O Chamado do Ancião

O brilho da fogueira havia se extinguido, deixando apenas as brasas vermelhas crepitando suavemente enquanto a noite prosseguia silenciosa. Ayana e Kael permaneciam juntos, envoltos no calor um do outro, saboreando a quietude após a intensa batalha e o momento de entrega que haviam compartilhado. Os perigos da floresta pareciam distantes, quase esquecidos. Porém, essa sensação de paz não duraria muito.

No horizonte, uma brisa fria começou a soprar, carregando com ela um som baixo e profundo, como um chamado distante. Era um som peculiar, como um sussurro antigo, reverberando nas folhas e nas pedras ao redor. Kael, sempre em alerta, levantou a cabeça, seus sentidos aguçados captando algo incomum.

— Você ouviu isso? — perguntou ele, sua voz grave, mas baixa, enquanto seus olhos vermelhos se fixavam na escuridão além das ruínas.

Ayana, ainda deitada ao lado dele, franziu o cenho e se concentrou. Foi então que ela sentiu a vibração no ar. Não era apenas um som comum, mas um chamado, algo que parecia ecoar em sua própria alma.

— Sim... — sussurrou ela, sentando-se. — É como um chamado... vindo de muito longe, mas ao mesmo tempo, tão próximo.

Kael se levantou devagar, seus olhos percorrendo a floresta, sempre atento aos perigos. Ayana se levantou ao lado dele, e ambos, agora completamente despertos, sentiram o ar ao seu redor ficar mais denso, carregado com uma energia ancestral.

— Isso não é uma coincidência — disse Kael, seus instintos de lobo aguçados. — Algo ou alguém está nos chamando.

Ayana assentiu, seus olhos brilhando com uma mistura de curiosidade e preocupação. — Não é um simples chamado. Tem uma força... antiga.

Antes que pudessem discutir mais, o sussurro se intensificou, tornando-se mais nítido, quase como uma voz.

— Venham... venham até mim... o equilíbrio deve ser restaurado...

A voz era profunda, quase etérea, e carregava um peso que nenhum dos dois poderia ignorar. Era um comando, não uma escolha. O chamado do ancião. Ayana e Kael trocaram um olhar decidido, sabendo que aquele era o próximo passo em sua jornada.

— Não temos outra opção — disse Ayana, seus olhos fixos na direção de onde a voz parecia emanar. — Devemos ir.

Kael concordou com um aceno de cabeça, transformando-se novamente em sua forma lupina para liderar o caminho. Eles deixaram a proteção das ruínas e avançaram pela floresta escura, guiados pelo som que parecia vir das profundezas da terra.

A caminhada foi longa, a floresta tornando-se cada vez mais densa e intimidante. As árvores ao redor se retorciam de formas estranhas, como se os observassem. O ar era pesado, carregado com a sensação de que algo muito antigo e poderoso estava prestes a se revelar.

Eventualmente, chegaram a uma clareira que se abria diante de uma imensa árvore. Mas essa não era uma árvore comum — suas raízes se entrelaçavam como serpentes, e no centro de seu tronco, uma abertura se formava, como uma entrada para um mundo além do visível. Do interior daquela fenda, a voz do ancião ressoava.

— Entrem, filhos da luz e do caos... entrem e descubram a verdade que vocês buscam...

Ayana hesitou por um momento, sentindo o poder emanando daquela árvore, mas ela sabia que não havia como voltar atrás agora. Kael, em sua forma humana novamente, segurou sua mão, dando-lhe força e segurança.

— Não estamos sozinhos nessa, Ayana — disse ele, sua voz firme. — O que quer que seja, enfrentaremos juntos.

Com um aceno determinado, Ayana deu o primeiro passo em direção à árvore. Quando passaram pela abertura, sentiram-se instantaneamente transportados para um espaço que não pertencia ao mundo comum. Era como estar dentro do próprio tecido da realidade, onde o tempo e o espaço pareciam não existir.

No centro desse espaço etéreo, uma figura envolta em sombras os aguardava. Ele tinha a forma de um velho, mas sua presença transcendia a idade. Seus olhos brilhavam como estrelas antigas, e sua voz ecoava pelo vazio ao redor.

— Eu sou o Ancião — disse ele, sua voz reverberando por todo o ambiente. — Guardião do equilíbrio. Vocês, Ayana, deusa da luz e da escuridão, e Kael, deus do caos e dos lobos, foram trazidos aqui para que possam entender o verdadeiro propósito de suas existências.

Ayana deu um passo à frente, sua voz firme. — O Vazio destruiu tudo o que amávamos... por que nos separaram? Por que permitiram que o equilíbrio fosse quebrado?

O Ancião permaneceu em silêncio por um momento, como se estivesse ponderando cada palavra antes de falar. — O Vazio é uma força que existe além de toda criação. Ele se alimenta do caos, da destruição, mas também da divisão entre os seres que mantêm o equilíbrio. A separação de vocês foi necessária, pois juntos vocês representam o maior poder de todos: a união de forças opostas. Luz e escuridão, ordem e caos. E é por isso que ele teme vocês.

Kael, até então em silêncio, interveio. — E agora? O que devemos fazer para restaurar o equilíbrio?

O Ancião ergueu uma mão, e ao redor deles, imagens de batalhas passadas, de mundos destruídos e reconstruídos, começaram a surgir. — Vocês devem enfrentar o Vazio novamente. Mas desta vez, com o pleno entendimento de quem são. Não apenas como indivíduos, mas como a união do equilíbrio que este mundo precisa.

Ayana olhou para Kael, e naquele momento, ela compreendeu a profundidade do que estava em jogo. Não era apenas uma batalha contra o Vazio, mas uma luta pela própria existência do que eles representavam juntos.

— Estamos prontos — disse Ayana, sua voz cheia de determinação.

O Ancião sorriu levemente. — Muito bem, filhos do destino. Que o próximo passo em sua jornada comece...

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