Capítulo 8

...Charles Narrando...

Dormir comigo?

Bem, isso já era de se imaginar. Mas, dormir comigo não é a melhor escolha. Estou me segurando para não tentar nada com ela, pois sei que no final, ela irá ficar com medo de mim…

— Não, dormir comigo não será bom. Eu posso apenas ficar com você no quarto até que consiga dormir…

O olhar da Flora mudou e logo a mesma abaixou a cabeça e concordou. Me sinto culpado por isso, mas eu estou apenas tentando manter ela a salvo de mim! Após eu ter trocado de roupa, fomos para o seu quarto, fechei a porta e fiquei sentado ao lado da cama, enquanto ela se cobria por inteira.

— O que era aquilo, Charles?

Flora perguntou, então eu a encarei e disse:

— Algo que você nunca ouviu falar. Não precisa se preocupar com aquilo, agora vá descansar.

— Como aquela coisa poderia ficar com medo de você? Ela era enorme e imponente…

Sorri e direcionei o meu olhar para a parede do quarto.

— Você não me conhece, Flora.

— …

...[ No outro dia ]...

Deixei a Flora em casa fazendo o café da manhã e aproveitei para ir na casa de uma velha conhecida da minha família. Essa senhora é uma curandeira, ela que me ajuda quando a minha fera interior tenta sair. Preciso saber o motivo daquele lobisomem ter aparecido por aqui.

Essa é a minha área e outros lobisomens não costumam ficar na cidade, pois sentem a minha presença e correm para o mais longe possível. Mas, porque esse se atreveu a ir até o meu terreno?

Na frente da cerca da casa dela, havia um círculo feito com sal. Ela costuma a usar para espantar espíritos malignos. Passei sem desfazer o círculo e quando fechei a cerca, ela já estava na frente da porta me esperando.

— Sinto a sua besta maligna brava.

— Pois…aconteceu algo inusitado ontem.

— Entre, tenho algo novo para você.

Ela abriu a porta para mim e eu adentrei. Quando sentei-me no sofá, ouvi uma voz melosa vindo de um dos quartos e logo uma silhueta feminina apareceu na sala.

— Mm…quem é a essa hora? E porque eu tive que acordar tão cedo, tia?!

Rosa, como se chama a curandeira, revirou os olhos e assim que a mulher me reconheceu, ela sorriu e pulou em cima de mim, mas eu rapidamente a afastei.

— Sou um homem casado, Fiona.

— O que? Então era verdade?! Mas…Charles…e aquele rolo que rolava entre a gente?!

Fiona é uma velha conhecida também. Passamos a nossa infância juntos e durante a nossa adolescência, costumávamos ficar na mata para fazer coisas impróprias. Quando ela foi embora, eu resolvi esquecer aqueles pegas e também, foi na minha juventude, tava tudo no passado e continuará lá.

— Já faz anos, Fiona. Agora somos adultos e você é uma mulher casada.

— Charles…pensei que continuaríamos com as nossas brincadeiras…

— Fiona, o Charles e eu temos coisas a resolver. Volte para o seu quarto!

Fiona resmungou e eu voltei a minha atenção para a dona Rosa. Fiona saiu dali nos deixando a sós, então a dona Rosa começou a dizer:

— Me comuniquei com um feiticeiro e ele me recomendou um remédio para acalmar a sua fera interior.

Rosa retirou um saco com algumas ervas secas do bolso, entregou-me e continuou:

— Cozinhe as folhas e beba o chá toda vez que sentir que a fera que está dentro de você quer sair. Ela vai acalmar o ser dentro de você.

— Vai funcionar mesmo? Sinto que a cada dia que passa, ela se torna mais forte e impossível de ser controlada.

— Imagino, mas só saberemos se vai funcionar, se você tentar.

Encaro as folhas secas e concordo com a cabeça.

— Um lobisomem está por essas terras e ele invadiu a minha área ontem. Eu quase me transformei, foi muito difícil controlar a minha fera.

— Outro lobisomem? Esse é o segundo que aparece em menos de meses!

— O que a senhora acha que eles estão procurando por aqui?

Rosa suspirou pesadamente, apertou a sua saia e então me respondeu:

— Eu não sei. Tome mais cuidado com a sua esposa, ela poderá ser um alvo fácil.

— Farei ele ir embora. Sei quem virá esse bicho, então não deixarei ele passar em pune.

— Lobisomens são vingativos, tome cuidado.

Fico de pé, coloco o saco no bolso e digo, enquanto me afastava dela:

— Ele tem que tomar cuidado, não eu.

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