Revendo Henrique

*No shopping

     _ Luiz, vou ao banheiro e já volto.

Virei para Samantha e disse:

    _Fica com o Luiz, Samantha, a mamãe já vem para irmos aos brinquedos.

  _ Está bom, mãe, não demora.

Estou no banheiro e tem um pessoal falando de uma exposição de fotos que está tendo no shopping. Me ligo no assunto quando um deles diz “Henrique Constantino” vem dar uma palestra, sobre aquela foto que marcou a carreira dele. Penso:

 “Preciso ir embora daqui agora”

Saí do banheiro apressada e trombei em alguém. Quando ergui a cabeça para pedir desculpas, lá está ele na minha frente. Me afasto e não sei o que dizer.

Henrique me fala:

     _ Você continua trombando nos outros desse jeito?

     _ Oi para você também, Henrique. 

“Pensei”

 Preciso sair daqui antes que… Olho para o lado e vem chegando Luiz e Samantha.

“Pensa rápido”

Abraço o Luiz e digo:

     _ Meu amor, este é um amigo do passado.

Luiz me olha e entende que preciso de ajuda:

     _ Muito prazer, eu sou Dr Luiz e esta é nossa filha Samantha.

Henrique olha para o Luiz e para mim e depois para a Samantha.

Me pergunta:

    _ Ela se parece bastante com você, quantos anos tem?

    _ Quatro

    _ Mamãe, quem é ele?

    _ E um amigo da mamãe, filha.

    _Ester, você veio devido à amostra?

    _ Não, Henrique, nem sabia que estava tendo evento fotográfico aqui porque, se soubesse?

Henrique parece mais interessado em meu namorado do que em mim. 

   _ Dr. Luiz, você sabia que sua mulher já posou para mim? E que a foto dela ganhou vários prêmios.

Luiz é ligeiro e esperto, responde no pé da letra para Henrique. 

   _ Não sabia, Henrique, e também sou o presente dela, não quero saber do passado, você não concorda porque, passado, o nome já diz, já passou.

Uma mulher vem e abraça Henrique na cintura, olho e reconheço como sendo a que estava beijando ele há seis anos. A dor da traição volta.

Falei:

   _ Vamos, querido, temos que levar a Samantha nos brinquedos.

  _ Claro, amor, vamos sim.

   _ Tchau, Henrique, boa sorte para você.

   _ Tchau, Éster, até mais.

  _ Tomara que não.

  Saímos do lugar e fomos com Samantha até onde ela brincará.

Luiz perguntou:

     _ Deixa eu ver se entendi, aquele é o pai da Samantha.

     _ Sim, é Luiz, mas ele não sabe.

     _ Só se ele for burro. Éster, para não ter percebido a semelhança.

    _ Ela parece comigo, ele mesmo disse.

    _. Mas os olhos verdes são dele, não é uma cor comum. Acho bom você ficar preparada.

    _ Nada, Luiz, ele está com a mesma mulher que vi com ele beijando no dia que vim embora.

“Henrique” 

Nossa, como Éster está linda, você seguiu sua vida, e eu? Você me destruiu, não consegui me relacionar com mais ninguém, aquela criança era para ser minha, minha família, nós sonhamos juntos e você realizou sozinha, como pode me esquecer?

 “Luana, a amiga”

     _ Henrique, você não jantará?  Aquela mulher mexeu com você de novo?

      _ O que você acha, Luana? Ver um sonho que tive, realizado por outra pessoa, sim, mexeu comigo. Era para ser minha família.

      _ Eu, se fosse você, esfriava a cabeça e olhava com cuidado para o que vimos hoje.

      _ O que tem para olhar? Ela se casou e tem uma filha com ele.

      _ Sou sua amiga, desde aquela época, sei que tinha alguns sentimentos por você, mas com o tempo passou e ficou só a amizade, tinha uma tensão no casal.

      _ Lógico que tinha, ela não deve ter contado para ele sobre nós.

      _ Não, eles ficavam trocando olhares e tentando impedir você de olhar melhor para a menina. Você estava tão focado no casal que não reparou na menina, estou certa?

      _ O que tem a menina? Ela é a prova viva da traição dela com o amor que disse sentir por mim.

      _ Se eu fosse você, tentaria encontrar com ela mais uma vez, pelo menos.

      _ Você quer me matar? Cada vez que vejo ela com o marido, morro um pouco.

      _ Você precisa olhar nos olhos daquela menina, aí vai me entender.

      _ O que têm os olhos da menina?

      _ São seus olhos, naquela criança, se eu não soubesse da história, juraria que ela é sua filha.

      _ Ela disse que a menina tem 4 anos, não pode ser.

      _ Você já pensou na possibilidade dela ter mentido?

      _ Você me pôs uma pulga atrás da orelha, será que ela é minha filha? Se ela estava grávida, por que me largou daquele jeito? Por quê?

      _ O que você fará?

      _ Investigarei, porque se ela fez isso comigo e me tirou o direito de ser pai, agora tirarei o direito dela ser mãe, tirarei minha filha dela.

   _Vá com calma, Henrique, não faça nada que você possa se arrepender depois.

  _Se isso aconteceu, como posso ter calma, já perdi cinco anos da vida da minha filha?

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