capítulo 8-fogo e gasolina

A noite era envolta em um silêncio inquietante, mas o gabinete presidencial ainda parecia pulsar com os resquícios das decisões urgentes tomadas horas antes. Giulia Moretti,permanecia sentada em sua imponente cadeira de couro. Um ar de solidão pairava ao seu redor, quase tão palpável quanto as sombras projetadas pelas luzes amareladas do abajur que deixavam a sala em penumbra, como se o próprio ambiente refletisse o peso de seu fardo.

Então, o som de passos firmes quebrou o silêncio.

Vitor Bellucci entrou sem aviso, trazendo consigo uma presença magnética que parecia consumir o ar do recinto. Diferente de sua postura habitual, ele estava vestido de forma casual, e sua camisa, desabotoada até o meio do peito. Cada uma delas parecia guardar histórias que ele preferia deixar enterradas.

Giulia desviou o olhar instintivamente, mas logo foi atraída de volta, incapaz de ignorar a figura que dominava tanto os campos de batalha quanto os corações mais endurecidos. Sua mente, exausta pelas responsabilidades, fugiu para a noite anterior, um momento que ela preferia esquecer, mas que seu corpo insistia em lembrar.

Naquela noite, ele havia tirado a camisa, uma visão que a deixou à deriva entre o desejo e o temor. O gabinete se transformara em uma tempestade de emoções, um lugar onde sua razão sucumbiu à emoção, onde ela encontrou uma segurança que parecia ser o porto que tanto ansiava. Ele era sua religião, seu amor, mesmo que proibido.

O olhar de Vitor naquela noite havia queimado mais do que qualquer chama. Suas palavras, ditas com a intensidade de um homem que sabia o que queria, quebraram suas defesas com precisão cirúrgica. Ele não era apenas o ministro leal em quem ela confiava — era o homem que penetrara as barreiras que ela cuidadosamente erguera.

Agora, diante dele novamente, o desejo que ela tentara reprimir pulsava com ainda mais força, ameaçando transbordar.

— Presidente, você está bem? — a voz dele, firme e profunda, trouxe-a de volta ao presente.

— Estou... Estou bem, Bellucci. — Sua resposta saiu trêmula, denunciando a vulnerabilidade que tanto tentava esconder.

Ele deu um passo à frente, a preocupação clara em seus olhos castanhos que pareciam enxergar mais do que ela gostaria.

— Você parece exausta. Talvez devesse descansar.

— Não posso me dar esse luxo. O país não espera.

Ele inclinou levemente a cabeça, os olhos fixos nela, como se estivesse tentando decifrar algo invisível.

— Você não precisa carregar tudo sozinha, Giulia.

O som de seu nome em sua voz foi como uma descarga elétrica. Era raro ouvi-lo se referir a ela de forma tão pessoal, mas algo naquele momento pareceu inevitável. Talvez fosse a solidão que a corroía, ou o desejo reprimido que crescia a cada encontro.

— Às vezes, me pergunto por que você se importa tanto,amor — ela murmurou, quase inaudível.

Vitor se aproximou ainda mais, o suficiente para que ela sentisse seu perfume amadeirado, uma mistura hipnotizante de força e mistério.

— Porque você merece, Giulia. Porque eu faria qualquer coisa para ser o homem que você precisa. — Ele fez uma pausa, o olhar ardendo nos dela. — E ouvir você me chamar de "amor" pela primeira vez me dá a certeza de que estou no caminho certo.

O ar entre eles parecia pesado, carregado de tensão. Giulia sentiu o coração disparar quando Vitor ergueu a mão, hesitante, como se quisesse tocar seu rosto, mas temesse cruzar um limite que não teria volta.

Ela sabia que aquele momento era perigoso, que qualquer gesto poderia mudar tudo: a relação profissional, o respeito público, o equilíbrio frágil de seu governo. Mas, por um instante, nada disso importava.

Naquele instante, havia apenas eles, dois seres quebrados a buscar um fragmento de paz em meio ao caos que os cercava.

...****************...

Na manhã seguinte, Giulia estava se preparando para uma aparição inesperada em um programa de TV juvenil ao vivo, algo que nunca imaginara fazer, mas que fazia parte de sua estratégia para se aproximar da população e passar uma imagem mais acessível e descontraída. Ela estava em um dos estúdios mais modernos da cidade, cercada por câmeras e uma equipe de produção que trabalhava freneticamente nos bastidores.

O apresentador, Lucas Mendes, era conhecido por seu carisma e espontaneidade. Jovem, mas com um talento nato para conduzir entrevistas com leveza, ele sabia exatamente como manter a conversa fluindo, tornando qualquer assunto descontraído e interessante, mesmo quando a entrevistada era a presidente de um país em crise.

Quando Giulia entrou no palco, um aplauso caloroso da plateia juvenil a surpreendeu. Ela sorriu, tentando esconder a surpresa com a atitude de sempre: firme, mas acessível. O cenário era simples, com sofás confortáveis e uma tela gigante atrás, onde imagens do governo de Giulia eram projetadas. Lucas, de terno casual, levantou-se para cumprimentá-la.

— Presidente Giulia Moretti, é um prazer tê-la conosco! — Ele disse com entusiasmo, guiando-a até o sofá. — Está pronta para conversar com a nossa galera?

Ela assentiu, sorrindo. Era raro vê-la relaxada assim, mas sabia que esse era um momento crucial.

— Claro, Lucas. É ótimo estar aqui. — Ela respondeu, se acomodando no sofá.

Lucas sentou-se ao seu lado, com um olhar curioso.

— Então, Giulia, todo mundo está falando sobre os bons resultados do seu governo, especialmente com as recentes reformas que começaram a dar frutos. Como está se sentindo com tudo isso?

Giulia respirou fundo, absorvendo o momento.

— Bom, Lucas, o trabalho é árduo, mas estamos em um bom momento. As reformas estão começando a surtir efeito e, apesar das dificuldades que ainda enfrentamos, sinto que estamos no caminho certo. Nossa economia está se estabilizando, e as pessoas estão começando a sentir a mudança. Eu vejo isso nas ruas, nas conversas, e me dá uma sensação de que estamos, de fato, construindo algo melhor para o futuro.

Lucas sorriu, visivelmente interessado, antes de lançar a pergunta mais descontraída.

— E sobre sua vida pessoal, Giulia? Todo mundo quer saber, a gente vê você tão focada no trabalho, mas e o coração? Está mais tranquilo também?

Giulia sentiu o calor subir à sua face, mas logo se recompos, sabendo que aquela era uma oportunidade única de mostrar uma outra faceta dela, mais humana e real.

— Bem, Lucas, eu não costumo falar muito sobre minha vida pessoal, mas... sim, estou feliz. Encontrei alguém especial. Ele é muito inteligente, um homem leal e, o mais importante, ele é alguém com quem eu posso ser eu mesma. Não vou entrar em detalhes, mas posso dizer que estou com alguém que, além de ser maravilhoso, também me faz sentir segura.

O público reagiu com aplausos e gritos. Giulia sorriu timidamente, mas a cada palavra, sentia-se mais à vontade. A conversa estava fluindo, e ela sabia que aquela exposição faria bem para a imagem pública, sem expor demais sua intimidade.

Lucas, sempre atento, não perdeu a oportunidade de fazer um comentário brincalhão.

— Isso aí, presidente, sua vida pessoal é tão misteriosa quanto suas decisões políticas, mas temos que te dar crédito, você está equilibrando tudo com muita habilidade!

Giulia riu suavemente.

— É verdade, Lucas, a vida política tem sido uma grande aula de equilíbrio, mas, como todo mundo, também sou humana e preciso de um pouco de felicidade pessoal para continuar.

O apresentador deu uma piscadela para a câmera, antes de finalizar.

— Bom, presidente, queremos te agradecer por ter compartilhado um pouco da sua visão e da sua vida com a gente hoje. Vamos torcer para que você continue brilhando, tanto na política quanto no coração!

Giulia sorriu para a câmera, dando um aceno de cabeça.

— Obrigada, Lucas. Eu acredito que estamos todos juntos nessa jornada. E, quem sabe, mais adiante, eu possa compartilhar mais detalhes sobre a minha vida amorosa, mas por enquanto, vou manter a minha "misteriosidade".

O público riu, e a entrevista chegou ao fim. Giulia sentiu-se leve, mais uma vez, conseguindo deixar um pouco da pressão de lado. Mas, enquanto saía do estúdio, o pensamento de Vitor não saía da sua mente. Ele, que estava longe, mas ainda presente nos seus pensamentos e, agora, até nas suas palavras.

...****************...

Caminhava pelo corredor do estúdio, ainda absorvendo a tensão da entrevista. O calor das luzes, os aplausos, a conversa despreocupada, tudo parecia ter sido uma fachada, uma máscara que ela agora estava tirando. Mas algo dentro de si ainda estava inquieto. Uma necessidade. Algo que ela não podia negar. Ela sentia um vazio profundo, e sabia exatamente de onde vinha. Dele.

Vitor.

Ela pegou o celular, a tela iluminando seu rosto. E, como se o universo soubesse, a mensagem de Vitor apareceu na tela. "Você estava incrível na entrevista. Espero que tenha se divertido." Uma simples mensagem, mas com algo no fundo que parecia carregado de promessas não ditas.

Antes que pudesse responder, o telefone tocou. O nome dele apareceu, e o coração de Giulia deu um salto. Ela sabia o que isso significava. Ele sempre sabia como a fazer perder o controle.

Ela atendeu com uma leveza que tentava esconder o tumulto interno.

— Giulia. — A voz de Vitor saiu suave, mas com uma intensidade inconfundível. — Como está?

Ela respirou fundo, tentando manter a calma.

— Eu... estou bem. Acabei de sair de uma entrevista.

Vitor soltou uma risada baixa do outro lado, carregada de um tom que fazia o sangue de Giulia ferver.

— Eu sei, vi. Você estava deslumbrante. Mas, preciso confessar, não foi só o governo que me deixou interessado.

A resposta de Vitor a fez estremecer, mas ela manteve a postura.

— Não é hora para esse tipo de conversa, Vitor. — Ela tinha algo em sua respiração que traía seus próprios sentimentos.

Ele riu novamente, dessa vez mais próximo, como se estivesse ali, ao seu lado, sussurrando em seu ouvido.

— Eu sei, Giulia. Mas você sabe que é difícil me controlar quando vejo alguém tão... imponente, tão sedutora quanto você. Eu vi você na TV, e algo em mim não consegue mais ignorar o quanto eu quero mais de você.

Giulia fechou os olhos por um momento, sentindo a tensão aumentar. O desejo estava ali, firme, pulsando em suas veias como uma chama prestes a consumir tudo. Ela tentou resistir, mas suas palavras saíam quase sem querer.

— Vitor...

— Eu sei o que você vai dizer. Que é errado. Que somos profissionais. Mas, Giulia, você e eu sabemos que existe algo aqui, algo que vai além disso. — Ele parou por um momento, como se ponderasse suas palavras, antes de sussurrar: — Eu quero você, Giulia. Quero algo mais ...intenso

O coração de Giulia disparou. Ela sabia que ele estava certo, sabia que, entre eles, havia uma chama incontrolável que só crescia a cada encontro. Mas ela também sabia que se cedesse àquilo, se se permitisse sentir, as consequências seriam profundas.

— Não podemos fazer isso. Não... agora, Vitor.

— Não há “agora”, Giulia. Há apenas "nós". E eu estou pronto para atravessar essa linha. Para você, não há mais fronteiras.

O tom da voz dele estava carregado de desejo, de urgência. Ela podia sentir a proximidade dele, a forma como ele a invadia de longe, como se já estivesse ali, tocando-a sem tocar.

— Você não entende, Vitor. Minha vida... minha responsabilidade, tudo está em jogo. Eu não posso ser só mulher agora. Eu sou a presidente.

Ele respirou fundo, e Giulia sentiu o peso de suas palavras, como se ele estivesse ali, dentro de sua mente, fazendo com que suas barreiras começassem a desmoronar.

— Eu entendo, Giulia. Mas você também é mulher. E eu estou começando a acreditar que, se você me deixar entrar, posso ser a força que você precisa, não só no governo, mas também em sua vida. Eu posso ser o que você deseja, sem limitações, sem hesitações.

O silêncio que se seguiu foi quase insuportável. Giulia sabia o que ele estava fazendo-a questionar tudo o que ela construíra até ali. E, ainda assim, ela queria. Queria mais do que tudo. Queria ceder àquela atração irresistível, querer ele tanto quanto ele a queria.

— Você me conhece, Vitor. Eu não sou fraca. — Ela se forçou a dizer, tentando manter o controle.

Mas ele sabia que ela estava se entregando ao jogo. E ele estava disposto a levar isso até o fim.

— Não é fraqueza, Giulia. É desejo. E não há nada mais poderoso do que isso.

Ela suspirou, a respiração mais rápida agora, e o coração ainda batendo forte.

— Eu... vou pensar no que você disse.

— Não pense demais, Giulia. A vida é curta demais para isso. E eu não vou esperar para descobrir o que podemos ser juntos.

A ligação foi encerrada. Giulia permaneceu ali, o telefone em suas mãos, o silêncio preenchido apenas pelo som da sua respiração. Ela sabia que a decisão estava em suas mãos, e que uma escolha, uma única escolha, mudaria tudo.

Mas, por um momento, não queria mais resistir.

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Anatalice Rodrigues

Anatalice Rodrigues

Decisão difícil. /Awkward//Awkward//Awkward//Awkward/

2025-01-26

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