Meu obstetra

# O obstetra

Volto tirar os pontos e na sala de espera vejo as mulheres cochichando, começo a prestar atenção no assunto e veja só, o assunto é o obstetra.

_ Nossa, ele é bonitão, solteiro, já encontrei ele na academia.

_ Tem gente falando que ele é gay, porque não se vê ele com mulher, mas é tão bonito que choro só de pensar nessa possibilidade.

_ Não sei, mas já tentei de tudo para sair com ele e só desconversa.

_ Quando olho na porta do consultório, ele está em pé, chateado com os comentários.

_ Éster, vamos?

_ Vamos, Dr.Luiz.

Não me aguento da cara dele e começo a rir.

_ Posso saber porque você está rindo? Não é nada engraçado?

_ Luiz, você está levando isso muito a sério, leva numa boa que elas vão te esquecer.

_ Claro, elas entram aqui para serem examinadas por mim, e ficam esperando eu ter uma ereção cada vez que faço o exame papanicolau e ficará tudo bem.

_ A cidade é pequena e você é novidade, passará.

_ Espero porque não quero ter que me mudar tão cedo.

_ Vou te dar uma ideia, arruma uma namorada, aí elas vão parar de te perseguir.

_ Você acha que é fácil assim? Éster. Deita lá para eu tirar seus pontos.

_ Vai devagar, você está nervoso.

_ Não vou te machucar.

_ Sei que não, confio em você, Dr. Luiz, o garanhão.

_ Como vai à Samantha?

_ Só crescendo, minha princesinha é linda.

_ Você é casada?

_ Porque a pergunta Dr.?

_ Porque se eu tivesse uma mulher tão linda, não deixaria de ir ao obstetra bonitão junto.

_ Sou mãe solteira, e não estou nem aí se você é bonitão, não quero nunca mais me relacionar, meu coração é fechado.

_ Poxa, vida, te magoaram para valer, né?

_ Sim, ainda sofro só de pensar no assunto.

_ Você poderia me ajudar, finge namorar comigo, eu juro que não tomarei liberdades.

_ Você está brincando, né? Acabei de dar à luz, quem vai acreditar nisso?

_ Paixão à primeira vista, olha só que romântico.

_ Você enlouqueceu, fingirei que não te ouvi.

_ Na receita está meu telefone, se você mudar de ideia, me liga.

Olhei para a receita e até que não seria ruim ter um homem para me fazer companhia.

Desde aquele dia, se passaram dois meses, resolvi ir à praça passear com a Samantha e lá está o Dr.Luiz.

_ Ei, Dr. Tudo bem? Você parece meio atordoado.

Olhei para aquela mulher linda, sei que se chegar junto ela fugirá, então confirmarei o que a cidade pensa de mim, quem sabe ela fica mais aberta e eu resolvo meu problema de timidez.

_ Oi, Ester, vou te confessar uma coisa, mas por favor, não me julgue, sou gay.

Fiquei muda olhando para ele, que situação difícil, ele é tão bonito que chega a ser triste.

_ Se você reagiu assim, imagina o resto da cidade?

_ E o que você está pensando em fazer.

_ O que sempre faço é me mudar.

_ Estou com alguns problemas também por ser mãe solteira.

_ A minha ideia continua de pé.

_ Da gente namorar?

_ Eu te ajudo e você na ajuda.

Estico a mão para ele e:

_ Acordo fechado, e se algum dia você ou eu quisermos namorar alguém, nos separamos primeiro.

Os anos vão passando e hoje Samantha faz 5 anos, resolvemos levá-la no shopping para passear. Eu e o Luiz estamos juntos desde então, ele é o pai que ela conhece, cada um mora na sua casa, mas estamos sempre juntos e hoje estamos fazendo um passeio em família.

Luiz se tornou parte vital. Samantha sabe que ele não é pai de verdade dela, mas Luiz age como se fosse e já diz bem o ditado: pai é quem cria.

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