça.

— Mais do que o jeito, Ricardo. Estamos falando daquela pele morena impecável, os cabelos ondulados que parecem ter saído de um comercial, e aqueles olhos... Meu Deus, aqueles olhos! São como a lua. Você olha para eles e sente que ela está enxergando bem dentro da sua alma.

Vitor manteve-se calado, mas seu maxilar se contraiu levemente, algo que não passou despercebido pelos amigos.

— Ah, Bellucci, você está muito quieto — provocou Ricardo. — Não me diga que nunca reparou nela assim.

— Giulia é a presidente da república. E eu sou o ministro da Defesa. Meu foco é garantir a segurança dela e do país, nada mais — respondeu Vitor, com um tom firme, mas evitou olhar diretamente para os amigos.

Daniel gargalhou, batendo a mão na mesa.

— Você pode enganar metade do gabinete, mas não a gente. Qualquer um que já entrou no mesmo ambiente que vocês percebe a tensão. Não é só profissionalismo, meu amigo.

Ricardo fez um gesto teatral, como se estivesse relembrando algo.

— Você sabia que, no nosso primeiro encontro oficial, quando ela ainda era ministra, eu achei que ela fosse a mulher mais inacessível que já vi? Parecia uma estátua de mármore, tão perfeita e intocável. Mas aí ela começou a falar, e tudo mudou. Não é só beleza, é aquele cérebro afiado. Ela te desmonta com palavras.

Vitor finalmente se pronunciou, sua voz mais baixa, mas carregada de emoção.

— Vocês estão certos sobre uma coisa: Giulia é única. Não é só a beleza dela, é a força, a inteligência, o modo como ela nunca recua, mesmo com o mundo desabando ao redor. Isso... é raro.

Ricardo sorriu de canto.

— E é por isso que você está ferrado, meu amigo. Homens como nós se apaixonam por mulheres como ela e nunca mais se recuperam.

Antes que Vitor pudesse responder, Daniel mudou o assunto abruptamente.

— E o Antoine Moreau? Aquele cara está metendo a mão em coisas que não deveria. Ouvi dizer que ele esteve em uma reunião com empresários bem suspeitos na semana passada.

Ricardo assentiu, seu tom ficando sério.

— Antoine é o tipo de pessoa que se move nas sombras. É inteligente, mas perigoso. Sempre parece saber mais do que deveria, e eu não duvido que ele esteja envolvido nesses vazamentos.

Vitor franziu a testa.

— Já passei os relatórios sobre ele para a Giulia. Ela está ciente, mas não há provas concretas ainda. Se ele é o X9 ou não, precisamos agir com cautela.

Ricardo suspirou, recostando-se na cadeira.

— Cautela é algo que Antoine também tem de sobra. Ele joga o jogo como um mestre. Mas eu te digo, Bellucci, fique de olho nele. Se alguém pode ser uma ameaça à Giulia, é ele.

Vitor apertou os lábios, levantando-se e pegando seu casaco.

— Não se preocupem. Eu nunca deixarei nada acontecer a ela.

Enquanto ele saía da sala, os dois amigos trocaram olhares significativos. Sabiam que, por trás da armadura profissional de Vitor, havia um homem disposto a tudo por Giulia Moretti. E, no mundo deles, isso era tanto uma bênção quanto um perigo.

...****************...

Ricardo pegou seu copo de uísque e olhou para Vitor com um sorriso malicioso.

— Certo, Bellucci. Vamos ser sinceros aqui. A gente sabe que você não está apenas defendendo a presidente. Você está defendendo a mulher. Então, por que não nos conta logo o que está rolando?

Daniel se juntou à provocação, cruzando os braços e inclinando-se para frente.

— Isso mesmo. E não venha com aquele papo de “somos apenas profissionais”. Vimos vocês dois trocando olhares na última reunião de gabinete. Tensão pura, meu amigo.

Vitor riu, balançando a cabeça enquanto se servia de mais uma dose.

— Vocês dois têm uma imaginação fértil, vou te dizer.

Ricardo ergueu uma sobrancelha, claramente não convencido.

— Fertil ou não, você está com um sorriso estranho no rosto. Vamos lá, admita. Teve algo?

Vitor deu um gole na bebida antes de responder.

— Eu vou dizer uma coisa: trabalhar com Giulia é como estar perto de uma tempestade perfeita. Ela é intensa, direta e... quente.

Os dois amigos riram alto, e Daniel provocou:

— Quente? Essa é a palavra que você escolheu? Vamos lá, Bellucci, você pode fazer melhor que isso.

Vitor colocou o copo na mesa e olhou para eles com um brilho divertido nos olhos.

— Tá bom, tá bom. Vocês venceram. Não vou entrar em detalhes, mas... digamos que houve um momento.

Ricardo quase cuspiu o uísque de tanto rir.

— Um momento? Isso é jeito de falar de um beijo com a mulher mais poderosa do país?

Daniel bateu na mesa, rindo.

— Cara, você precisa nos contar. Foi aquele tipo de beijo que muda tudo?

Vitor sorriu, lembrando-se do instante em que tudo aconteceu. Ele passou a mão pelos cabelos e falou, com uma mistura de humor e emoção:

— Foi como se o mundo inteiro tivesse parado. Ela estava ali, na minha frente, com aquele jeito todo sério, falando sobre segurança nacional... e, de repente, bum! A barreira caiu. Não sei quem fez o primeiro movimento, mas foi... eletrizante.

Ricardo bateu palmas, rindo.

— Eletrizante? Agora estamos falando!

Daniel riu também, mas logo perguntou:

— E depois? O que ela disse?

Vitor deu de ombros, o sorriso voltando ao rosto.

— Depois? Ela tentou fingir que nada aconteceu, mas você conhece a Giulia. Por mais que ela seja uma muralha, eu sei que esse momento mexeu com ela tanto quanto comigo.

Ricardo balançou a cabeça, ainda rindo.

— E você acha que isso vai ficar só nesse “momento”? Porque, meu amigo, do jeito que você fala dela, parece que já está pensando em escrever votos de casamento.

Vitor riu junto com eles, mas, por dentro, sabia que a provocação não era tão absurda assim. Giulia era muito mais do que sua superior. Ela era alguém que havia capturado seu coração, e ele sabia que aquele beijo, por mais que tivesse sido breve, havia mudado tudo entre eles.

...****************...

Ricardo virou-se para Vitor, ainda com um sorriso no rosto, mas o tom de sua voz ficou mais sério.

— Falando em problemas, você ouviu algo sobre o Pierre Moreau? O cara está sumido há anos, e ninguém consegue uma resposta concreta sobre onde ele está.

Vitor franziu a testa, o humor descontraído desaparecendo instantaneamente.

— Ele não estava envolvido em missões de transporte especial para o governo?

— Sim — respondeu Ricardo, recostando-se na cadeira. — Ele era responsável por transportar documentos sensíveis e pessoas importantes em voos confidenciais. Um dos melhores pilotos que já tivemos. Mas, de repente, ele desapareceu. O último contato foi há cerca de duas semanas. Nem a família sabe onde ele está.

Daniel entrou na conversa, com uma expressão preocupada.

— Isso não é só estranho, é alarmante. O Pierre estava envolvido em operações delicadas, e se ele foi comprometido...

Vitor interrompeu, sua voz ficando mais grave.

— Se ele foi comprometido, significa que informações cruciais podem estar em risco. Isso não é só um caso de desaparecimento. É uma ameaça direta à segurança nacional.

Ricardo assentiu.

— Exato. E tem mais: há rumores de que Pierre estava sendo pressionado por alguém. Um nome surgiu em conversas informais... Antoine Moreau.

Daniel arregalou os olhos.

— O Antoine? O mesmo que a gente já suspeita de estar por trás dos vazamentos?

Ricardo confirmou com a cabeça.

— Sim. Não sabemos se há uma conexão direta, mas é muita coincidência. Os Moreau têm suas mãos em tudo que é sombra deste governo.

Vitor levantou-se, cruzando os braços enquanto olhava pela janela da sala. Ele ficou em silêncio por alguns segundos antes de falar:

— Se Antoine está envolvido, precisamos ser rápidos. Giulia precisa ser informada disso imediatamente. Se há um elo entre o desaparecimento de Pierre e os vazamentos, ela precisa saber com quem estamos lidando.

Ricardo suspirou, inclinando-se para frente.

— Eu concordo, mas, Bellucci, temos que jogar com cuidado. O Antoine é um mestre em manipular situações. E se ele estiver por trás disso, ele já tem um plano para se proteger.

Vitor virou-se para os amigos, o olhar decidido.

— Então vamos descobrir o plano dele antes que ele possa usá-lo contra nós. E se o Pierre estiver vivo, vamos trazê-lo de volta. Não importa o que custe.

O silêncio que se seguiu foi pesado, mas carregado de determinação. Eles sabiam que a batalha estava apenas começando, e que agora não era apenas uma questão de proteger Giulia, mas também de desmascarar um inimigo poderoso escondido nas sombras do governo.

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