Heitor...
Não gosto nada dessa ideia! Não quero me casar, mas também não posso deixar o Augusto na presidência da Coffee of Gold, pois ele vai levar a empresa à falência.
— Não tem saída, o seu pai deixou claro no testamento que o presidente da Coffee of Gold precisava ser casado.
A expressão severa de minha mãe não deixa dúvidas de que ela está decidida. Seus olhos carregam um misto de frustração e determinação.
— Ele fez isso de propósito! Sempre dizia que eu tinha que casar e formar uma família. “Um homem sem família não é um homem”, era o que ele sempre repetia — Respondo, com a voz embargada de raiva.
— Tem a Elisa. Ela ama você, filho. É de uma família poderosa como a nossa. — Ela sorri de canto, como se estivesse propondo a solução mais óbvia do mundo. — Imagine unir nossas famílias; seria magnífico.
Reviro os olhos e passo a mão pelos cabelos, já sem paciência.
— Eu me arrependo de ter voltado. Estava muito bem em Tóquio!
Minha mãe ergue o queixo, indignada, seus lábios se contraem em uma linha fina.
— Você é o único filho homem do seu pai. Sua irmã, além de ser mulher, não tem juízo nenhum. Só se envolve com gentalha.
— Não fale assim, mamãe. — Digo com firmeza, encarando-a. — O namorado da Florença é uma boa pessoa. É honesto e trabalhador.
Ela arqueia uma sobrancelha, descrente.
— Sério? Ele é barman! Tem o Henry, um advogado famoso e de sucesso, se arrastando por ela, e o que ela escolhe? Um rapaz que não tem nada para oferecer — sua voz carrega um desprezo.
— Que horror, mãe! O que importa é que eles estão felizes — falo indignado.
Ela ri, mas é um riso amargo, carregado de cinismo.
— Ela está feliz porque tem dinheiro e amor. Tire o dinheiro e o amor desaparece.
Sinto meu rosto queimar de indignação.
— Não vou ficar aqui escutando isso — Viro-me para sair.
— Só disse a verdade — ela dá de ombros, como se suas palavras fossem irrefutáveis.
— Vou marcar um jantar e chamar a Elisa.
Paro na porta, sem olhar para trás.
— Eu não estarei aqui.
— Vai sim. Ela é a noiva perfeita. A família dela é a maior produtora de cacau, e nós de café. — Sua voz soa triunfante, como se já tivesse decidido meu futuro.
Giro nos calcanhares, com os olhos faiscando.
— Eu não vou casar!
— Vai, pelo bem da nossa família! — ela insiste, sem pestanejar.
Respiro fundo, tentando manter a calma, mas minha mandíbula tensa me trai.
— Não tem saída, Heitor — ela diz com um tom mais baixo, mas cheio de gravidade — restam apenas quinze dias. Se você não anunciar o noivado, Augusto assumirá a presidência da empresa. Sabe muito bem que ele nos levará à ruína.
Meu peito aperta. Sinto o peso de suas palavras.
— Não entendo. Vim de Tóquio, deixei a presidência de uma grande empresa para reerguer a Coffee of Gold. Hoje, ela está no topo porque eu a coloquei lá! — Digo, a voz carregada de frustração.
— Seu pai sempre quis o melhor para você.
Olho para ela, com um sorriso triste.
— Nem sempre o que os pais querem é o melhor para os filhos.
Ela suspira, mas não recua.
— Eu não vou casar. Não quero uma mulher ao meu lado, não quero amar. Sabe muito bem o que aconteceu da última vez que amei alguém.
Minha mãe desvia o olhar, desconfortável.
— Você não tinha controle, meu filho. Foi um mal-entendido, e ela não soube lidar com a situação.
Fecho os olhos, tentando afastar as memórias dolorosas.
— Eu errei, mamãe. E esse erro levou a uma tragédia.
Ela se aproxima, segurando minhas mãos com firmeza.
— Você não errou. Apenas a amava demais, e isso a levou a fazer o que fez.
Solto minhas mãos, afastando-me.
— Eu a matei. — Digo, a voz baixa, quase um sussurro.
Ela arregala os olhos, a dor estampada em seu rosto.
— Não diga isso, meu amor. Você não a matou.
Viro-me para sair, com os ombros tensos.
— Vou para a empresa.
— Vá, meu querido. Ela murmura, resignada.
Na empresa, minha frustração aumenta ao encontrar Augusto em uma reunião sem meu conhecimento.
— Senhor Heitor, sinto muito, mas seu tio disse que sua presença não era necessária. — Diz a secretária, visivelmente nervosa.
— Saia da porta! — Falo friamente, com o olhar gélido, entro e o idiota me encara.
— Querido sobrinho — Augusto sorri, debochado, recostado na cadeira.
— Escute aqui, Augusto. Aproveite seus últimos dias de reinado. Vou casar ainda nesta semana.
Seu sorriso se alarga em puro sarcasmo.
— Onde comprou a noiva? Veio de Tóquio? É uma boneca robótica?
Sinto o sangue ferver.
— Vai para o inferno! Você é uma escória, um imprestável! Sempre soube que mostraria seu mau-caratismo na primeira oportunidade.
Ele dá de ombros, ainda rindo.
— Querido sobrinho, não tenho culpa das condições do testamento do meu velho irmão. Agora, com licença, vou continuar minha reunião.
Aproveite enquanto pode.
Saio da sala e vou direto ao meu escritório. Sento-me na cadeira e começo a pensar freneticamente.
“Não quero me casar com Elisa. Preciso de outra noiva, alguém que aceite um casamento de fachada. Sem sentimentos, apenas um contrato.”
O telefone na minha mesa toca, tirando-me dos pensamentos confusos.
— Fala, Sícera. – Atendo, sem esconder a impaciência.
— O senhor Rodolfo está aqui.
— Mande-o entrar.
Não demora muito e ouço as batidas na porta.
— Pode entrar, seu cachorro! — Falo com um meio sorriso, tentando aliviar o peso do dia.
Rodolfo entra com aquele ar despreocupado, o sorriso canalha estampado no rosto.
– Elas adoram um cachorro. – Ele diz, debochado.
— E aí, irmão? Como estão as coisas? – Ele pergunta, se jogando na cadeira em frente à minha mesa como se fosse o dono do lugar.
Solto um suspiro pesado e esfrego as têmporas.
— Estou ferrado! Em um beco sem saída. Vou ter que casar.
Rodolfo arregala os olhos por um momento, mas logo solta uma gargalhada.
— Então, vai pedir a mão da Elisa?
— Não. – Respondo, cruzando os braços e encarando-o. – Já não basta ser obrigado a casar! Vou me casar, mas serei eu quem escolherá a noiva.
Ele levanta as sobrancelhas, interessado.
— Mas a Elisa é caidinha por você. Seria mais fácil.
— Justamente por isso. — Respondo com firmeza. – Quero uma mulher que não tenha sentimentos por mim. Alguém que aceite um casamento de fachada, com contrato de um ano.
Rodolfo encosta-se na cadeira, coçando o queixo enquanto um sorriso divertido se forma em seus lábios.
— É uma ideia maluca, mas até que é boa.
— Vou oferecer uma boa quantia em dinheiro. — Continuo, determinado.
Ele ri, balançando a cabeça.
— Você já tem a pessoa certa: a maluca que quebrou o vidro do seu carro ontem. Aquela doida. — Diz, com um brilho malicioso no olhar.
Franzo o cenho, confuso, mas logo a lembrança da garota volta à minha mente.
— E você sugere o quê? Usar isso para ameaçá-la?
— Exatamente. — Ele responde com um sorriso astuto. — Faça ela assinar o contrato de casamento. Será uma boa lição para ela.
Sorrio, vendo o plano tomar forma na minha mente.
— Você é um gênio! E tem mais — continuo, animado. — Aquela louca não é feia, muito pelo contrário. É bonita, só é meio caipira, o que vai tornar isso muito mais divertido. Já imaginou ela na mesa de café da manhã com sua mãe? Ela vai surtar!
Solto uma gargalhada, já imaginando a cena.
— E se ela for rica? Aquela universidade é cara.
— Deve ser bolsista. Vi quando ela desceu do ônibus.
Minha mente começa a trabalhar rápido.
— Agora só preciso encontrá-la.
— Isso é fácil. — Ele diz com um sorriso convencido. — Basta ir à universidade.
Levanto-me, já decidido.
— Vou fazer isso hoje mesmo.
Após me despedir de Rodolfo, ligo para o meu advogado, pedindo que redija o contrato de casamento. Em seguida, faço contato com um amigo que trabalha na universidade e peço os dados de todos os bolsistas. Não demora para ele me enviar a lista por e-mail.
Ao abrir o arquivo, começo a vasculhar as informações. Não levo muito tempo para encontrá-la: Elisabeth Soledade, 20 anos, cursa Letras, ganhou 100% de bolsa e tem notas altas.
— Te peguei. — Sussurro para mim mesmo, satisfeito.
Arrumo minhas coisas e vou direto para a universidade. Estaciono o carro em um local estratégico e espero. Não demora muito e ela desce do ônibus. Desta vez, espera o sinal fechar antes de atravessar. Ela é ainda mais linda à luz do dia. Um rapaz vai ao encontro dela, cumprimentando-a com dois beijinhos no rosto.
— Moleque — Resmungo.
Penso melhor e decido que será mais fácil abordá-la lá dentro. Saio do carro e a sigo à distância. Seus movimentos são leves, graciosos, e seus cabelos balançam suavemente com o vento.
Ela entra na biblioteca e eu continuo observando. Ela vai até as prateleiras, pega um livro e senta-se em uma mesa. Está tão concentrada na leitura que não percebe minha presença.
Aproximo-me lentamente, parando bem à sua frente.
— Boa noite — digo, com a voz firme.
Ela ergue os olhos e, por um instante, parece que viu um fantasma. Seus olhos se arregalam, e sua boca se entreabre em choque.
— Você… — Ela começa, mas sua voz falha.
Sorrio internamente. O jogo começou.
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Atualizado até capítulo 58
Comments
Ubiranildes Pereira
comecei lê agora já estou gostando
2025-02-11
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Evania Melo
Amando o começo da história ❤️. Divertida 🤣🤣🤣🤣🤣🤣
2024-12-16
0
Laura Boloko
Como eu imaginava trauma do passado
2024-12-05
0