O quarto escuro

_ Não quero falar com você, não quero estar perto de você, só sinto dor quando te olho, e lembro o tanto que sofri, você só pensa na sua dor, e eu? Você acha que foi fácil? Eu estava desiludida e grávida de um cafajeste! 

   _E você acha que fiquei bem, Ester? Eu quase morri, se não fosse minha amiga ter me tirado da depressão, acho que teria morrido. Fiquei quase um mês sem sair de casa, só bebendo e tentando entender o que havia acontecido. Eu te amava e achei que você também me amava.

       _ Claro! Sempre tem uma amiga para te salvar, não é Henrique? Não, espera! É sempre a mesma. Você não muda e não mudará.

       _ Não gostei do seu tom, o que você está insinuando? Como assim, tenho sempre amigas para me salvar?

       _ Eu não estou insinuando, estou afirmando, você é um galinha, safado, enganador de meninas inocentes, um cafajeste e só eu na minha inocência para acreditar em você.

       _ Você é louca, sempre respeitei as mulheres, nunca trai, sempre respeitei meus relacionamentos, não faço com os outros o que não quero que façam comigo. E quando comecei a sair com você, senti que havia encontrado minha alma gêmea, a pessoa com quem eu ia passar o resto da minha vida.

       _ Nossa, aguentar uma hora aqui com você será dose para leão. Você mente muito bem, agora entendo porque cai na sua conversa mole, acho que até você acredita nas suas mentiras.

“Henrique”

Eu não estou aguentando ela falando assim de mim, parece que me odeia, mas eu só consigo ser o safado que ela diz que eu sou.

Sinto vontade de soltar os cabelos dela e cheirar para ver se o cheiro ainda é o mesmo, estico minha mão e solto.

“Éster”

Henrique tira meu prendedor de cabelo e começa a cheirar e a deslizar os dedos por dentro do meu cabelo. Meu corpo traidor reage a ele, mesmo contra a minha vontade.

     _ Minha Índia linda, como senti saudades destes cabelos negros. 

     _ Não me chame assim, por favor.

     _ Porque não Éster? Você era tão cheia de vida, tão carinhosa, tão meiga, o que aconteceu para você ficar assim?

Virei para ele e falei:

      _ Amarga, magoada, e não confiar em ninguém? Você aconteceu, você me mudou, você Henrique.

_. Mas o que eu fiz? Eu só soube te amar, estava disposto a mudar minha vida e vir embora com você, eu não sei o que fiz.

“Ester”

Henrique me beija no pescoço e vai fazendo um trilho de fogo até o meu decote. Eu não consigo resistir, aceito o beijo dele, passo minhas mãos em seus cabelos, trago ele para mais perto e enfio minha língua em sua boca.

E quando acho que vou me perder, a porta faz o barulho destravando, eu me afasto dele e saio correndo da sala escura.

Dou de cara com James, que me avisa que Luiz veio buscar Samantha e levou-a para a aula de ginástica. 

“Henrique”

Nossa, Éster fala de mim, como se eu tivesse traído ela, traído nosso amor, mas eu não fiz nada, ou será que fiz?

Tenho certeza de que não fiz, e descobrirei o que ela acha que fiz.  Mas se aquela porta demora mais um pouco, para destravar, eu havia matado minha saudade ali mesmo, que beijo foi esse? Eu sabia que ela estava mais gostosa, agora tenho certeza. 

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