Capítulo 10: O Retorno de Antoine Moreau

A luz dourada do entardecer iluminava o gabinete presidencial, filtrando-se pelas janelas e lançando sombras suaves nas paredes. Giulia Moretti estava sozinha, revisando documentos de segurança nacional, quando o som da porta se abrindo interrompeu sua concentração.

Sem levantar os olhos, ela disse:

— Eu pedi que não me interrompessem, Clara.

— Clara não está aqui, Giulia.

O tom familiar e inconfundível daquela voz fez seu coração vacilar por um instante. Ela ergueu os olhos lentamente, e lá estava ele: Antoine Moreau. Seu antigo amor, e agora um embaixador cuja sombra pairava sobre os corredores do poder.

Antoine estava à vontade, como sempre. Vestia um terno cinza impecável, mas sua gravata estava um pouco frouxa, e em sua mão descansava um copo de cristal preenchido com o líquido âmbar de um Macallan — um de seus uísques mais preciosos.

— Espero que não se importe, — disse ele, erguendo o copo com um sorriso de canto. — Sempre apreciei seu bom gosto.

Giulia ajustou a postura, cruzando as mãos sobre a mesa. Seu tom era frio, mas havia uma nota de inquietação em sua voz.

— O que está fazendo aqui, Antoine?

Ele caminhou pelo gabinete como se fosse dono do lugar, observando cada detalhe. Seus olhos, tão afiados quanto sua língua, pousaram finalmente nela.

— Apenas uma visita de cortesia. Vi sua aparição no programa ontem. — Ele parou diante da janela, virando-se para encará-la. — Você estava... deslumbrante. E muito, muito inacessível, como sempre.

Giulia o observou atentamente, tentando medir suas intenções.

— Tenho certeza de que não veio aqui apenas para comentar minha performance na televisão.

Antoine deu um passo em sua direção, a expressão no rosto mudando para algo mais intenso.

— Não, Giulia. Eu vim porque não consigo tirar da cabeça o que ouvi.

Ela franziu a testa, tentando entender.

— Do que está falando?

Ele sorriu, mas era um sorriso carregado de ironia e dor.

— Aquele "alguém especial". Foi assim que você descreveu?

O coração de Giulia disparou. Por um momento, ela hesitou, mas logo recuperou o controle.

— Minha vida pessoal não é da sua conta, Antoine.

— Não era da minha conta, — ele respondeu, a voz mais baixa, quase um sussurro. — Até eu perceber o quanto isso me incomodava.

Ela inclinou a cabeça, cruzando os braços.

— Está com ciúmes?

Ele deu uma risada curta, amarga.

— Eu? Ciúmes? Talvez. Ou talvez eu apenas esteja tentando entender como você conseguiu seguir em frente tão rápido, enquanto eu...

Antoine parou, as palavras pairando no ar. Ele tomou outro gole do uísque, como se tentasse apagar o peso do que sentia.

Giulia aproveitou o silêncio para se levantar. Sua voz era firme, mas havia uma leve rachadura nela.

— Não é tão simples assim, Antoine. Nós dois seguimos caminhos diferentes, porque era o que precisava ser feito.

Ele deu um passo à frente, agora próximo o suficiente para que ela sentisse o perfume amadeirado que ele sempre usava.

— E ainda assim, estou aqui. Por quê, Giulia? Por que é tão difícil para mim esquecer?

Ela segurou o olhar dele, mesmo sentindo a tensão no ar.

— Talvez porque você não queira.

— Não quero, — ele admitiu, sua voz cheia de emoção. — Eu não queria naquela época, e não quero agora. Você foi mais do que um amor, Giulia. Você foi... tudo.

Ela desviou o olhar, tentando não ceder ao peso daquelas palavras.

— Antoine, isso não muda nada.

Ele colocou o copo de uísque na mesa, se inclinando ligeiramente para frente.

— Talvez não mude. Mas me diga uma coisa, Giulia. Esse "alguém especial"... Ele conhece você como eu conheço? Ele entende o que você carrega?

Giulia respirou fundo, tentando conter as emoções.

— Isso não importa. O que importa é o presente, Antoine. E no presente, você está aqui invadindo meu gabinete e tomando meu uísque como se o passado pudesse ser desfeito.

Ele sorriu, mas dessa vez havia tristeza em seu rosto.

— Não estou tentando desfazer nada. Só queria lembrar você... que eu ainda estou aqui.

O silêncio entre eles era quase insuportável. Antoine pegou o paletó que havia deixado sobre a cadeira e, antes de sair, lançou-lhe um último olhar.

— Adeus, Giulia. Ou até logo, se você me permitir.

Quando ele fechou a porta atrás de si, Giulia desabou na cadeira. Sentia-se exausta, como se tivesse travado uma batalha que ninguém mais podia ver. Antoine sempre soubera como abalar suas defesas, mas desta vez, ela não tinha certeza se conseguiria reconstruí-las.

Do outro lado da porta, Antoine caminhava pelos corredores com uma expressão indecifrável. Ele sabia que Giulia estava a ser sincera — e ainda assim, não conseguia aceitar.

...****************...

Giulia ainda estava afundada em pensamentos quando a porta do gabinete se abriu novamente. Ela ergueu os olhos rapidamente, imaginando ser sua assistente, mas, para sua surpresa, Antoine voltou a entrar.

— Achei que tivesse ido embora, — disse ela, com frieza na voz, enquanto ajeitava a postura.

Ele fechou a porta calmamente e deu alguns passos em direção à mesa, com as mãos nos bolsos e aquele sorriso que misturava charme e provocação.

— Pensei que seria injusto partir sem uma última conversa.

— Última conversa? Já não conversamos o suficiente? — replicou ela, cruzando os braços em um gesto defensivo.

Antoine inclinou a cabeça, como se estudasse cada movimento dela.

— Você sabe que sempre tenho algo a mais a dizer, Giulia.

Ele se aproximou lentamente, até estar a poucos passos dela. Havia algo no brilho de seus olhos, algo que misturava sedução e perigo.

— Você pode negar, — começou ele, com um tom baixo e firme, — mas há uma parte de você que sente minha falta tanto quanto eu sinto a sua.

— Antoine, — ela respondeu, sua voz firme, mas trêmula nas bordas, — isso já acabou.

Ele deu uma risada curta, sem humor, e inclinou-se sobre a mesa, reduzindo a distância entre eles.

— Será mesmo? Porque o que eu vi na sua entrevista... a maneira como você falou desse "alguém especial"... era quase como se estivesse tentando convencer a si mesma.

Giulia o encarou, tentando manter o controle, mas sentia a tensão crescer no ambiente.

— Meu relacionamento não é da sua conta.

Antoine estreitou os olhos, o sorriso sumindo de seu rosto.

— Talvez não. Mas sabe quem acha que é? A imprensa. Eles estão sempre prontos para destruir o que você construiu, Giulia. E você sabe o quanto eu odeio quando usam mentiras para isso.

Ela franziu a testa, sentindo um frio na espinha.

— O que está querendo dizer, Antoine?

Ele se afastou um pouco, pegando o copo de uísque e girando o líquido suavemente.

— Digamos que... certas pessoas vieram até mim com informações interessantes. Nada confirmado, claro. Apenas boatos sobre como a presidente do país pode estar envolvida com um de seus ministros.

O coração de Giulia disparou, mas ela manteve a expressão impassível.

— Isso é ridículo.

Antoine deu de ombros, ainda com aquele ar despreocupado, mas seus olhos brilhavam com algo mais sombrio.

— Ridículo, talvez. Mas o suficiente para criar um escândalo que a oposição adoraria explorar.

Ela se levantou de repente, apoiando as mãos na mesa. Sua voz era fria como gelo.

— Está me ameaçando, Antoine?

Ele levantou as mãos em um gesto de rendição, mas o sorriso em seu rosto contradizia o movimento.

— Eu? Ameaçar você? Nunca, Giulia. Só estou dizendo que, se eu quisesse... poderia usar isso a meu favor.

Ela estreitou os olhos, sentindo a raiva borbulhar sob a superfície.

— E o que você quer?

Antoine inclinou-se novamente, seu rosto agora perigosamente perto do dela. Sua voz saiu baixa, quase como um sussurro.

— Quero que você me escute. Quero que você confie em mim novamente. E talvez... quero que lembre como era quando éramos nós dois contra o mundo.

Giulia não se moveu, mas sentiu a respiração acelerar. Ele estava perto demais, suas palavras perfurando as defesas que ela tentava desesperadamente manter.

— Isso não vai acontecer, Antoine, — ela disse, firme, mas a hesitação em sua voz não passou despercebida.

Ele sorriu de lado, percebendo a pequena vitória.

— Pense bem, Giulia. Eu posso ser seu aliado... ou algo muito pior.

Ele se afastou finalmente, ajustando a gravata com calma.

— Não vou fazer nada... por enquanto. Mas lembre-se: eu conheço você melhor do que ninguém. E sei exatamente onde atacar, se precisar.

Antoine caminhou até a porta, mas antes de sair, virou-se uma última vez.

— Você é uma mulher poderosa, Giulia. Mas até as mais fortes precisam de alguém que as compreenda. E, apesar de tudo, eu ainda sou esse alguém.

Quando ele saiu, Giulia ficou sozinha no gabinete, o silêncio preenchido apenas pelo som de sua respiração rápida. Ela sabia que Antoine tinha colocado uma peça poderosa no tabuleiro. A questão era: como ela jogaria a próxima jogada?

...****************...

A sala ainda estava envolta no silêncio pesado deixado pela partida de Antoine. Giulia tentava controlar a respiração enquanto olhava para o copo de uísque que ele havia deixado sobre a mesa, o líquido âmbar refletindo a luz do entardecer. Seu peito estava apertado, um misto de raiva e preocupação.

Então, o telefone em sua mesa tocou, cortando o silêncio como uma lâmina. Ela olhou para o visor e viu o nome de Vitor. Uma onda de ansiedade percorreu seu corpo. Atendendo rapidamente, tentou parecer calma.

— Bellucci, o que foi?

A voz de Vitor veio grave, mas com um tom de urgência que Giulia raramente ouvia.

— Giulia, precisamos conversar. Agora.

Ela franziu a testa, o tom dele apenas reforçando sua preocupação.

— Aconteceu alguma coisa?

— Sim, — ele respondeu, direto. — Acabei de receber informações de que algumas "fontes confiáveis" estão espalhando rumores sobre nós.

O coração dela disparou. Apesar de sua expressão continuar rígida, a tensão crescia dentro dela.

— Que tipo de rumores?

Vitor fez uma pausa antes de responder, a gravidade em sua voz deixando claro o peso da situação.

— Sobre o nosso relacionamento. Sobre como estamos... próximos demais.

Ela fechou os olhos por um momento, pressionando os dedos contra a têmpora. Antoine. Só podia ser ele.

— E de onde vieram essas informações?

— Não posso confirmar ainda, mas os rumores já estão circulando em círculos políticos e na imprensa. Giulia, precisamos ser cuidadosos.

Ela se levantou, andando pelo gabinete enquanto falava, a mão segurando o telefone com firmeza.

— Antoine esteve aqui. Ele deixou claro que sabe de alguma coisa... e insinuou que poderia usar isso contra mim.

Do outro lado da linha, Vitor ficou em silêncio por alguns segundos antes de responder, sua voz mais séria do que nunca.

— Então ele está por trás disso. Giulia, ele não é só um problema pessoal. Ele está jogando com informações que podem destruir sua credibilidade.

Ela parou perto da janela, olhando para a cidade lá fora enquanto a mente girava.

— Não podemos deixar isso acontecer, Vitor. Não agora. Não quando estamos tão perto de estabilizar o governo.

Vitor suspirou.

— Eu sei. Mas também não podemos fingir que isso não está acontecendo. Ele conhece seus pontos fracos, Giulia. E está disposto a usá-los.

Ela apertou os lábios, sentindo o peso da situação sobre seus ombros.

— Precisamos encontrar uma forma de neutralizá-lo antes que ele leve isso adiante.

A voz de Vitor ficou mais suave, mas ainda carregava uma nota de preocupação.

— Giulia, você sabe que estou aqui para você, certo? Não importa o que aconteça.

Ela fechou os olhos, permitindo-se um breve momento de vulnerabilidade.

— Eu sei, Vitor. E agradeço por isso.

— Vamos resolver isso, — ele prometeu. — Mas até lá, precisamos ser discretos. Qualquer movimento errado pode dar a Antoine exatamente o que ele quer.

Ela assentiu, mesmo sabendo que ele não podia vê-la.

— Certo. Fique atento a qualquer novidade, e me avise imediatamente.

— Sempre, — respondeu Vitor, sua voz mais suave agora. — Cuide-se, Giulia.

Quando a ligação terminou, Giulia colocou o telefone na mesa e olhou novamente para o copo de uísque abandonado por Antoine. Ele sempre soube como mexer com ela, mas dessa vez, as consequências poderiam ser devastadoras.

Ela sabia que teria que enfrentar Antoine novamente, mas desta vez, estava decidida a não ceder. Mesmo que isso significasse colocar tudo o que tinha em jogo.

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