Capítulo 3

" Hoje iremos pra uma simulação no prédio abandonado. Martinez você será o refém. C4, Lion, Coyote e eu vamos ser os inimigos. E vocês dois....". O capitão diz apontando pra mim e pra Gosth " Vão ter que trabalhar juntos pra resgatar Martinez "

" Já posso me considerar morto, ou eu tenho que esperar começar? " Martinez brinca

" E claro... Chip vai estar do nosso lado, nos passando a comunicação da localização de vocês" O capitão diz

" Aí não é justo " Rebato

" Nada é justo. E quando estiverem lá fora, vai ter momentos em que vocês não terão nenhum de nós pra ajudar, apenas um ao outro. E é isso que eu quero que entendam a partir de hoje" Ele responde

Um asco se forma em meu rosto, mas eu sabia que não tinha escolha

À tarde, sob o sol que começava a se pôr no horizonte, nos dirigimos para o prédio abandonado onde nossos treinamentos geralmente aconteciam. O concreto cinza do edifício se destacava contra o céu alaranjado, parecendo ainda mais sinistro sob a luz do entardecer.

Enquanto caminhávamos em direção ao local de treinamento, uma sensação de descontentamento pesava sobre mim. Os últimos dias haviam sido difíceis, cheios de tensão e conflitos, e eu não estava com disposição para mais treinamento. No entanto, sabia que não podia me dar ao luxo de falhar, especialmente não agora.

Gosth caminhava ao meu lado, sua presença tão silenciosa quanto sempre. Eu podia sentir a tensão entre nós, uma barreira invisível que nos separava, mesmo quando estávamos lado a lado.

À medida que nos aproximávamos do prédio abandonado, uma sensação de apreensão se instalou em meu peito. Eu não queria estar ali, não queria enfrentar mais um treinamento que só serviria para nos colocar um contra o outro. Mas eu não tinha escolha. Nós tínhamos uma missão a cumprir, e era melhor enfrentá-la agora do que adiar o inevitável.

Todos se posicionam como suas armas de Paintball e entram no prédio primeiro enquanto nós esperamos.

Eu percebo que meu cadarço desamarrou e enquanto eu o amarro, Gosth avança sem me esperar

" Ei!" Eu sussuro tentando chamar a a atenção dele, mas ele apenas avança " Idiota..."

Eu me levanto rapidamente e vou seguindo ele.

Era óbvio, a missão tava fadada ao fracasso antes mesmo de começar.

Adentramos o prédio abandonado, as paredes desgastadas testemunhas do que estava por vir. Gosth estava ao meu lado, mas parecia que havia um abismo entre nós. Cada movimento era tenso, cada palavra parecia um gatilho para uma nova discussão.

" Cubra a escadaria que eu olho a esquerda" Digo e o que ele faz?

O oposto. Parece que apenas pra me irritar.

Ele varre a esquerda e então o C4 sai da escadaria e eu rapidamente atiro, mas ele desvia, pega cobertura e nós também.

"Por que você não segue minhas instruções?", eu esbravejo com Gosth, meu tom carregado de frustração. "Você está colocando a missão em risco!"

"Porque suas instruções são ridículas! " Gosth retruca, sua voz carregada de desdém "Você não é a única com experiência aqui, Fox."

Enquanto isso, os tiros ecoavam ao nosso redor, uma trilha sonora sombria para nossa disputa contínua.

"Arrogante como sempre" Eu rebato

"Você acha que pode mandar em todo mundo, não é, cabeça de fósforo?" Gosth zomba, seus olhos azuis faiscando com raiva reprimida.

Eu cerro os dentes, meu próprio temperamento à beira de um estopim.

"Eu só estou tentando fazer o meu trabalho. Alguém tem que garantir que não acabemos todos mortos!"

Enquanto tentávamos avançar, a situação só piorava.

Nossa falta de cooperação nos deixava vulneráveis, nossos movimentos descoordenados colocando em risco não só nossa própria segurança, mas também a do "refém".

No final, foi um desastre.....

Nosso resgate se transformou em um caos completo, com os "inimigos" nos cercando e nossa equipe nos observando em descrença.

" Faz um favor Coyote, e acerta um tiro na cara desse seboso" Eu digo

Coyote levanta a arma de Paintball

" Nem pensa nisso!" Gosth diz firme " Me acerta e você vai ver o que vai acontecer com a bolinha de Paintball "

Quando finalmente saímos do prédio, derrotados e exaustos, eu sabia que tínhamos falhado em tudo

Falhado em trabalhar juntos, falhado em confiar um no outro, falhado em ser uma equipe.

" Vocês estão envergonhando nossa equipe...." O capitão começa " Nem parece que fazem parte da 00.... O que é que tá acontecendo? Vocês não são assim. Gosth você sempre trabalhou bem com Martinez e o mesmo pra Fox e Coyote. Então qual a dificuldade de trabalharem juntos?....Vocês vão continuar até conseguir resgatar o refém, nem que pra isso a gente tenha que virar a noite."

As palavras do capitão ecoaram no ar, pesadas com a gravidade da situação. Era um ultimato claro...

E lá vamos nós de novo..... Várias....e várias vezes....

Enquanto lutávamos para superar os inimigos simulados ao nosso redor, também estávamos lutando uma batalha interna, uma batalha pela supremacia, pela última palavra, pela validação de nossos próprios pontos de vista.

Com a frustração crescendo a cada tentativa fracassada de trabalhar em equipe, o momento de ruptura finalmente chegou.

"Você não consegue fazer nada direito! É sempre a mesma coisa com você, cabeça de fósforo. Você é totalmente incapacitada.", Gosth dispara, sua voz carregada de desdém.

As palavras me atingiram como golpes, cada uma delas uma confirmação dolorosa de todas as minhas inseguranças e fracassos. A raiva fervia dentro de mim, uma tempestade prestes a explodir.

"Já chega, Finn!" Eu grito, minha voz carregada de frustração e raiva.

Gosth me encara, seus olhos faiscando com incredulidade ao ouvir eu o chamar pelo nome pela primeira vez

Sem pensar, eu agarro a granada de fumaça em meu cinto e a jogo na sala dos inimigos,

"Se você não é parte da solução, então é parte do problema" Com um rápido movimento, disparo contra o colete de Gosth com minha arma de paintball, uma manifestação física de toda a frustração e raiva que eu estava sentindo.

Sem olhar para trás, avanço em direção aos inimigos simulados, cada passo uma declaração de determinação e fúria. A fumaça da granada envolveu o campo de batalha, adicionando uma aura de caos à cena já tensa.

Ao entrar na sala, me jogo no chão e deslizo pela porta, superando os oponentes que estavam nas coberturas ao lado. Meu coração batia forte em meu peito enquanto eu avançava, minha mente focada apenas em alcançar meu objetivo.

Avanço em direção a Martinez, minha determinação alimentando meus movimentos. Com precisão calculada, atiro em Coyote, C4 e Lion, vendo-os congelarem no lugar com o impacto dos disparos de Paintball

Assim que alcanço Martinez e o liberto, uma sensação de alívio temporário se apodera de mim. No entanto, minha breve paz foi interrompida quando algo atinge minhas costas, uma lembrança abrupta da realidade que estava prestes a enfrentar.

Olho em volta e vejo o Capitão emergindo das sombras, seu olhar severo transmitindo uma mistura de desaprovação e desapontamento. Eu sabia que teria que enfrentar as consequências de minhas ações,.....

" Tá morta.... Cadê o seu parceiro?" Ele pergunta

" Tá morto também" Respondo ofegante

" Como ele morreu?"

" Eu matei ele" Digo com um pouco de deboche

Martinez ri, mas para assim que percebe o olhar do Capitão.

" Chega.... Vamos pra base... Amanhã continuamos isso...." O capitão fala, uma voz arrastada de cansaço e decepção

......................

No dia seguinte lá estávamos nós de novo no prédio

" Vocês vão aprender a confiar um no outro nem que eu tenha que largar vocês em uma selva sem nada, até vocês aprenderem. Um de vocês vai ser vendado enquanto o outro vai ter que guiar o caminho. Pra não ter discussão, vamos tirar no cara ou coroa" O capitão do pegando uma moeda

" Cara" Eu digo primeiro

" Coroa pro Gosth" Capitão fala

Ele joga a moeda pra cima e ela cai na face da coroa.

" Gosth vai guiar, e Fox vai vendada " Ele diz e eu suspiro

Era uma tarefa que exigiria uma confiança completa no outro, algo que ainda não tínhamos sido capazes de desenvolver.

Com um olhar trocado entre nós, eu e Gosth nos preparamos para a tarefa iminente.

Era hora de superar nossas diferenças e aprender a confiar um no outro, não importa o quão difícil isso pudesse parecer.

Nós nos posicionamos na entrada e então eu coloco a venda e esperamos.

" Avançar" Gosth fala baixo e então começamos a andar

Eu me movo hesitante. Cada passo era incerto, meu coração batendo forte no peito enquanto lutava para controlar o medo que ameaçava me consumir.

Querendo ou não eu tinha que confiar completamente em Gosth para me guiar, ouvindo atentamente suas instruções e confiando em sua orientação.

Mas, conforme seguíamos adiante, fica claro que algo estava errado.

As instruções de Gosth eram imprecisas, me levando a tropeçar nos lugares, a colidir com as paredes e chocar com objetos desconhecidos. A sensação de desorientação crescia a cada passo, minhas mãos tremendo de nervosismo enquanto lutava para manter o equilíbrio.

"Desviar", ele ordenou de repente, mas não especificou para que lado. Eu hesitei por um momento, tentando decifrar suas palavras, mas foi tarde demais. Tropecei em algo sólido, minha queda brusca interrompida pelo impacto doloroso do chão.

Uma dor aguda irrompe em meu braço, acompanhado de um pequeno grito, enquanto sentia algo cortarem minha pele.

Eu tiro a venda, apenas pra ver a manga da minha blusa rasgada e meu braço sangrando, em pequenos filetes vermelhos, por conta dos cacos de vidro que estavam no chão

" Eu fal-..." ele começou, mas eu o cortei com um aceno de mão, incapaz de suportar sua voz nesse momento.

Não queria ouvir suas desculpas ou justificativas naquele momento.

Com um suspiro pesado, eu me levanto, ignorando a dor latejante em meu braço .

A confiança que eu tinha começado a sentir desmoronou diante de mim, substituída pela amarga realidade de nossa incapacidade de trabalhar juntos.

O restante do pessoal chega correndo para ver o que tinha acontecido, suas expressões preocupadas.

" Merda..." C4 murmura baixinho

" Vamos embora, já deu por hoje. Lion, faz um curativo na Fox e aplica uma injeção nela pra não infeccionar" O capitão ordena

Com a cabeça baixa, eu saio do prédio abandonado, a dor latejando em meu braço ferido.

Lion começa a fazer o curativo em meu braço enquanto o restante do pessoal se reune ao redor, suas expressões preocupadas evidentes em seus rostos.

Com cuidado, ele tira o caco de vidro do meu braço, causando uma onda de dor intensa que faz minha respiração prender na garganta.

"Como você está, Fox?" Coyote pergunta

"Estou bem, Coyote, é só um corte superficial", respondo

O problema não era nem o corte em si, era alguma infecção por conta da sujeira que tinha no caco....

Martinez dá uma risada e se aproxima

" Sabe Fox, esse é um evento canônico na vida de todos que fazem dupla com o Gosth. Comigo não foi diferente... " Ele diz

" E como você fez pra vocês se entenderem? "

"Bem.....eu quebrei o nariz dele com a coronha da minha AK durante um exercício de treinamento. Acho que foi o suficiente para mostrar que, no final das contas, estávamos todos no mesmo barco." Ele diz fazendo a gente rir " Mas depois...quando ele baixou a guarda, percebi que ele é um cara duro, mas muito leal e protetor. É um baita de um parceiro quando você consegue atravessar a fachada."

" Quisera eu que isso funcionasse comigo..." Murmuro me afundando na cadeira

"Se quiser eu te empresto a minha Ak pra você" Ele brinca me fazendo rir

Lion termina o curativo e recolhe as coisas

" Obrigada Lion.... Eu vou dormir pessoal, Boa noite pra vocês..." Eu digo

" Boa noite Fox" Eles respondem

Logo eu estou na minha cama, exausta....

Eu não quero nem ver quando tivermos que ir pra uma missão de verdade....

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