Capítulo 18 : Guia turístico particular

Elizabeth…

Estamos a caminho de casa, desde que ele encontrou aquele homem, ele está estranho, não está mais alegre, nem parece o mesmo Heitor que estava comigo no restaurante. O que aquele homem disse que o deixou assim? Seu olhar está longe e triste, percebo uma tristeza profunda em seus olhos.

Será que devo perguntar se ele está bem?  

_ Heitor? Está bem?

_ Heitor? Heitor?_ Chama-o e ele parece estar em outro mundo.

_ Heitor? 

_ Oi! perdão, falou comigo? 

_. Sim, falei, está tudo bem com você? 

_ Sim, está tudo bem._ Ele fala segurando a minha mão, e força um sorriso.

Fico pensando no que aquele homem disse, quem é Sean, por que ele falou aquilo? Sou muito curiosa, o Heitor não vai me falar nada, e de uma coisa tenho certeza, aconteceu algo sério com essa tal Sean, e aquele tal Kenji odeia o Heitor. Dava para ver nos olhos dele que ele tem muita mágoa do Heitor. 

Seja o que for, eu descobrirei, eu sou curiosa, eu admito e não conseguirei dormir hoje pensando nisso.

Se a Clementina ou a Lucinda estivesse aqui, elas diriam: deixa esse assunto quieto, menina! Isso não é da sua conta, arrumará problemas. O negócio é que sou um problema, um problema bem grande!

Chegamos e o Heitor disse querer ficar sozinho um pouco. Ele foi para a biblioteca com uma garrafa de uísque, e eu vim para o quarto. Não foi assim que imaginei o meu fim de noite, e eu pensando que teria uma noite de amor, que ele faria comigo o que fez na piscina, e agora estou aqui, sozinha, cheia de perguntas e sem nenhuma resposta.

Se passam horas e nada do Heitor vir dormir, então decido ir até ele. Quando abro a biblioteca, fico espantada com a situação, parece que passou um furacão aqui, está tudo revirado, livros no chão, cadeiras jogadas e o Heitor não está.

Então decido voltar ao quarto e, quando passo perto do quarto da Florença, escuto a voz do Heitor, sei que é errado escutar atrás da porta, mas eu simplesmente não consigo não parar e ouvir.

_ Não foi a sua culpa! Está me ouvindo, Heitor? 

_ Foi, sim, Florença, eu a matei!

_ Não, não foi sua culpa para com isso, já se passaram cinco anos e precisa viver a sua vida, Heitor. A Beth ama você e você a ama, não pode deixar que o passado volte e destrua o amor que sente pela Beth.

_ Eu não posso ser feliz, flor, eu não posso. 

_Pode, sim, e será feliz, eu não deixarei que você se afunde de novo, não suportarei ver você sofrer de novo, a Beth é a sua chance de ser feliz e então será feliz.

_ Obrigado! Eu não sei o que seria de mim sem você, te amo.

_ Eu também te amo! E pode sempre contar comigo, vou sempre estar aqui.

_ Sei que vai.

_ Agora, tomará um banho e tirará esse cheiro horrível de uísque. A sua mulher deve estar pensando que você é louco, uma hora se declara e depois se afasta, vai lá dormir agarradinho com ela.

_ Boa noite, Flor!

_ Boa noite? Já são duas da madrugada!

Quando percebo que ele vai sair saio correndo para o quarto.

Deito na cama e finjo estar dormindo, meu coração está a mil por hora. Que coisa feia, Elisabeth ouvindo atrás da porta! Se eu estava curiosa antes, agora estou como um alcoólatra que provou a primeira dose e não conseguiu parar. Quem foi essa, Sean? O que aconteceu com ela? 

Ouço ele entrar no quarto e ir direto para o banheiro. Após um tempo, ele deita ao meu lado, dá um longo suspiro, depois me abraça bem forte.

_ Te amo!_ Ele sussurra no meu ouvido e beija meu pescoço.

Acordo com os beijos do Heitor, se há outra maneira melhor de ser acordada, eu desconheço!

_ Bom dia, dorminhoca!

_ Bom dia!

Ele me abraça e eu amo receber esse carinho, é tão aconchegante que a vontade é de não sair daqui nunca mais.

_ Vamos sair hoje!_ Ele pergunta. 

_ Não trabalhará hoje? 

_ Não, tirei o dia de folga.

_ E para onde vamos?  

_Há vários lugares, e então a senhorita precisa levantar para irmos logo.

Após lutar contra minha vontade de ficar deitada, tomo banho, faço toda minha higiene matinal.

Visto uma roupa casual, short jeans, uma blusa T-shirt, tênis branco, cabelos soltos e um óculos de sol, e para complementar o look, uma bolsa transpassada preta.

_ Uau! Que mulher linda! — Ele fala. 

_ São seus olhos! E você também está um gato!

_ Miau!_  Ele imita um gato e acho engraçado. 

Após tomarmos um café da manhã agradável sem a presença da minha sogra, “querida”. O que talvez tenha sido a falta da presença dela, que tenha tornado o café da manhã mais leve.

_ Para onde estamos indo? 

_ Fazer algo que eu nunca mais fiz, passear, ir a pontos turísticos, na verdade, não me lembro da última vez que fiz algo assim, sempre trabalhando, vestido terno e gravata, quando viajo é sempre a negócios.

_ Sério? Sempre quis conhecer os pontos turísticos daqui, quando tinha os passeios do orfanato, a Cármen não permitia que eu fosse, ela dizia: você não vai, é muito indisciplinada!

_ Sério? Essa mulher era uma pessoa horrível!

_ Se era! Tudo bem que eu era uma criança travessa, mas não justificava como ela me tratava.

_Por que nunca foi adotada? 

_ Tinha esperança de que meus avós fossem me buscar. Antes de morrer, minha mãe enviou uma carta avisando que eu havia nascido e que ela estava doente e que precisava que eles fossem me buscar.

_ As irmãs ficaram esperando que eles fossem, até eu completar meus cinco anos como minha mãe havia pedido, entao depois dos cinco entrei para lista de crianças para serem adotadas, eu lembro que um casal foi para me conhecer e eu me escondir, outra vez fugir.

_Depois estava crescendo e crianças maiores são mais difíceis de serem adotadas.

_ Nossa! Cada vez que ouço a sua história, eu fico impressionado. Tem vontade de conhecer seu pai?

_ Sabe que não sei! Agora, os meus avós, tenho certeza de que não quero! Quando criança e até uma certa parte da minha adolescência, queria que eles fossem me buscar, mas depois que fui crescendo e tendo noção de como eles foram cruéis com minha mãe, percebi que não tenho vontade de conhecê-los.

_. Mas agora não importa mais, eu sou a sua família e darei a você todo meu amor e cuidado._ Ele profere , segura minha mão e a beija.

Depois de um tempo, chegamos ao nosso primeiro ponto.

_ Agora, bela dama, eu serei seu guia turístico particular, com direito a tratamento especial. _ Ele fala com um jeito bem descarado.

_ E o que seria esse tratamento especial?

_ No primeiro momento em que estivermos sozinhos, eu a mostrarei. Mas já adianto que com esse tratamento ficará com suas bochechas coradas e sem fôlego. _ Ele fala e só de imaginar já sinto meu corpo queimar.

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