...❤️Dante ❤️...
Já é mais um dia de sol em minha cidade. A luz suave da manhã entrava pela janela do meu quarto, iluminando as paredes ainda meio escuras, enquanto o som do ventilador antigo preenchia o ambiente quente. Eu estava deitado na cama, tentando espreguiçar, ainda meio cansado, quando ouvi a porta do meu quarto se abrir. Era Omar, meu irmão, com uma expressão séria no rosto. Ele estava inquieto, e logo percebeu que algo estava errado.
"Ei, você ouviu?" ele perguntou, seu tom preocupado.
Antes de eu responder, ele já se sentou na minha cama, meio hesitante. "Acho que a mãe quer falar com a gente," ele disse, tentando esconder a tensão. Eu o segui até a sala, sem dizer uma palavra, sabendo que algo importante estava prestes a acontecer.
Quando chegamos à sala, o cheiro do café e do pão torrado preenchia o ar, mas o ambiente parecia estranho, pesado. Minha mãe estava em pé ao lado da mesa de jantar, olhando para o chão, com as mãos sobre os quadris. Ela parecia nervosa, o que não era comum. A luz suave da manhã refletia nas paredes brancas, mas, de alguma forma, aquele calor parecia distante.
"Eu tenho algo importante para falar com vocês", ela disse, com a voz baixa e hesitante, tentando parecer calma, mas falhando em esconder a preocupação. Eu olhei para Omar e ele, com os olhos arregalados, parecia tão desconcertado quanto eu. Algo não estava certo.
"Vocês vão ter que ficar um tempo com o avô de vocês", minha mãe falou, quase sem coragem de olhar para nós. "O nome dele é Bobby, e é melhor que se acostumem."
O ar parecia ter ficado mais denso naquele momento. Eu não queria acreditar no que estava ouvindo. Como assim? Um avô que nem sabíamos que existia até pouco tempo atrás, e, agora, teríamos que ir morar com ele? Eu olhei para minha mãe com raiva e incredulidade. Como ela podia fazer isso com a gente?
Comecei a protestar, tentando argumentar o quanto eu e Omar precisávamos ficar onde estávamos, na nossa cidade, perto dos nossos amigos e da nossa rotina. Mas nada parecia fazer diferença. Minha mãe parecia determinada, e nós, impotentes diante disso, continuamos a brigar.
A discussão se arrastou, mas, no final, percebi que não havia mais o que fazer. Fomos obrigados a aceitar, mesmo que com relutância. Quando finalmente terminamos, a chaleira na cozinha apitou, mas o som parecia distante, como se o que estava prestes a acontecer fosse muito mais importante do que qualquer outra coisa. O raio de sol que iluminava a sala parecia mais quente, mas, no fundo, tudo o que eu sentia era um vazio. Eu sabia que a nossa vida estava prestes a mudar de maneira irreversível.
Eu perdi a discussão para minha mãe, e ela nos ordenou que arrumássemos nossas malas sem dizer mais nenhuma palavra. Subi furioso para o meu quarto e, sem mais nem menos, comecei a arrumar as minhas coisas. Não olhei para minha mãe, nem para Omar, que estava ali, quieto e triste. Ele também tinha amigos muito próximos, e, assim como eu, teria que abandoná-los. Não era a primeira vez que isso acontecia. Eu já havia abandonado amigos várias vezes durante esses anos, sempre com a justificativa de que a vida nos empurrava para novos lugares, novos começos.
Mas o que eu realmente não entendia era por que isso estava acontecendo de novo, logo agora, quando as coisas pareciam começar a se ajeitar. Lembrei-me do meu pai, desaparecido há anos, quando eu tinha a idade que Omar tem hoje. Todo mundo acha que ele morreu, mas algo dentro de mim dizia que não. Não sei explicar, mas uma parte de mim insistia que ele estava vivo.
[...]
Na estrada, tudo o que eu via ao redor eram paisagens vazias, campos intermináveis que pareciam se estender até o fim do mundo. O sol batia forte, tornando o ar quente e abafado. A vegetação era seca, com árvores retorcidas que mal resistiam ao calor. Perto das margens, algumas casas antigas e isoladas apareciam de vez em quando, quase como se fossem fantasmas na paisagem. O asfalto da estrada estava manchado com o tempo, coberto por rachaduras e marcas de pneus antigos. O vento que passava pelo vidro do carro carregava consigo o cheiro de terra e de vegetação seca. O silêncio era absoluto. Não falamos uma única palavra durante a viagem inteira. Nem eu, nem Omar, nem minha mãe. E quando chegamos à casa de meu avô, nossa mãe apenas nos deixou lá. Ela disse que, se precisássemos de algo, era só ligar. Eu sabia que isso era mentira. Não adiantaria ligar, pois ela não atenderia.
A casa do meu avô era velha e imponente, como um palácio envelhecido. A fachada de pedra estava desgastada pelo tempo, com algumas rachaduras visíveis nas paredes que pareciam contar histórias de décadas passadas. O jardim da frente estava negligenciado, com grama alta e arbustos mal podados, criando uma atmosfera de abandono. A porta de entrada era pesada, de madeira escura, com uma maçaneta de ferro forjado que rangia quando era girada. O interior da casa estava ainda mais antigo, com móveis de madeira escura e pesados, cobertos por panos grossos e empoeirados. O cheiro de mofo e do envelhecimento da madeira preenchia o ar, e cada passo ecoava nas grandes salas vazias. As cortinas de veludo estavam pesadas e fechadas, deixando pouca luz entrar e criando um ambiente sombrio, quase como se o tempo tivesse parado ali. O velho parecia ser rico, mas o desconforto e a frieza de sua presença nos faziam sentir como se estivéssemos em um lugar estranho, longe de casa.
Ele nos disse para não entrarmos no caminho dele, que ele não entraria no nosso. Entregou a chave do carro e disse que eu poderia passear pela cidade, mas que deveria continuar com a faculdade de medicina, algo que foi uma ordem de sua mãe. Eu não disse nada. Apenas assinei com a cabeça e fui para o meu quarto. Arrumei minhas coisas e, no dia seguinte, levei Omar para a escola.
A escola de Omar ficava na cidade, a cerca de 15 minutos de carro. Era uma escola simples, de uma cidade pequena, com prédios de tijolos vermelhos e um grande pátio no centro. As árvores que cercavam o pátio estavam repletas de folhas secas, criando uma sensação de calma, mas também de estagnação. O prédio principal tinha grandes janelas, com cortinas de linho simples que balançavam com a brisa suave. Eu notei como ele parecia relutante ao entrar, seu olhar perdido entre os colegas, e logo percebi que ele não se encaixava muito bem ali. Ele estava afastado, e a cada momento parecia sentir mais a falta dos seus amigos de antes.
Depois de deixá-lo na escola, segui para a faculdade. O prédio da faculdade era moderno, com paredes de vidro e metal, contrastando com as casas antigas e deterioradas ao redor. A entrada principal era cercada por um grande estacionamento, com jovens indo e vindo, conversando, rindo. O interior era espaçoso, com corredores largos e uma sensação de modernidade que fazia com que eu me sentisse, de alguma forma, distante do que eu conhecia. Dentro da minha sala, o ambiente era bem iluminado, com mesas espalhadas de forma organizada. O professor ainda não havia chegado, e os colegas estavam todos quietos, alguns com fones de ouvido, outros conversando discretamente. Foi ali que conheci Mim. Ele era alto, forte, com olhos azuis penetrantes, e logo fez amizade comigo. Me apresentou aos seus amigos: Jared, Han, Jihan, Alec e Theo. Eles eram um grupo unido, e, por mais que a faculdade fosse uma nova experiência, eu me sentia confortável com eles.
No entanto, havia uma garota, Brittany, que não parecia se encaixar. Ela entrou no meio da nossa conversa, interrompendo e falando sem parar, como se fosse parte do grupo, mas todos nós sabíamos que não era o caso. Ela parecia o tipo de patricinha que eu não suportava. Seus olhos arrogantes e seu sorriso forçado me incomodavam profundamente. Jared, finalmente, perdeu a paciência e mandou ela desaparecer dali antes que ele a fizesse desaparecer do mundo. Ela não pensou duas vezes e se afastou, deixando todos aliviados.
...[...]...
Após mais um dia na faculdade, fui buscar meu irmão na escola. Ele estava sentado em um banco, com os ombros caídos, parecendo cansado. Ao chegarmos em casa, o velho não estava lá. Preparei algo para Omar comer e passamos a tarde inteira assistindo filmes e estudando. Era uma rotina estranha, mas eu estava começando a me acostumar. Mesmo que a casa fosse velha e o lugar fosse diferente, ainda assim, nós dois estávamos juntos, e isso, ao menos, me dava alguma paz.
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Atualizado até capítulo 69
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