Lado

Consertei as minhas roupas e o meu cabelo. Voltei para o salão, tentando fingir naturalidade. No mesmo momento que passei pela porta, minha mãe me puxou pelo braço.

...— Onde esteve? Sabe por quanto tempo te procurei? — ela estava muito irritada....

...— Estava me sentindo mal, então decidi descansar um pouco. — mas isso a deixou com mais raiva....

...— Venha comigo, seu pai quer lhe apresentar algumas pessoas! — ela me arrastou....

Meu pai também me olhou feio, provavelmente levaria um castigo. Se não fosse a minha estreia social, talvez ainda poderia escapar um pouco sem consequências, mas eu era o centro das atenções com minhas irmãs, então obrigatoriamente deveria estar lá.

...— Esse é o Conde-… — meu pai me apresentou um senhor de meia-idade, depois um homem mais jovem, e outro senhor idoso....

O resto da noite foi assim, mas não conseguia me concentrar em nada, porque o que aconteceu antes ocupava todo o espaço na minha mente. À noite, pregar os olhos foi tão complicado. Ainda conseguia lembrar vividamente a sensação dos seus dedos dentro de mim, dos lábios que ficaram na minha pele exposta.

...— Arabella idiota! Idiota, idiota! — o que mais valorizam nesse lugar é a pureza....

Por pouco, não me entreguei a um homem que nem sequer conhecia, que provavelmente nem assumiria a responsabilidade por mim. Perderia meu valor, e pior, meu pai me mataria, era preferível a ele, do que manchar a reputação da família real.

...— Mas… não posso negar que foi ótimo. — esses pensamentos me consumiram a noite toda....

No dia seguinte, estava me sentindo cansada. Assim que levantei, fui convocada a sala do trono, já sabia do que se tratava, a punição por desaparecer na estreia. Fiquei pelo menos uns quarenta minutos longe. Chegando lá, meu pai, sentado no trono, estava com uma vara que usava para nos castigar.

...— Qual o nome desta? — ele perguntou a minha mãe....

...— Arabella, a caçula. — de novo, meu pai não lembrava do meu nome....

Me ajoelhei diante dele, já sabia que ele queria que eu implorasse, mas mesmo se fizesse, não mudaria nada. Fiquei em silêncio, esperando a minha punição.

...— Arabella, vá até a cadeira no meio da sala. Suba, e levante o seu vestido. — não fazer, aumentava a punição, então apenas fui silenciosamente....

Em seguida, meu pai veio até mim, e começou a bater nas minhas pernas com a vara.

...— Querido, pegue leve, lembre-se que logo a venderemos por um bom preço! — era decepcionante ter pais assim....

Depois da punição, meu pai me fez repetir várias vezes o que fiz de errado, até que estivesse convencido. Chorei de dor, segurar não adiantaria, apenas o deixaria mais irritado. No caminho de volta ao meu quarto, encontrei Mérida.

Ela me deu um tapa no rosto, o que me surpreendeu, já que ela sempre me derrubava e partia para a agressão. Dessa vez, parecia com muito ódio.

...— É melhor ter certeza de ficar fora do meu caminho! Estou te avisando, Arabella, eu prefiro colocar fogo no castelo inteiro, e matar a todos, do que perder para uma mulher inútil, feito você! — ela bateu o ombro no meu com força, e saiu....

Por que ela está tão irritada?

Minhas pernas estavam doendo muito, chegando no quarto, deitei-me imediatamente, e dormi. A empregada nunca pegava uma pomada quando eu pedia, porém, dessa vez ela trouxe, foram ordens diretas do meu pai, para as marcas sumirem mais rápido.

Não participei do almoço, pois dormi, acordei quase perto do horário do jantar. Minha mãe não me obrigou a participar do almoço, mas para o jantar, vieram me chamar, então não tive uma escolha. Cheguei atrasada, mas todos me esperaram para comer. Ao menos eles faziam isso. Me sentei após cumprimentar meu pai.

...— Como está se sentindo, Arabella? — minha mãe perguntou....

...— Melhor… — meu pai me olhou fixamente....

Então, eles começaram a conversar e conversar, até que um tópico específico me chamou atenção.

...— Papai, quando o Duque decidir aparecer assim de novo, coloquei a cadeira dele perto da minha! — não tinha certeza de qual Duque estavam falando....

...— Com certeza ele preferiria ir embora do que sentar perto de você, Mérida. — Kaleb debochou....

...— Não seja idiota! O Duque está com algum interesse, preciso descobrir para que ele se apaixone por mim. — ela estava animada....

...— Apenas por que ele veio almoçar aqui? — Kaleb revirou os olhos....

...— Irmão, ela está querendo dizer, que o Duque pediu ao nosso pai para almoçar conosco. Ele é um homem que evita interações em grupos, e até mesmo individuais. Resumindo, para que sua cabecinha cheia de bobagens entenda, ele está atrás de algo! — Evan disse....

...— Não fale assim de mim! — ele se irritou....

...— Kaleb, filho, pare já! Respeite seu irmão. — minha mãe interferiu....

O Duque almoçou aqui?

Por conta do que aconteceu, eu não participei. Acho que foi melhor, Mérida está surtada por conta de rumores falsos, talvez o próprio Duque ache estranho me olhar depois de ouvir aquelas asneiras.

...— Evan tem razão. Apesar do Duque não dizer exatamente o que queria, ele simplesmente me disse querer almoçar conosco. Espero estar certo, acredito que ele finalmente cogita se casar. — meu pai desejava tanto isso, para o Duque poder ser vigiado....

...— Ele vai me querer, não tem opção melhor que eu! Sou linda, educada, sou popular. Além disso, sou inteligente o suficiente para auxiliar na administração do Ducado, não há uma pessoa melhor que eu para estar ao lado de um homem tão nobre! — ela estava sonhando alto....

...— Mérida, sente-se. Não imagine coisas, lute para conquistar ao invés de criar cenários fictícios em sua mente. — meu irmão Carlos, disse....

O resto da conversa foi sobre o Duque. Depois do jantar, minha mãe pediu que eu a acompanhasse ao jardim. Não tinha movimento, mas também já estaria tudo bem, creio eu. Andamos em silêncio, não estava entendendo a situação, mas logo percebi que era porque minha mãe queria me mostrar algo.

...— Arabella, foi aqui, perto desse chafariz, que seu pai se apaixonou por mim. — foi nesse lugar que ele decidiu te fazer uma concubina....

...— … — fiquei em silêncio....

...— Quero apenas te dar um conselho, minha filha. Não se apaixone. Ter apegos aos bens materiais é muito melhor, eles não podem te magoar, e te trair. Por isso, Arabella, preciso que entenda: estamos fazendo o que é melhor para você. — essa conversa… eles já me venderam?...

...— Mãe, o que significa tudo isso? — estava assustada....

...— Que em breve, seu noivado será anunciado. Estamos decidindo detalhes, sobre o noivo, temos duas boas opções, ofereceram uma boa quantia, e-… — eu a interrompi....

...— E? Eu deveria estar feliz por ser vendida, mãe? Não me importo com a infelicidade, porque já sei que estou condenada a isso, mas por que ainda tem que ser hipócrita comigo? Sempre aceitei calada tudo, está aqui para me provocar? Que tipo de conselho é esse? QUE TIPO DE MÃE DEIXA SUA FILHA DESAMPARADA? — para mim, a decepção maior foi ver que mesmo que eu estivesse chorando de raiva, minha mãe não se importava....

...— O casamento vai acontecer, não importa o que faça. — ela passou por mim, após me olhar friamente....

Tive vontade de gritar e mandar todo mundo se “ferrar”. Se para eles sou um objeto, precisam mesmo me humilhar?

...— Vão se lascar, todo mundo! — não aguentei, e falei, mas não muito alto, queria mesmo era gritar....

...— Uau, não sabia que a princesa tinha esse lado! — essa voz, é o homem daquele dia!...

...Me virei, olhando enfim o homem que me causou aquelas sensações....

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