Entre Planos e Sentimentos

A noite já havia caído, e a tensão na mansão aumentava conforme os minutos passavam. Anna, embora tentasse manter a calma, sentia a pressão daquele ambiente. Ela estava sentada no sofá do escritório de Lucca, seus dedos brincando nervosamente com uma mecha de cabelo, enquanto seus pensamentos corriam em direção a todos os perigos que eles estavam prestes a enfrentar.

Lucca estava em pé, de costas para ela, observando a escuridão pela grande janela. Sua postura era rígida, as mãos cerradas atrás das costas. Anna podia sentir a preocupação, embora ele tentasse manter o controle.

Sofia, por outro lado, andava de um lado para o outro, os saltos fazendo ecoar suaves toques no chão de mármore. "Salvatore sempre foi astuto, Lucca. Ele não vai cometer erros fáceis. Temos que estar preparados para algo inesperado."

Lucca soltou um suspiro baixo, sem desviar o olhar da janela. "Eu sei disso, Sofia. Mas, por isso mesmo, estou tentando antecipar todos os movimentos dele."

"Você não pode prever tudo," Sofia argumentou, parando à sua frente e cruzando os braços. "Salvatore joga sujo, sempre jogou. Ele não vai seguir as regras que você conhece."

Anna, observando a interação dos dois, hesitou antes de se levantar e caminhar até eles. "Posso não entender tudo sobre esse mundo, mas... será que estamos subestimando Salvatore? Ele parece ser alguém que sempre tem uma carta na manga."

Lucca finalmente se virou para encará-la, os olhos verdes brilhando sob a luz fraca do escritório. Havia um misto de admiração e apreensão em seu olhar. "Você está certa. Eu nunca o subestimei, Anna. Ele tem uma habilidade única de se reinventar, de encontrar aliados improváveis. É por isso que estamos nos preparando. E é por isso que preciso que você fique segura aqui."

Anna sentiu uma pontada de frustração no peito. Ela entendia o cuidado de Lucca, mas também queria ser útil. "Não posso simplesmente ficar sentada esperando. Eu quero ajudar, Lucca. De alguma forma."

Sofia sorriu levemente ao ver a determinação nos olhos de Anna. "Ela tem razão, irmão. Você pode protegê-la, mas também deve confiar nela. Anna já faz parte disso, quer você queira ou não."

Lucca parecia lutar internamente por um momento. Ele caminhou em direção a Anna, colocando as mãos firmemente em seus ombros. "Eu sei que você é forte, Anna. E admiro isso. Mas minha prioridade é garantir que você esteja fora de perigo. Salvatore não é apenas meu inimigo, ele é o tipo de homem que usaria qualquer fraqueza contra mim... e você é tudo, menos uma fraqueza."

As palavras de Lucca a tocaram profundamente. Anna segurou o olhar dele, sentindo uma mistura de emoções dentro de si — o amor crescente por aquele homem complicado, mas também a apreensão por tudo que estava por vir. "Sei que você quer me proteger. Mas isso também significa que você deve confiar em mim, Lucca. Eu não sou indefesa. Eu posso enfrentar isso com você."

Ele suspirou, os olhos verdes escurecendo com um peso que Anna não conhecia completamente. "Confiar em você não é o problema, Anna. O problema é o que está lá fora. Há muitas variáveis que estão fora do meu controle, e Salvatore é uma delas."

Sofia interveio, seu tom suave mas determinado. "Talvez o que você precise agora, Lucca, seja mais do que apenas força. Talvez seja hora de usar aquilo que Salvatore jamais imaginaria: nossa união. Acredite, juntos, somos mais fortes do que ele pensa."

Lucca ficou em silêncio por um momento, ponderando as palavras da irmã. Ele olhou para Anna, seus olhos suavizando levemente. "Eu não vou deixá-la de fora disso, mas você precisa me prometer que será cuidadosa. Confio em você, mas também preciso que entenda o quão perigoso isso pode se tornar."

Anna assentiu, sentindo um misto de alívio e responsabilidade cair sobre seus ombros. "Eu prometo, Lucca."

Antes que pudessem continuar, o telefone no escritório tocou, cortando o silêncio. Lucca atendeu rapidamente, seus músculos tensos enquanto ouvia do outro lado da linha.

"Sim... Certo. Continue vigiando e me avise assim que houver algum movimento." Ele desligou o telefone e olhou para Sofia e Anna com uma expressão séria. "Salvatore está em movimento. Meus homens estão monitorando seus capangas nas docas."

Sofia levantou uma sobrancelha. "Ele escolheu as docas? Isso é ousado."

"Sim, mas típico de Salvatore. Ele provavelmente quer despistar qualquer um que pense que ele estaria em um local mais discreto." Lucca começou a andar pelo escritório, o plano já se formando em sua mente. "Vou reunir os homens e nos prepararemos para interceptá-lo."

Anna mordeu o lábio inferior, sentindo a tensão aumentar. "E o que você vai fazer?"

"Vou para as docas," respondeu ele, sua voz firme. "Se Salvatore estiver planejando a reunião com os Bianchi lá, precisamos agir antes que algo maior aconteça."

Sofia se aproximou, franzindo a testa. "Não acha arriscado demais se expor assim? Salvatore pode estar esperando que você apareça."

"Eu sei," Lucca respondeu, apertando os punhos. "Mas não temos escolha. Se deixarmos essa aliança acontecer, estaremos em desvantagem."

Anna sentiu um calafrio. A ideia de Lucca se expondo diretamente a um perigo tão grande a deixava inquieta. "Você vai se cercar de seus homens, certo? Não pode ir sozinho."

Ele a olhou com uma suavidade que ela não esperava naquele momento. "Eu nunca vou sozinho. Enzo e outros estarão comigo. Confie em mim."

Anna assentiu lentamente, mas o medo não a deixava. "Só prometa que vai voltar. Não importa o que aconteça."

Lucca a puxou para mais perto, tocando delicadamente o rosto dela. "Eu prometo, Anna. Sempre voltarei para você."

O momento foi interrompido quando Enzo apareceu na porta, batendo levemente. "Chefe, os carros estão prontos."

Lucca assentiu para Enzo e depois voltou seu olhar para Anna. Ele inclinou-se, beijando-a com delicadeza, mas com uma intensidade que dizia mais do que qualquer palavra poderia. "Cuide-se até eu voltar."

Anna segurou a mão dele por um segundo a mais antes de deixá-lo ir. "Você também."

Enquanto ele saía do escritório com Enzo, Sofia se aproximou de Anna, colocando uma mão reconfortante em seu ombro. "Ele vai ficar bem, Anna. Lucca é cuidadoso. E Salvatore está prestes a descobrir que mexeu com a pessoa errada."

Anna respirou fundo, tentando acalmar o turbilhão de emoções dentro de si. Ela sabia que a noite ainda traria muitas surpresas, e tudo o que podia fazer era confiar em Lucca e esperar que ele realmente voltasse para ela.

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