Me entreguei para Henrique, e agora como vai ser?

Fui até Éster e falei: olha para mim, não abaixe a cabeça, pense que sou seu namorado e que você está há um ano sem me ver.

Pense na saudade que você está de mim, nos beijos que você vai me dar assim que esta distância acabar.

Comecei a vê-la mudar e aparecer para a minha câmera, continuo falando e vou fazendo as fotos.

Na última foto, os olhos dela brilham tanto olhando para mim que quase esqueço onde estou e que tem 20 alunos ali. 

Faço um sinal e minha assistente acende a luz. Tudo está em silêncio, de repente eles explodiram em aplausos.

“Éster”

Estou em êxtase, o que foi isso?

Ele conseguiu que eu fizesse exatamente o que ele queria, será que um dia serei tão boa quanto ele?

Estão todos se despedindo e se preparando para ir embora, eu sigo na onda. Henrique me chama, continuo envolvida pelo momento.

 — Éster, você quer ficar e ver revelar as fotos?

Eu não quero ir embora, sei que deveria ir, mas não estou pensando direito, então.

— Se você me permitir, quero sim.

O que estou fazendo? Vou estar sozinho com ela, meu cérebro e meu coração não estão pensando direito.

Os alunos foram embora e o ar parece tão cheio de eletricidade que até meus funcionários somem.

Chamei Linda e disse:

— Podem ir, que fecho o estúdio, boa noite a todos.

Virei para Éster e disse:

 — Você não tem que avisar seu namorado que vai se atrasar hoje?

Acho melhor que ele pense que tenho um namorado, assim vai manter distância. 

— Realmente, tenho que avisar sim.

Liguei para minha tia.

— Oi, vou chegar tarde, mas não se preocupe, estou com um professor.

— Menina, tome cuidado e pense bem antes de fazer qualquer coisa.

— Pode deixar, eu sei me cuidar, eu também te amo.

— Entendi.

Olha só ela!  Falou que ama o cara, mas ficou aqui comigo.

— Vamos para a sala de revelação, gosto de revelar, do jeito antigo, as fotos artísticas ficam mais vívidas.

Entramos na sala escura e, durante um tempo, trabalhamos nas fotos.

Éster é inteligente e curiosa, pergunta tudo e vai fazendo conforme ensino.

 Até que meu braço esbarrou no braço dela e a energia correu solta entre a gente.

Não consegui resistir, soltei o cabelo dela e passei meus dedos, como eu vinha imaginando estes dias.

Ela fecha os olhos e se delícia com meu toque.

Passo os dedos nos lábios dela, me aproximo e beijo.

Ele está realmente me beijando, eu deveria sair correndo daqui, mas não quero fugir dele. Esperei tanto por esse beijo.

Pego-a no colo, sai de dentro da sala escura e vou em direção à cama do cenário, sentei com ela no colo.

Preciso perguntar, tenho que ter certeza de que ela também quer isso.

— Ainda dá tempo de parar, tem certeza de que você quer isso?

— Desde o primeiro dia, não consigo pensar em outra coisa. Mas você me mantinha longe.

 — Eu não me envolvo com alunas, achei que ia conseguir esperar o curso acabar, mas não consigo resistir a você.

 — Faz amor comigo, Henrique?

Quando percebo a inexperiência dela, já não consigo me controlar, de agora em diante ela me pertence, sempre será só minha fada.

Quando o curso acabar, pedirei ela em casamento.

Éster:

Ele fez muito mais que fazer sexo comigo, aprendi que tem relação que é encontro de almas, e senti nossas almas se encontrando.

Durante o resto do curso, nos relacionamos em segredo, porque ele não se envolve com alunas. 

Tem momentos que fico pensando se não é um truque, se ele não usa isso para me enganar e, quando o curso acabar, ele me abandona e parte para outra.

Estou no apartamento de Henrique deitada nos braços dele e pensando em como vai ser. Ele mora e tem a vida dele aqui em São Paulo, eu moro em Rio Preto e não posso largar minha mãe sozinha.

— Semana que vem o curso acaba, você já sabe o que vai fazer.

— Vou voltar para casa, tenho muita saudade de minha mãe e não posso deixá-la sozinha.

— Vou com você e pedirei sua mão para ela.

— E como vai ser isso? Eu e você moramos longe.

Fiquei tenso, parece que Éster não me quer, será que me enganei?

— Você quer se separar de mim? 

— Claro que não, eu só não sei como vamos fazer isso dar certo, vamos morar separados? Você tem sua vida aqui e eu a minha lá.

— Vamos dar um jeito, se ficarmos juntos, o resto vamos resolvendo.

— Meu querido Henrique, minha mãe me falou tanto para que eu não me envolvesse com os homens da cidade.

Que eles só querem se aproveitar da inocência das mulheres e não querem nada sério, vou provar para ela que estava errada.

 — Eu te amo, Ester, vou passar o resto da minha vida com você, não vejo a hora de poder contar para todo mundo que você é só minha, é minha fada e de mais ninguém. Vamos sair para jantar?

— Desculpa, eu não estou muito bem do estômago e me sinto cansada.

— Deve ser estresse, por causa das provas finais, mas pode ficar tranquila que você é ótima no que faz e vai ter notas excelentes.

— Você tem certeza disso?

— Tenho, sim, você é perfeita.

O que eu não contei para ele é que minha menstruação não vem desde o mês passado.

 Vou passar na farmácia e comprar um teste, mas se for gravidez, não terá problemas, logo nos casaremos.

Passei na farmácia, comprei o teste e fui para casa.

Quando entrei, o cheiro de bolo de que eu tanto gostava agora me revira o estômago.

Passei correndo pela sala e me fechei em meu quarto, ainda bem que a Tia Inez nem percebeu.

Como eu imaginava, deu positivo. Estou grávida do meu amor, amanhã cedo, antes de ir para o curso, vou ao estúdio contar para ele, tenho certeza de que vai ficar muito feliz.

Amanhece, eu me troquei apressada porque precisava falar com Henrique antes de ir para o curso. Minha tia resolveu se meter.

— Éster, senta e come, ontem você chegou e se fechou no quarto, não comeu nada.

 — Eu havia comido na rua e agora estou com pressa.

Saí antes que ela pudesse me parar e vou ao estúdio, sei que Henrique passa lá todo dia de manhã antes de ir para o curso dar a aula.

Vou contar para ele que vamos ter um bebê, vai dar tempo de trocarmos um carinho antes de ir para a aula.

 Cheguei, a porta estava aberta, ouço um barulho, sigo o som e vejo meu amor beijando outra mulher. 

Perco o chão, não pode ser, fiquei ali olhando aquela cena sem acreditar, preciso me mexer, ir embora daqui agora antes que eles me vejam e a humilhação seja ainda maior.

 Virei e saí sem dizer nada, eles não me viram e foi melhor assim.

Não tem como ir para o curso do jeito que estou, voltei para casa rezando para minha tia já ter saído.

Entrei e fui direto para meu quarto e chorei, chorei porque sou uma idiota, porque consegui fazer exatamente o que falei para minha mãe que não ia fazer e porque ela tinha toda razão.

Fiz minhas malas e liguei na rodoviária, comprei a passagem para a noite, tenho que me acalmar, senão minha tia vai desconfiar.

Quando ela chegou em casa para o almoço, eu a estava esperando, ela se assustou porque não costumo estar em casa nesse horário.

— Éster, o que aconteceu? Por que você está em casa?

— Não foi nada, tia, eu acabei o curso e vou voltar para casa.

— Você não tinha mais uma semana de curso ainda?

— São só as finalizações, eu posso fazer de casa.

— Você tem certeza de que está tudo bem?

— Claro que sim. 

— Tudo bem, não vou te precisar, mas se houvesse algo para me contar, você contaria, né?

Abracei minha tia e não posso jogar uma responsabilidade desse tamanho em cima dela, é melhor que ela não saiba de nada.

— Não tem nada, tia, eu só estou com saudades de casa.

Meu celular toca, olho e desligo.

— Por que você não está atendendo seu professor bonitão?

— Porque briguei com ele, e não estou a fim de ouvir desculpas esfarrapadas.

— Já entendi por que você quis ir embora.

Fiquei nervosa porque minha tia é esperta.

— Não é nada disso, é só saudade de casa mesmo, eu e Henrique não tínhamos nada sério.

— Se você está falando, quem sou eu para duvidar.

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