Capítulo 4:O Peso das Escolhas.

O ar frio das montanhas cortava a pele de Shin enquanto ele e Yuna caminhavam para fora do Templo da Luz. O teste havia deixado Shin exausto, mas também havia trazido uma nova sensação de clareza. Ele ainda sentia o peso das sombras dentro de si, mas algo havia mudado. Pela primeira vez, ele sentia que não era apenas um hospedeiro de uma maldição, mas alguém que poderia, talvez, controlar seu próprio destino.

Yuna, por outro lado, estava em silêncio. Ela caminhava à frente, seus olhos fixos na trilha que descia a montanha. Shin podia perceber a tensão em seu corpo, como se ela ainda não estivesse certa sobre ele. Embora ele tivesse passado pelo teste, Yuna sabia que o verdadeiro perigo não era o Templo, mas o que ainda estava por vir. O Rei do Caos, Hayato Otomura, era uma ameaça muito maior do que qualquer teste de luz ou escuridão.

Finalmente, depois de horas de caminhada, Shin quebrou o silêncio. "Então, o que acontece agora?"

Yuna parou e se virou para ele, o vento soprando seus longos cabelos Pretos. "Agora, seguimos para o próximo passo. Temos que encontrar as Espadas da Luz e da Sombra. São elas que podem nos dar uma chance real contra Hayato."

Shin arqueou uma sobrancelha. "Espadas? Eu pensei que fosse uma questão de controlar o poder dentro de mim."

Yuna cruzou os braços, sua expressão séria. "O equilíbrio entre luz e sombras não é algo que você pode conquistar sozinho, Shin. As Espadas da Luz e da Sombra são armas antigas, forjadas pelos primeiros magos que enfrentaram Hayato, há séculos. Sem elas, não há como derrotá-lo."

Shin ponderou sobre o que Yuna havia dito. Ele sabia que Hayato representava um grande mal, mas ainda não compreendia completamente a extensão de seu poder. "E onde estão essas espadas?" ele perguntou.

"Perdidas," disse Yuna. "Há rumores de que a Espada da Luz foi escondida em um antigo castelo, no coração de uma floresta protegida por guardiões ancestrais. E a Espada da Sombra... ninguém sabe ao certo, mas dizem que está em uma fortaleza nas Terras Sombrias, onde a escuridão domina."

Shin sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Terras Sombrias. Mesmo sem saber exatamente o que isso significava, ele podia imaginar que seria um lugar onde sua própria escuridão interior seria desafiada ao extremo.

"Então, para derrotar Hayato," Shin começou, "temos que encontrar essas espadas e usá-las juntos?"

Yuna assentiu. "Exatamente. A Espada da Luz pertence a mim, e a Espada da Sombra... bom, ela foi feita para alguém como você. Só juntos podemos equilibrar o poder que será necessário para derrubar o Rei do Caos."

Shin sentiu o peso de suas palavras. A responsabilidade de carregar a Espada da Sombra parecia mais do que uma simples arma — era um símbolo do poder que ele precisava controlar dentro de si. Mesmo assim, havia algo que o incomodava. "E se eu falhar?" ele perguntou, mais para si mesmo do que para Yuna.

Yuna, no entanto, ouviu e respondeu com franqueza. "Se você falhar, as sombras te consumirão, e não haverá ninguém para impedir Hayato. Ele trará o caos completo a este mundo."

Shin respirou fundo. O destino do mundo parecia mais incerto a cada passo que ele dava. Mas, ao mesmo tempo, ele sabia que não podia voltar atrás. O teste no Templo havia lhe mostrado isso. As sombras poderiam ser uma parte dele, mas isso não significava que elas precisavam definir quem ele era.

Naquela noite, eles acamparam em uma pequena clareira nas montanhas. O céu estava limpo, e as estrelas brilhavam intensamente. Shin e Yuna se sentaram ao redor de uma pequena fogueira, o calor contrastando com o frio penetrante das montanhas.

Yuna permanecia em silêncio, limpando a lâmina de sua espada enquanto observava o fogo. Shin, por sua vez, olhava para as sombras ao redor, que pareciam dançar ao ritmo das chamas. Ele sabia que ainda tinha muito a aprender, mas não conseguia deixar de pensar em Yuna. Desde que se conheceram, ela o tratara com desconfiança, mas agora havia algo diferente em sua atitude. Talvez fosse o fato de ele ter passado pelo teste, ou talvez algo mais profundo estivesse mudando entre eles.

"Yuna," Shin começou, quebrando o silêncio. "Por que você decidiu confiar em mim, mesmo sabendo o que eu sou?"

Yuna parou de limpar sua espada e olhou para ele, seus olhos penetrantes como sempre. "Eu não sei se confio completamente em você, Shin. Mas..." Ela hesitou, como se estivesse escolhendo cuidadosamente suas palavras. "Quando vi você no Templo da Luz, enfrentando suas próprias sombras, percebi que talvez haja mais em você do que apenas escuridão. E se há uma chance de você conseguir controlar esse poder, então precisamos dessa chance. O mundo precisa."

Shin ficou em silêncio por um momento, absorvendo suas palavras. "E você? Você carrega a luz, mas também tem sombras em seu passado. Como você equilibra isso?"

Yuna franziu a testa, parecendo relutante em falar sobre si mesma. "A luz pode purificar, mas ela não apaga o que aconteceu. Meu pai era um Senhor das Sombras, assim como você. Ele sucumbiu à escuridão, e eu... eu passei a maior parte da minha vida tentando provar que não sou como ele. A luz é meu caminho, mas sempre há uma sombra que me segue."

Shin não sabia o que dizer. Ele percebeu que, de certa forma, eles compartilhavam um fardo semelhante — ambos estavam lutando contra suas próprias naturezas, tentando encontrar um equilíbrio entre luz e escuridão. Mas a jornada de Yuna parecia ainda mais dolorosa. Ela havia perdido alguém que amava para as sombras, e agora estava de volta, lutando contra o mesmo destino.

"Eu não sou seu pai, Yuna," disse ele, com suavidade. "Eu não quero ser como ele. E vou provar isso, para mim mesmo e para você."

Yuna o encarou por um momento, seus olhos buscando algo nos dele. Finalmente, ela deu um leve aceno de cabeça. "Eu espero que sim, Shin. Porque o destino de muitas vidas depende de você."

Na manhã seguinte, eles continuaram sua jornada em direção à Floresta dos Guardiões, onde, segundo Yuna, a Espada da Luz estava escondida. A paisagem mudou gradualmente de montanhas geladas para uma vasta extensão de floresta densa, onde as árvores se erguiam como torres vivas, bloqueando a luz do sol e criando um ambiente de penumbra.

Conforme se aproximavam da entrada da floresta, um som estranho começou a preencher o ar. Era um som baixo e profundo, como o farfalhar de folhas misturado com o sussurro do vento. Yuna parou abruptamente, seu corpo em alerta.

"Estamos perto," disse ela em um tom baixo. "A Floresta dos Guardiões está viva. Eles vão testar nossa determinação. Não confie em nada que virá daqui para frente."

Shin olhou para a floresta, sentindo as sombras se agitar dentro de si. Algo naquela floresta parecia reconhecer sua presença, como se as próprias árvores estivessem cientes de quem ele era.

"Testes novamente," ele murmurou com uma risada nervosa. "Parece que nunca vou parar de ser testado."

Yuna não sorriu, seus olhos fixos na entrada da floresta. "Este teste não será como o do Templo. Os Guardiões não fazem distinção entre luz e sombras. Eles só reconhecem aqueles que são dignos."

Shin assentiu, tentando se preparar mentalmente para o que viria a seguir. Ele sabia que a Floresta dos Guardiões não seria um lugar fácil de atravessar, mas, como Yuna havia dito, não havia outra escolha.

E assim, com a espada de luz de Yuna brilhando suavemente à frente, e as sombras de Shin ondulando ao seu redor, eles entraram na Floresta dos Guardiões, sabendo que o verdadeiro teste ainda estava apenas começando.

Continua...

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