A floresta ao redor de Ayana e Kael estava mais densa, as árvores altas e retorcidas pareciam vigiar seus passos. O ar estava carregado, e cada respiração parecia pesar em seus peitos. De repente, das sombras, figuras altas e esguias surgiram. Seus rostos eram pálidos como a lua, e os olhos, completamente negros, brilhavam com uma malícia ancestral. Eram espectros da noite, seres sombrios criados pelas trevas que dominavam aquela parte do reino.
Kael rosnou, seus músculos tensionados.
— Eles são espectros da noite — murmurou ele. — Criaturas da escuridão. Não serão fáceis de derrotar.
Ayana sentiu os olhos dos espectros a perfurarem, tentando se infiltrar em sua mente. Vozes sussurrantes ecoavam em sua cabeça, sussurrando palavras de dúvida e medo. Ela cerrou os punhos, sentindo a magia pulsar dentro dela, mas as vozes eram cada vez mais fortes.
— Não escute suas vozes! — gritou Kael, avançando contra os espectros. — Eles vão tentar enfraquecer sua vontade!
Ayana respirou fundo e, com um gesto firme, ergueu uma barreira de luz ao seu redor. Os espectros atacaram, suas garras batendo contra a barreira com um som horrível, mas a luz os mantinha à distância. Enquanto Kael lutava contra as criaturas com fúria, rasgando-as com suas garras afiadas, Ayana sentiu uma onda de imagens invadindo sua mente.
Visões de outra vida começaram a tomar forma diante dela. Ayana viu flashes de uma batalha antiga, onde ela, empunhando uma espada de luz, lutava ao lado de um guerreiro — Kael, mas não como lobo. Ele era um homem, imponente e poderoso, lutando ao lado dela contra forças das trevas. A visão era tão intensa que Ayana quase se perdeu nela.
Kael, por sua vez, também foi atingido por memórias antigas. Ele se viu como um humano, um cavaleiro destemido que havia sido amaldiçoado e transformado na fera que era agora. Ao lado de Ayana, ele lutara em batalhas antigas, e seu destino sempre estivera ligado ao dela.
As visões desapareceram tão rápido quanto haviam surgido. De volta à realidade, Ayana canalizou toda a sua magia, explodindo em uma luz tão intensa que os espectros recuaram, gritando em agonia enquanto eram consumidos pela luz.
Quando o último dos espectros desapareceu, a floresta ficou em silêncio novamente. Kael, ofegante, olhou para Ayana com uma expressão sombria.
Após a intensa batalha contra os espectros, Ayana sentia o peso do cansaço se acumular em seu corpo. O uso excessivo de magia havia drenado suas forças, e cada passo que ela dava parecia mais pesado do que o anterior. Ela tentou manter-se firme, mas suas pernas começaram a ceder. Kael, ao seu lado, percebeu a fraqueza dela e se aproximou.
— Você precisa descansar — disse ele, com preocupação na voz. — Usou muita magia e ainda não está pronta para continuar.
Ayana, teimosa como sempre, balançou a cabeça. — Não posso parar agora... Ainda há muito por fazer...
Ela estava exausta, e sua visão começou a embaçar. Por mais que sua mente estivesse firme, seu corpo não a obedecia. De repente, deu um passo em falso e começou a desabar. Kael a segurou com firmeza, impedindo que ela caísse. Quando Ayana olhou para ele, sua visão se desfocou, e ela viu não o grande lobo negro, mas a forma de um homem — alto e imponente, com traços fortes e intensos, mas com os mesmos olhos vermelhos que Kael possuía. Ele a olhava com uma mistura de preocupação e algo mais profundo.
— Kael...? — murmurou ela antes de desmaiar completamente, envolvida pela escuridão.
Kael a carregou para um local seguro, uma clareira protegida pela vegetação densa. Enquanto ela dormia, ele observava seu rosto sereno, embora seu espírito estivesse inquieto. Ele sabia que Ayana era diferente, que ela não era apenas uma princesa com magia comum. Algo nela o fazia sentir-se conectado, algo que ele não entendia, mas que o atraía.
Ao longo da noite, Kael vigiou o descanso de Ayana, mantendo-se alerta a qualquer perigo. Quando o sol começou a se levantar, lançando seus primeiros raios pela floresta, Ayana finalmente começou a despertar. Ela abriu os olhos lentamente, ainda desorientada, e levou um momento para reconhecer onde estava.
Ao virar a cabeça, ela viu Kael, mas não mais como o lobo que a havia acompanhado. Agora, diante dela, estava um homem. Seus cabelos negros como a noite, olhos vermelhos penetrantes e uma postura forte. Era como se ele tivesse saído de seus sonhos, mas ela sabia que ele era real.
— Você... — Ayana começou a falar, confusa. — Você é Kael?
Kael assentiu, sua expressão séria, mas com um toque de suavidade no olhar.
— Eu sou. Sou metade lobo, metade humano. Minha forma humana é algo que raramente mostro... mas não podia deixá-la cair.
Ayana sentiu seu coração acelerar. Ela nunca imaginou que Kael escondesse uma verdade tão profunda. De alguma forma, isso explicava por que ela havia sentido uma conexão com ele desde o início.
— Por que não me contou antes? — perguntou ela, sentando-se devagar, ainda recuperando suas forças.
— Porque não queria que você me visse como um monstro — respondeu Kael, abaixando o olhar. — Muitos já me julgaram por essa forma, achando que sou apenas uma criatura perigosa. Mas quando vi sua determinação e coragem, sabia que você era diferente. E agora, não quero mais esconder quem sou.
Ayana olhou para Kael e, pela primeira vez, sentiu que eles eram mais parecidos do que imaginava. Ambos carregavam fardos, ambos estavam em uma jornada para se descobrir, e ambos tinham sombras dentro de si que precisavam enfrentar.
— Você não é um monstro, Kael — disse ela com firmeza. — Você me protegeu, lutou ao meu lado, e isso é o que importa. Agora sei que podemos enfrentar qualquer coisa juntos.
Kael ficou em silêncio, surpreso com as palavras dela, mas grato pela confiança que Ayana depositava nele. Ele sabia que, a partir daquele momento, não seria mais apenas seu protetor, mas também seu companheiro de jornada.
— Mas precisamos ser cuidadosos — continuou Ayana. — Ainda há forças sombrias por aí, e eu... eu senti algo dentro de mim durante a batalha. Algo que eu não entendo ainda.
Kael assentiu, seu olhar agora mais sério.
— Você carrega mais do que apenas magia de luz, Ayana. Eu senti isso também. Há escuridão em você, mas não precisa temer. Assim como eu aprendi a controlar minha forma, você também pode aprender a dominar seu poder.
Antes que pudessem continuar, um som distante ecoou pela floresta, algo sombrio e ameaçador. O ar ao redor deles ficou mais frio, e a sensação de perigo voltou a se manifestar.
— Eles estão vindo — disse Kael, erguendo-se em alerta.
Ayana respirou fundo e se levantou, ainda cansada, mas determinada.
— Então vamos enfrentá-los juntos.
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Atualizado até capítulo 29
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