Capítulo 14

_ Um lanche, e nada mais! - falo estendendo a mão para ele apertar -

Zac aperta minha mãe, e em seguida me conduz para descermos até a sala, onde encontramos minha mãe conversando com Joana.

_ Não conte a ninguém que ele veio aqui, Joana. Não quero deixá-los preocupados comigo.

Acabo escutando quando minha mãe confidencia isso à Joana, e só posso presumir que ela estava falando do meu pai. Era óbvio que ele não a deixaria em paz, mamãe era casada com meu pai há muitos anos, e fazia tudo para ele em casa, e com certeza, sem ela, ele estava passando o pão que o diabo amassou.

_ Quem veio aqui, mamãe? O que não quer nos contar?!

Nesse momento, Joana se afasta um pouco de minha mãe, acredito que para mostrar que não havia falado nada em relação ao seu pedido. Ao ver o espanto de minha mãe, me aproximo, segurando em suas mãos

_ Fique tranquila, mamãe. Pode falar. Eu estou aqui para ajudar você!

_ Seu pai, minha filha. Não sei como, mas ele descobriu o endereço daqui e veio atrás de mim. Mas, lá fora mesmo botaram ele pra correr. Não queria preocupá-los

_ Dona Mara, eu e sua filha estamos casados agora. Não vai passar por isso sozinha, quanto ao seu ex marido, pode ficar despreocupada, eu vou dar um jeito. Agora, faça um lanche e descanse, todo esse nervoso não vai fazer bem a senhora.

Abraço a minha mãe e concordo com Zac. A aviso que já voltaria, e que seria bom se ela tentasse esquecer meu pai, que estando ali, ele não chegaria perto dela, que não poderia machucá-la. E assim, ela caminha com Joana em direção a cozinha. Era muito bom ver minha mãe fazendo amizade com alguém, Joana estava sendo um apoio para ela ali dentro, e isso me deixava feliz.

Entramos no carro de Zac, e me surpreendo quando o vejo parando no drive thru de fast food para pedirmos nosso lanche. Ele realmente estava mostrando um lado que eu não conhecia, e isso estava me deixando confusa. Peço meu lanche e ele o dele, logo, o vejo seguir para a praia

_ Nosso lanche será na praia? - pergunto com um sorriso -

_ Sim. Por que? Você não gostou? Pode ser em outro lugar que prefira!

_ Não, está ótimo. Apesar de ser um lugar bem romântico quando se vai a dois...

_ Você acha ? - ele pergunta fingindo não saber -

Sorrio, mas não respondo. Por mais que fosse de tarde, o tempo estava nublado, e a praia que Zac escolheu, estava vazia. Ele estaciona e em seguida pega uma toalha de mesa que ele havia colocado dentro do carro, ele tinha realmente pensado nisso e por dentro, eu estava sorrindo. Por mais que eu custasse muito a acreditar no que minha mãe havia me falado, esse comportamento dele estava estranho. Começo a pensar se não seria porquê sou idêntica a minha irmã, talvez, ele tivesse assim porque queria suprir a falta que sentia dela. Mas, tento afastar esses pensamentos, afinal, era só um lanche!

Forramos a toalha e colocamos o nosso lanche sob a mesma. Sentamos juntos e comemos em silêncio. Ao terminar, Zac recolhe todo o lixo e joga numa lixeira que estava no calçadão. Enquanto ele volta, o observo pela primeira vez, feliz, com um sorriso genuíno como se tivesse sendo o melhor dia de sua vida. Ele deita ao meu lado na toalha

_ Sabe Zac, foi bom ter vindo... Esses dias eu não estou me sentindo bem, não estou me sentindo feliz, é bom ter alguns momentos assim. - falo enquanto olho as nuvens de chuva a se formar no céu -

_ Tem razão... - ele fala enquanto olha pra mim -

Consigo perceber que Zac me olha, então, viro de lado para vê-lo direito e ele de imediato se vir para mim também. Por mais que estivéssemos um de frente para o outro, ainda tinha uma distância entre nós. Era a distância de segurança, não queria mostrá-lo que ele estava mudando meus pensamentos em relação a ele, eu não queria ceder...

_ Zac, eu não posso fazer isso. Não posso me envolver com você! Você se relacionava com a minha irmã e tudo isso que está sentindo pode ser por sermos iguais. Fora que ninguém muda assim de uma hora pra outra. Sei que não me perguntou nada referente a isso, mas eu não queria deixar dúvidas de nada.

Ele se aproxima mais de mim, ficando com o seu corpo e rosto bem perto do meu

_ Eu entendo. Mas, você não tem nada a ver com a sua irmã. Você é doce, e tem uma ingenuidade que fascina. Confesso que estou louco com tudo isso... com você... Mas, eu entendo. Não vou forçar nada, Lídia. Só quero que me dê uma chance de me aproximar, mesmo que seja como seu amigo. - ele fala acariciando meu rosto -

Eu não sei em que momento criou-se uma tensão entre a gente, mas era palpável. Seus olhos claros brilhavam em contraste com meus olhos escuros, e eu podia sentir que o desejo de selar nossos lábios não era só dele. Meu corpo respondia aos instintos do momento, eu queria sentir seu beijo, e por mais que eu tentasse domar essa vontade, eu não conseguia. Mas, como se tivesse ao meu favor, pingos fortes de chuva caem em nosso rosto, nos fazendo se apressar para voltar ao carro.

Levantamos e pegamos as coisas, correndo de volta para o carro, porque a chuva forte caiu em seguida. Estávamos rindo, molhados e felizes. Era difícil acreditar nisso, mas, só talvez, o casamento com Zac não precisaria ser tão ruim, poderíamos mesmo fazer ser tranquilo enquanto precisássemos estar casados.

_ Estamos completamente molhados. - ele diz rindo já dentro do carro -

_ Pois é! Bela ideia sua de vir a praia, né?!

_ Para! Você bem que gostou de vir. - rimos juntos -

Ele dirige de volta para casa, e quando chegamos rindo, gera surpresa até mesmo aos empregados. Nossa relação tinha mudado de maneira repentina, de um dia para o outro, e nem mesmo eu estava entendendo. Mas, para me trazer de volta a realidade, tinha alguém nos esperando na sala. Era um homem alto, bem vestido, parecia ser importante e não me surpreendo quando Zac diz

_ Dr. Felipe? Algum problema?

_ Sim, mas... Eu aguardo estarem prontos para conversar

Entendemos que ele falava das nossas condições, encharcados pela chuva. Mas, uma das empregadas desce com toalhas para nos secarmos, agradeço cordialmente e sigo Zac e este Doutor até um escritório que havia na casa. Eu não estava entendendo o que estava acontecendo, mas na mesma hora, pela mudança repentina de Zac, entendo que deveria agir como Lidiane.

_ Não querem se trocar primeiro? - ele pergunta -

_ A conversa será longa? - Zac o indaga -

_ Não! Eu só queria ter certeza de que está tudo certo com a ação extrajudicial que fizeram a respeito do casamento. Precisamos repassar alguma coisa agora que se casaram?!

Vejo ali uma oportunidade para descobrir o que não haviam me contado.

_ Quero repassar tudo que foi acordado. Desculpe, Doutor, mas eu quero ter certeza que me lembro de tudo.

_ Os principais pontos, que não devem esquecer, é que o único motivo pelo qual se casaram foi a fortuna que vai herdar de seu pai e o tratamento de sua mãe. Logo, a separação é imprescindível após os seis meses combinados. Ainda mais depois do combinado que fizeram um com o outro.

Vejo a expressão de Zac mudar na mesma hora, como se ele também tivesse esquecido de qual combinado era esse que ele havia feito com Lidiane, mas, eu precisava saber o que era. E antes que ele pudesse interromper o advogado, eu pergunto

_ Que combinado, Doutor? Se puder refrescar minha memória, ficarei grata.

_ Onde dizia que se Zac se apaixonasse primeiro, deveria pagar o valor de mais 300 mil a você e se caso fosse o contrário, você devolveria o dinheiro que ele havia pago, além dos custos médicos de sua mãe, não receberia nada.

Fico pensativa. Será que a mudança repentina de Zac era para me usar como pião? Era só ele fazer eu me declarar que eu teria que arrumar um jeito de dar a ele o dinheiro que Lidiane ganhou, e já que ele não tinha ela para se vingar, queria me usar para isso. Ele ainda devia achar que eu estava de complô com ela. Não era possível que aquele momento legal na praia iria acabar assim...

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