Conversa de doido

Eu estava concentrada nas pernas dele, enquanto ele se vestia e disse.

-Meu marido era aposentado e eu fiquei com a aposentadoria dele depois que ele faleceu.

Virei olhar sexta-feira, que estava me olhando e sorrindo.

-Então, você é viúva, nossa, estava preocupado esperando seu marido chegar e me matar a qualquer momento.

-Não pense que, por esse motivo, alguma coisa mudará, eu não quero homens em minha vida. Sou feliz sozinha.

-Não disse nada, só fiquei feliz porque não corro o risco de tomar um tiro. No dia em que cheguei na cidade, fui ao mercadinho comprar pão e você estava lá. O atendente da padaria me disse que você era mulher de um matador de aluguel.

-Por isso, aquela conversa esquisita de caça que foge, entendi agora. Isso dava um romance.

Fiquei olhando para ela e resolvi alfinetar.

-Se você conhecer alguma escritora de romances, conta a história para ela.

-Pena que não conheço nenhuma, elas são reclusas e não gostam de gente bisbilhotando na vida delas.

-Se você estiver certa e eu for rico, acharei uma escritora famosa para escrever a nossa história.

-Boa sorte com isso, vou à cozinha fazer um café e depois tirarei o leite da mimosa que já passou da hora.

-Devo perguntar a cor da vaca?

-Não pergunta, eu não quero entrar nessa discussão dos nomes dos meus bichos de novo, mas a vaca é castanha.

“Rose”

Entrei na minha cozinha ouvindo a risada gostosa dele, como ele pode ser tão bonito, gostoso e ter uma risada que dá vontade de rir junto? É muita coisa para um homem só.

Fiz café, coloquei o leite, pão, manteiga e queijo fresco na mesa.

Comi um pedaço de pão e um gole de café e fui para o curral tirar o leite.

Quando voltei, ele estava sentado na minha área olhando minhas galinhas.

-Deixa eu adivinhar o nome do seu galo.

-Vai lá, pode tentar, mas não conseguirá.

-Frangolino e Pintadinha, olha um casal perfeito.

-Não, errou, quer tentar de novo?

-Ferdinando e Arabela?

-Não.

-Você não colocou nome de gente nas galinhas, colocou?

-Não sei, talvez? O que você acha de Bruno Mezenga e Luana?

-Acho melhor não, os sem terra vão querer invadir seu sítio.

-Como você é engraçadinho, mas não são esses os nomes do meu casal de galinha.

-Me conta que eu não consigo imaginar mais nada.

-Tem certeza de que você quer saber?

-Tenho, Fala logo de uma vez, eu sou muito curioso.

- Então lá vai, Galo e galinha.

Eu não aguentei a cara dele, parece que falei um palavrão.

-Não pode ser, todas suas criações têm nome, por que o coitado do galo e da galinha não mereceu um nome? Até eu, que poderia ser um dos irmãos metralhas, foi-me dado um nome fofo. Por isso que ele está revoltado, se sentiu diminuído por sua dona, a quem ele ama de todo coração.

-Você pensa demais, eu estou ficando atordoada com o tanto que você fala. E ele não está revoltado, só não está acostumado com outro macho dividindo as atenções da mulher dele.

-Porque você é um ponto fora da curva, eu ainda não acredito que você não deu nome para o galo. Senhor galo não precisa ter ciúmes de sua galinha eu quero uma índia, não me envolveria com uma mulher casada.

Enquanto ele tagarelava tentando me fazer falar o nome do meu casal de galinhas, guardei o leite e fui me trocar. Voltei e ele está no mesmo lugar, olhando para minhas galinhas.

-Vou à cidade, ligarei o alarme, ninguém entrará no quintal, pode ficar tranquilo.

-Confio em você, e se descobrir que sou marginal não chame a polícia.

-Tentarei saber se estão procurando alguém fora o ladrão de gado.

-Tá bom.

-É Hei Hei o galo da Moana e Ruiva a galinha da Disney.

-Eu sabia que tinha nome, não poderia ter me enganado tanto com você.

-Foi minha neta quem deu os nomes.

-Voce tem uma neta? Com o filho que veio aqui?

-Sim e não, sim, para ter uma neta e não, ela é filha da minha filha.

-E você tem uma filha, mais um para eu conhecer.

-Você vai embora antes de conhecer minha família.

-Será? Se fosse você, não teria tanta certeza.