IV

Ao termino da reunião a senhora Matilde pediu para que Léo e Rebeka continuassem em seus lugares.

Os membros restantes da alcateia a abraçavam e lhe davam os parabéns pela nomeação como nova Alfa no lugar de seu falecido marido.

Quando o último membro deixou o local a senhora voltou e sentou no meio dos dois. Léo e Rebeka estavam apreensivos e curiosos para saber o que a senhora Matilde queria falar com eles.

- Bem... – Disse ela rompendo o silêncio e percebendo a apreensão dos dois.

- Gostaria primeiramente de agradecer a você Léo por suas palavras. – Um sorriso se formou nos lábios da senhora e automaticamente Léo também começou a sorrir.

- Não precisa me agradecer. – Respondeu Léo.

- Não iria aceitar as coisas assim, que todos desistissem e meu pai me ensinou isso a nunca desistir.

- A Hector. – A senhora Matilde soltou um pequeno suspiro ao pronunciar o nome do pai de Léo.

- Ele iria ser o próximo Alfa sabia? Caso alguma coisa acontecesse com o meu marido e todos estavam de acordo com isso.

- Isso...eu não sabia... – A surpresa era visível no rosto de Léo.

Seu pai como alfa daquela alcateia. Uma lágrima escorreu pelo rosto de Léo e Rebeka comovida com a cena limpou o rosto do jovem e segurou firme em sua mão.

Vendo aquele gesto a senhora Matilde estendeu a mão segurando firme na mão dos dois.

- Vou lhes contar um segredo e uma decisão que tomei já que me nomearam alfa, por isso pedi para falar com os dois a sós, a minha primeira decisão como líder tem a ver com vocês dois.

- Pode dizer. – Disse Léo com firmeza.

- Faço as palavras do Léo as minhas. – Disse Rebeka.

- Nunca imaginávamos que esse incidente ou algo desse tipo pudesse acontecer. Temos problemas com caçadores a muito tempo, quarto séculos para ser exata!

- Então o problema com eles não é de agora?

- Perguntou Léo e a fúria era visível em seus olhos.

- Não meu jovem Léo não é, mas eles foram muitos ousados vindo até aqui em nossas terras nos atacar, eles sempre nos atacavam longe da cidade pois sabiam que existiam humanos entre nós, eles não nos vem como humanos, mas como aberrações pelo que somos.

- Mas vocês não fazem mal a ninguém ou fazem? - Perguntou Rebeka ainda apreensiva.

- Sim e não jovem Rebeka.

- Sim e não? – Agora Rebeka estava confusa.

- O que ela quis dizer. – Disse Léo chamando a atenção para ele.

- Lobos são instáveis. Sentimentos como a raiva por exemplo são um gatilho para nos fazer perder o controle e o nosso lobo dominar. E ainda mais com a lua cheia, leva muito tempo para um lobo aprender a não ser influenciado por ela. Tanto um lobo que foi mordido ou aquele já nasce um.

- Léo está certo. – Agora a atenção de Rebeka voltou novamente para a senhora Matilde.

- Por causa desses motivos que os caçadores foram criados no passado, quando uma aldeia era atacada por lobos várias foram dizimadas e os caçadores foram criados para isso, para nos combater, eles conhecem nossas fraquezas, sabem como nos enfrentar e treinam duro para isso. Assim como nossos genes de lobos são transmitidos hereditariamente os caçadores transmitem os seus ensinamentos e a como nos caçar. Para eles não existem lobos bom. Todos são uma ameaça a humanidade.

Rebeka ficou em silêncio um momento para enfim poder falar.

- Eu entendi tudo, infelizmente entendi o porquê disso tudo agora, finalmente eu entendo, mas não concordo com isso.

- Nem nós minha jovem, mas é assim que eles nos veem.

Rebeka fechou firme as mãos a apertando e seus dedos ficaram vermelhos. Gentilmente Léo pousou sua mão sobre a ela. A mão dele era quente e seus longos dedos acariciavam levemente sua mão.

Rebeka se sentiu mais confortável com o toque gentil de Léo relaxando os dedos e voltando a sorrir.

- Obrigada.

Léo respondeu com um sorriso e a senhora Matilde voltou a falar.

- Era isso que eu queria que entendesse e era isso que queria lhes contar, aliás não apenas isso tenho outra revelação a lhes fazer.

Léo e Rebeka olhavam para ela e não precisaram dizer nada, o olhar deles serviu como resposta para dizer a ela que estavam prontos para o que pudesse vir.

- Léo você e seu irmão foram mandados fora da cidade por causa do problema com os caçadores.

- Como assim? – Agora era Léo quem estava confuso.

- Seu irmão não foi embora por que te odiava, mas sim por ordem do meu marido. Muitos lobos de outras alcateias estavam tendo baixas por causa dos caçadores e então meu marido decidiu mandar alguns lobos para fora, se algo acontecesse com a nossa alcateia esses lobos iriam estar salvos e futuramente construir outras alcateias mantendo a nossa linhagem. Foram mandando quinze jovens lobos incluindo você e seu irmão, mas esses quinze somente você esta vivo.

O queixo de Léo caiu com a revelação e choque era visível em seu rosto, Rebeka voltou a segurar em sua mão tentando lhe dar apoio e conforta-lo mas dessa vez seus esforços não estavam dando resultado.

- Todos foram mortos por caçadores na verdade nem todos, Daniel Jones filho dos falecidos Marta e Cristian Jones foi morto por um lobo em uma briga, fora eles todos inclusive o seu irmão foram mortos por caçadores.

Léo continuava chocado com as revelações. Apreensiva por não poder ajuda-lo Rebeka lembrou de algo e perguntou:

- Então Jonathan se envolveu comigo para futuramente criar uma nova alcateia se fosse preciso?

A senhora Matilde a olhou alarmada e rapidamente balançou a cabeça negando.

- Não minha jovem Rebeka você entendeu errado. Jonathan se apaixonou por você, ele te amava muito não estava com você por esse motivo não somente é claro. Mandamos eles e os outros jovens para fora para que pudessem ficar a salvo caso algo acontecesse a alcateia. Eles não eram obrigados a se casarem para construir uma nova alcateia, por isso Léo e nem o irmão dele e os outros jovem não sabiam que estavam se afastando por esse motivo . Nosso motivo principal era mate-los a salvos, os pais desses jovens por amarem muitos seus filhos decidiram manda-los para longe para que tivessem um futuro e por ama-los incondicionalmente.

- Entendo. – Disse Léo voltando a relaxar.

- Agora eu compreendo tudo.

- E eu também. – Respondeu Rebeka alivia por saber que não foi escolhida apenas para salvar um alcateia em uma possível extinção.

- Esse plano ainda continua por isso que minha primeira ordem como Alfa é mandar você Rebeka e Léo para longe da cidade para ficarem seguros.

- Não isso não! – Léo ficou de pé e a olhava com atenção.

- Não posso deixar a alcateia como está agora, quase não sobrou nenhum lobo para protege-los não pode me mandar embora.

- Posso sim e vou mocinho está decidido! – As palavras da senhora Matilde soaram gentilmente por sua boca, mas ao mesmo tempo com um tom autoritário e Rebeka pode ver um fato curioso. Léo sentou-se imediatamente em seu lugar. Comparado a senhora Matilde que parecia ser alguém frágil Léo tinha o dobro de seu tamanho e era jovem, não era obrigado a obedece-la, mas estava obedecendo. Parecia um filho ficando calado ao ser repreendido pelo pai.

- Léo me escute. – A senhora Matilde falava com calma e Léo voltou a fita-la.

- Os caçadores pensam que nos dizimaram, para eles apenas os humanos que conheciam o segredo estão vivos e eles não iriam denunciar a polícia, os outros humanos pensariam que eles são loucos e não acreditariam neles, você já se perguntou o porquê desde o incidente nenhum dos lobos restante se transformaram?

Léo voltou a ficar confuso com a pergunta e mostrava estar pensando na resposta.

- Se pensa é por causa do luto está errado, o luto é um dos motivos vinte e cinco por cento eu diria. Os setenta e cinco restante são os caçadores, eles são os motivos para que pensem que não temos mais lobos em nossa cidade. Se estiver longe Léo eles continuaram a pensar assim, mas se algo acontecer e se você assim decidir pode criar a nossa alcateia em algum outro lugar muitas e muitas alcateias foram criadas assim e a nossa também, lobos foram para outros lugares e procriaram e assim uma nova alcateia foi criada.

Rebeka que ficou o restante da conversa em silêncio observava Léo com atenção, Léo continuava pensando analisando bem os fatos a procura de uma resposta.

Virando o rosto seu olhar se encontrou com o de Rebeka que ficou corada quando seu olhar se encontrou com o de Léo, ele agora estava tão determinado e sério que por um segundo a imagem de Jonathan era visível em Léo e Rebeka quase acreditou quem estava na sua frente não era Léo e sim o seu amado novamente.

- Você concorda que moremos juntos? – Perguntou Léo a tirando do transe e a trazendo de volta para a realidade.

Rebeka havia entendido os motivos daquele pedido alias daquela ordem, dada pela senhora Matilde.

- Concordo sim e aceito se você também concordar.

- Bom...- Léo voltou a sorrir. Alegre e descontraído voltando a ser o Léo de sempre.

- Se você concorda quem sou eu para dizer não?

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